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Conversamos com Mike Mazooma, o artista responsável por manter vivo o legado do Rat Fink

25 de maio de 2022, por Mirella Fonzar
Design

Mike “Mazooma” é uma das principais atrações da 10a edição do Santa Catarina Custom Show, maior evento da cultura custom do Brasil, que acontece nos próximos dias 10, 11 e 12 de junho em Balneário Camboriú. Desenhista e pinstriper, o americano é um dos maiores representantes atuais da cultura custom nos Estados Unidos. O artista é um dos escolhidos pela família do finado Ed “Big Daddy” Roth para dar continuidade ao legado do personagem Rat Fink.

Símbolo da contracultura americana e da cultura da customização, o personagem surgiu nos anos 1950 como uma espécie de anti-herói do Mickey Mouse da Disney. Uma resposta de Ed Roth à perfeição típica do “sonho americano” no pós-guerra. Geralmente retratado na cor verde, de olhos esbugalhados e vermelhos, pés, boca e orelhas enormes, dentes afiados, verrugas e pelos pelo corpo, o rato é frequentemente visto dirigindo carros customizados ou motocicletas.

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Rat Fink (Imagem: Reprodução)

Ed Roth iniciou sua carreira vendendo camisetas consideradas “esquisitas” em feiras de carros no final dos anos 1950, e que se tornaram uma verdadeira febre. Junto com Von Dutch, seu design inspirou toda uma cultura voltada para a customização, seja através de hot rods, rat rods, tatuagens, pinstripe, brinquedos colecionáveis, camisetas, posters, etc. Hoje, sua arte segue viva através de sua família e de artistas como Mike “Mazooma” que dão continuidade ao personagem Rat Fink.

Aproveitando sua passagem pelo Brasil, conversamos com Mazooma para conhecer mais sobre o trabalho e entender mais sobre o icônico rato da cultura custom e seu criador. Confira!

Universo Retrô – Antes de mais nada, nos conte como você começou a desenhar. Foi durante a sua infância?

Mazooma – Eu nasci em San Diego na Califórnia e comecei a desenhar quando tinha uns 9 ou 10 anos. Durante todo o ensino médio e na minha juventude eu estava sempre desenhando. Eu tive aulas de arte na escola, mas eu só queria desenhar carros; nada de frutas, legumes, pessoas. Meus professores de arte ficaram loucos comigo, mas quando viam minha arte entendiam porque eu estava tão interessado em carros e não em frutas (risos).

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Mike Mazooma em ação (Foto: Reprodução)

Universo Retrô – E como surgiu essa paixão por carros, especialmente Hot Rods?

Mazooma – Quando eu era bem pequeno, um dia fiquei doente e meu pai comprou um kit para montar um carrinho de plástico e uma revista Hot Rod Magazine, para que eu lesse e construísse o modelo. Nos anúncios na parte de trás da revista tinham pequenas fotos de camisetas do Ed “Big Daddy” Roth e essa foi minha primeira exposição à cultura custom e ao trabalho do criador do Rat Fink. Depois que montei aquele modelo e fui olhando as revistas, queria cada vez mais e mais carros. Sempre tive carrinhos Hot Wheels, inclusive, eu ainda tenho alguns dos originais de quando eu era bem pequeno, que foram adicionados à minha coleção atual.

Universo Retrô – Que idade você tinha quando começou a colecionar Hot Wheels?

Mazooma – Comecei a comprar carrinhos Hot Wheels quando tinha três anos, foi nessa época quando eles foram lançados (1968). Eu devo ter 7 ou 8 desses carros originais ainda em minha coleção de mais de 50 anos atrás. Eu sempre gostei de carros, mas, a partir de então, eu queria mais revistas, mais modelos, qualquer coisa que fosse sobre carros. Naquela idade, era o que eu mais queria, o tempo todo.

