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Conheça a verdadeira história da torta na cara, a palhaçada mais repetida do cinema

4 de maio de 2016, por Letícia Magalhães
Cinema & TV

Vira e mexe, para criar uma situação cômica de riso fácil em animações, séries, filmes e, em especial, novelas, lá está ela: a torta na cara, ou sua evolução natural, a guerra de comida.

Criticada quando usada à exaustão ou sem motivo, a gag da torta na cara é comumente associada às comédias do cinema mudo. Entretanto, há muitos erros nesta associação: o humor era muito mais refinado do que se imagina na época silenciosa, e a torta na cara é mais antiga do que o próprio cinema.

Para a origem da palhaçada mais repetida do cinema, precisamos voltar aos tempos do vaudeville, mais especificamente aos anos 1890. Não se sabe quem lançou a primeira torta dentro de um teatro, mas se sabe que ela surgiu ali. Quando ainda havia garrafas com sifão para servir soda, elas eram também fonte de risadas, e foram transpostas também para o cinema silencioso.

A primeira torta na cara da história do cinema foi filmada em 1909. A honra histórica cabe à comédia Mr. Flip, de menos de quatro minutos de duração. Nela, Ben Turpin incomoda várias mulheres que estão trabalhando, até que uma garçonete se farta dele e joga-lhe uma torta na cara.

Mr Flip

Mr Flip (Foto: Reprodução)

Reza a lenda que foi uma segunda tortada levada por Ben Turpin, desta vez nos bastidores, que inspirou Mack Sennett a incluir a piada em um de seus curta-metragens. A partir de então, Sennett, considerado o pai da slapstick comedy, fez todos seus astros serem atiradores e alvos de tortas, entre eles Mabel Normand, Roscoe ‘Fatty’ Arbuckle, Ford Sterling e Charles Chaplin.

Nem todos os comediantes da época utilizavam as tortas para criar risos. Quando Buster Keaton conseguiu total controle sobre seus filmes, proibiu toda e qualquer tortada. Para ele, a gag era uma solução fácil e tacanha para se fazer comédia. Keaton preferia acrobacias ousadas, quase inacreditáveis, e humor sutil nos intertítulos (os cartões com texto que aparecem vez ou outra durante um filme mudo).

Mais associados com a torta na cara são os comediantes dos anos 20 e 30, em especial os Três Patetas e o Gordo e o Magro (ou Laurel and Hardy, no original). A grande sacada nestes filmes, nem um pouco original mas sempre eficiente, era que as tortas não atingiam seu alvo, mas sim outro pobre personagem que não tinha nada a ver com a briga.

O Gordo e o Magro

O Gordo e o Magro (Foto: Reprodução)

A maior guerra de tortas já vista no cinema é de 1927, e começa com outra gag muito associada ao cinema mudo: o personagem inocente que escorrega na casca de banana. A partir de então, a anarquia tem início, e três mil tortas são lançadas por todos os lados! Este filme, um dos primeiros de Laurel e Hardy como dupla, era considerado incompleto, mas foi recuperado em sua totalidade em 2015.

As tortas eram feitas de massa e um creme macio, e logo não eram só os personagens de carne e osso que as usavam como armas: as tortas começaram a invadir as animações, em especial às dos Looney Tunes. Afinal, não há situação cômica que mais combine com a irreverência de Pernalonga.

Cena de Pernalonga com Torta na Cara

Cena de Pernalonga com Torta na Cara (Foto: Reprodução)

A Corrida do Século, de 1965, é um filme ambientado em 1908, e nos apresenta orgulhosamente uma enorme e hilária guerra de tortas. O herói do filme, o Grande Leslie (interpretado por Tony Curtis), apesar de estar no meio da briga, sai quase ileso, pois nenhuma torta acerta seu belo uniforme branco até perto do grande final.

Esta é a maior, mas não a única guerra de tortas dos anos 60. O clássico Doutor Fantástico, de 1964 deveria terminar com tortas voando para todos os lados. Stanley Kubrick filmou a cena, mas como os atores não conseguiram ficar sérios durante a filmagem, Kubrick descartou a ideia e criou outro final. Até a aniquiladora guerra nuclear poderia ter acabado em torta!

Dr. Fantástico

Cena do filme Dr. Fantástico (Foto: Reprodução)

A torta ganhou seriedade e até conotação rebelde em alguns momentos. No filme A Difícil Arte de Amar, de 1986, por exemplo, Meryl Streep anuncia a Jack Nicholson que não aguenta mais e que o casamento deles está acabado ao acertá-lo com uma torta na cara.

O vaudeville deixou de existir, o cinema ganhou voz, cores, desafiou tabus. A televisão e o streaming chegaram. Mas a torta na cara continua firme e forte (ou seria macia e gosmenta?) como uma das gags mais conhecidas e adoradas mundialmente.

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