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O apelido “Mazooma” é inspirado em falas do personagem original do Rat Fink (Imagem: Reprodução)

Universo Retrô – Voltando a Ed “Big Daddy” Roth. Quando você começou a acompanhar o personagem Rat Fink e o trabalho dele?

Mazooma – Naquela primeira revista que recebi do meu pai quando criança foi a primeira vez que ouvi falar em Ed Roth e tive contato com sua arte nos anúncios. Depois, quando eu tinha uns 14 anos, fui a um show de carros e vi o Ed pela primeira vez; apenas disse ‘oi’, comprei um boné e alguns adesivos. Havia uma fila muito longa de pessoas que queriam falar com ele e tudo mais, então, essa foi a primeira vez que o vi pessoalmente e realmente vi as camisetas sendo pintadas por ele no stand e toda aquela cena ali. Depois disso, fiquei absolutamente louco pelo Rat Fink.

Universo Retrô – Como você enxerga a importância de Roth para a cultura custom e como você acha que ele te influenciou?

Mazooma – Ele é a principal razão pela qual nós temos a cultura custom; suas ideias malucas e do Von Dutch lá atrás… basicamente eles são os mestres originais do pinstripe. Eu tive a oportunidade de ver esses caras pintando em vários lugares, como em um festival da Mooneyes, onde rolava uma festa de natal do Rat Fink, e eu pude vê-los fazendo pinstripes e pinturas. Poder ficar perto de todos esses caras, tudo isso foi uma grande influência para mim. Pude viver essa cultura o tempo todo, pois, apesar de morar hoje em Utah, morei no sul da Califórnia e ia o tempo todo para as feiras de carros e eu estava sempre perto deles.

Universo Retrô – E como você conheceu a família de Ed Roth?

Mazooma – Em 2010 a internet não era muito popular. Por isso, havia muito poucas imagens, muito poucos sites, informações, mas me deparei com algumas fotos de pessoas na Rat Fink Party e essa era uma festa como eu nunca tinha visto antes. Então, procurei mais imagens e mais informações e descobri que Ed Roth havia falecido aqui em Utah mesmo. Eu sabia que ele morava no estado, mas fiquei sabendo que todos os anos rolava uma festa para celebrar sua vida e, depois, sua morte. Então, mandei um e-mail para a Sra. Roth e ela me convidou para as reuniões que a família organizava todo primeiro fim de semana de junho aqui em Utah. Fui às primeiras reuniões e uma noite sentei com ela e conversamos por cerca de 7 horas sobre Ed e Rat Fink! Falamos sobre todas as coisas que ela experienciou e que eu experienciei tendo a ver com Ed.

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Mike Mazooma (Foto: Reprodução)

Universo Retrô – Como você começou a trabalhar com o Rat Fink e como surgiu o convite?

Mazooma – Eu realmente me tornei um bom amigo da família imediatamente depois daqueles primeiros encontros. Talvez um ano depois, comecei a viajar pelo país com o filho deles, indo para eventos todo fim de semana, vendendo camisetas, brinquedos, objetos colecionáveis ??e também vendendo minhas obras de arte e fazendo pinstripe, etc. Foi assim que tudo começou.

Universo Retrô – E você ainda trabalha com o filho dele? Como é seu relacionamento hoje com a família?

Mazooma – Eu estava na casa da Sra. Roth ontem à noite, antes de falar com você. Ela está adicionando novos itens ao museu e eu estava ajudando a construir algumas paredes e colocar o piso e, então, eu tenho muito bom contato e me comunico o tempo todo com eles, mais do que com Rat Fink (risos). Eu não viajo muito mais como antes, apenas faço alguns eventos esporádicos, como Viva Las Vegas Rockabilly Weekend (Nevada), Hot August Nights em Reno (Califórnia), Detroit Autorama (Michigan), entre outros eventos que faço stand com eles.

Universo Retrô – E o que a família dele pensa sobre Rat Fink e a cultura custom ter chegado no Brasil, um país com uma cultura tão diferente da americana?

Mazooma – Eu estava conversando com Sra. Roth outra noite sobre isso e ela disse que fica muito feliz que eu vá ao Brasil representar a família Rat Fink, além de achar incrível ter toda uma cena em seu país. A cultura custom ainda é algo muito novo para vocês; para nós, que vimos isso nascer, ver como o custom chegou até vocês e como entendem e conhecem do assunto, o Rat Fink, isso tudo é muito legal. Visitei a Lucky Friends em Sorocaba e pra mim foi muito legal ver o Rat Fink pintado na parede. Eu fiquei muito animado de ver que a cultura custom americana ainda está muito viva e muito forte e isso é algo relativamente novo em seu país, o que me deixa super empolgado quando eu vou aí.

Mazooma no Lucky Friends Rodeo em Sorocaba com amigos brasileiros (Foto: Arquivo pessoal)

Universo Retrô – Então você já esteve antes no Brasil. Conte-nos mais sobre isso!

Mazooma – Eu estive no Lucky Friends Rodeo Motorcycle em 2019, em Sorocaba, interior de São Paulo. Confesso que antes de conhecer a cultura custom brasileira, não fazia ideia de quão enorme seria tudo aquilo em seu país. Sem contar que eu não me divertia tanto em um evento em muitos anos; lá fiz melhores amigos para a vida.

Universo Retrô – Nem os brasileiros imaginam a dimensão dessa cultura por aqui (risos). Que bacana que você tem amigos no Brasil! Conta pra gente um pouco deles e como se conheceram.

Mazooma – Eu estava no Grand National Roadster Show, em Los Angeles, cerca de 9 ou 10 anos atrás. Já no fim do evento, um homem veio com sua família e alguns amigos olhar nosso stand. Eles estavam pegando bastante coisa pra levar e, no final, tinham duas caixas grandes de camisetas, brinquedos, entre outros objetos. Quando terminaram de comprar, percebi que aquele homem não estava se sentindo bem de suas pernas (ele tinha uma perna ruim), então, perguntei se ele queria que eu o ajudasse a levar as coisas para o carro que estava bem longe e ele aceitou.

Esse homem era Carlos Magno (Gabriela Toys) e, desde então, nos encontramos em outros eventos nos EUA e nos tornamos grandes amigos. Eu amo aquele homem! Quando fui ao Brasil pela primeira vez em 2019 e fiquei na casa dele com sua família. Ele é como um irmão para mim e é por causa dele que venho para o seu país. Sem o Carlos, eu nunca teria conhecido o Brasil, antes dele não fazia ideia que existia cultura custom aí.

Carlos Magno e Mazooma em uma de suas passagens pelo Brasil (Foto: Arquivo pessoal)

Universo Retrô – E como você conheceu a Lucky Friends?

Mazooma – Por causa do Carlos conheci o pessoal da Lucky Friends, o Flavinho, o Craig. Quando vou lá eu me sinto super bem, como se fosse da família mesmo. Voltei lá no verão passado por duas semanas e tivemos um dia super legal de pinstripe e participei de um vídeo com o Marcelo Lobão. Pouco tempo depois estava novamente lá com minha família do pinstripe e eu me diverti muito; quando estou aí nem dá vontade de voltar pra casa.

Universo Retrô – Qual a sua expectativa para o retorno ao Brasil no Santa Catarina Custom Show? É a sua primeira vez no sul do Brasil?

Mazooma – Será minha primeira vez nessa região, sim. Estou muito animado! Na minha primeira viagem ao Brasil, conheci o Rodrigo e a Mirella; eles haviam me convidado para o Santa Catarina Custom Show, mas, daí, veio a pandemia do Covid e paralisou tudo por dois anos. Estou muito animado para finalmente conseguir participar este ano e conhecer esse grande evento que ouço falar muito bem.

Mal posso esperar para estar perto de todas as pessoas que conheço e ainda vou conhecer, e ainda ver todos os carros e motos incríveis. Quando estou no Brasil, conheço tanta gente fantástica que penso que só queria falar com eles por horas e horas. Quando estou aí, simplesmente não quero voltar para casa, porque parece que vou deixar pra trás a minha família (fala emocionado).

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Mazooma em outro momento no Brasil (Foto: Arquivo Pessoal)

Universo Retrô – Como e quando você começou a trabalhar com pinstripe?

Mazooma – Eu sempre quis fazer isso, mas depois que tive filhos não tinha muito tempo livre para aprender, então, demorou um pouco. Eu fui começar a aprender pinstripe no final dos meus 30 anos, então, comecei a praticar. Eu ia a feiras de carros e conhecia um cara, que hoje é meu amigo e era o pintor-chefe de pinstripe do West Coast Choppers aqui em Los Angeles. Eu sempre assistia ele e os caras pintarem, foi aí que aprendi realmente todas as técnicas.

Universo Retrô – Você trabalha tanto com pinstripe como com desenho/pintura, dá pra escolher o tipo de arte ou algo que mais gosta de fazer?

Mazooma – Não sei, não tenho como escolher um trabalho preferido, mas me orgulho muito em poder criar e continuar o legado de Ed Roth. Hoje temos uns cinco excelentes artistas aqui nos EUA que têm a licença para vender Rat Fink como eu, artistas com estilos completamente diferentes. É muito legal ver como essas pequenas colaborações com a família Roth têm ajudado a perpetuar o legado do Rat Fink. Eu gosto muito das camisetas que fiz para eles, dos cartazes para eventos, enfim, tenho muitas peças de minha arte dentro do museu, então, não há realmente uma coisa em particular, me orgulho apenas desta oportunidade de poder continuar esse legado.

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Mike Mazooma (Foto: Reprodução)

Universo Retrô – Como é ser o cara que tem a responsabilidade de continuar o legado do grande Ed “Big Daddy” Roth?

Mazooma – É realmente uma grande responsabilidade, pois o personagem precisa ser levado para as pessoas de uma maneira positiva e quando vou fazer um evento, por exemplo, preciso ser capaz de representar bem a família Roth. Preciso mostrar para as pessoas que sou um cara gente boa e impacta-las de forma positiva com a minha arte. Fico feliz em poder ser a pessoa capaz de fazer isso, especialmente, poder ir ao seu país mostrar um pouco do meu trabalho e compartilhar informações sobre a família Rat Fink.

Universo Retrô – E quando você começou a trabalhar com o Rat Fink qual foi a sua maior dificuldade? Você consegue dar seu toque nos desenhos ou tenta seguir o original?

Mazooma – As pessoas geralmente esperam que o Rat Fink tenha um só visual como Edward fez, mas a verdade é que cada artista tem seu olhar sob o personagem e dá seu toque especial. Eu, por exemplo, faço tanto o Rat Fink tradicional, exatamente igual ao que o Ed fazia, como também faço minha própria interpretação do personagem. As camisetas personalizadas para o Santa Catarina Custom Show, por exemplo, fiz a minha interpretação do personagem para apresentar um pouco da minha arte e a do Ed juntos.

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Ed “Big Daddy” Roth e Rat Fink (Foto: Reprodução)

Universo Retrô – E o que você acha sobre o significado do personagem Rat Fink nos dias de hoje?

Mazooma – Rat Fink representa o personagem rebelde que não se conforma em ser um cara chique. Nos EUA, o chamamos de anti-Mickey Mouse, pois ele é o oposto do ratinho fofinho da Disney. Ele não escova os dentes, não lava o cabelo, não lava as mãos; só de olhar, você sabe que ele é um personagem underground e não o cara perfeito dos anos 50. Ele é o oposto do chique Cadillac, ele é um rat rod. O Rat Fink representa todas as pessoas na cultura custom que não pensam de forma quadrada, pessoas que pensam fora da caixa.

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