O México está em festa. No país, a morte possui outro significado. Em vez de lamentado, o Dia de Los Muertos é celebrado, durante os dias 31 de outubro a 2 de novembro (Dia de Finados, no Brasil). Sejam em suas casas, nas ruas e principalmente nos cemitérios; crianças e adultos se fantasiam, comem, dançam e levantam altares com retratos de entes falecidos, que são adornados de flores, velas, alimentos e muitas caveiras. O festejo tem como tradição reunir familiares e amigos para comemorar a visita dos antepassados a terra.
De acordo com a crença popular, durante os dias de festejo, os mortos têm permissão divina para visitar seus familiares e amigos. No dia 1° de novembro é a vez das almas das crianças voltarem, e no dia 2, os adultos. Além de todos os elementos que compõem a decoração, as pessoas se vestem e se pintam como esqueletos ou se fantasiam de mortos, para que os espíritos se sintam mais confortáveis no mundo dos vivos.
Quanto à culinária, alguns dos pratos típicos são o “pan de muerto” (“pão de morto”, em português), caveiras de açúcar, frutas, abóboras, água, tequila, sal e mescal. As frutas e a água são as principais oferendas às almas, pois representam a saciedade da fome e da sede, uma vez que o percurso feito pelos mortos até o mundo dos vivos é longo.
A data também é comemorada nos Estados Unidos, especialmente nos Estados onde há a presença de imigrantes mexicanos, como a Califórnia, Arizona e Texas.
Festa de origem indígena
Considerada pela UNESCO um patrimônio cultural da humanidade, o Dia de Los Muertos já era comemorado antes da chegada dos espanhóis à América no século XVI, pelos povos nativos mesoamericanos (astecas, maias, purépechas e totonacas). Sendo assim, a celebração antecede o cristianismo no continente.
Nesta época, a conservação dos crânios era comum, onde a finalidade era exibí-los como troféus durante os rituais do Dia dos Mortos, no nono mês do calendário asteca – que corresponde ao mês de agosto em nosso calendário.
O destaque da festa era a deusa Mictecacíhuatl, também conhecida como Dama da Morte, cuja figura viria inspirar a criação da famosa caveira mexicana La Catrina (nome que vem de “La Calavera de la Catrina”, ilustração do cartunista mexicano José Guadalupe Posada (1852-1913), um dos responsáveis por consolidar a data no país).
Os astecas tinham um entendimento completamente distinto sobre a vida e a morte. Em sua cosmovisão, elas não eram exclusivas, e sim integravam um mesmo progresso. A morte era compreendida como o fim de um ciclo e o início de outro, não havendo o conceito de céu e inferno. Para eles, o lugar de destino dos mortos não dependia de suas ações em vida, mas sim no modo como eles morreram.
A partir disso, havia três destinos para os mortos. São eles:
Omeyacan: Paraíso do sol, regido pelo deus Huitzilopochtli, deus da guerra e protetor dos astecas. Omeyacan era o destino daqueles que morriam em combate, sacrificados e mulheres que faleceram ao dar à luz.
Tlalocan: País de Tlaloc, deus da chuva. Um jardim repleto de flores e em abundância, destinado às almas daqueles que morriam afogados, atingidos por raios e por outras circunstâncias que envolviam água.
Mictlán: País das trevas, regido pela deusa Mictecacihuatl, que recebia as almas daqueles que tinham uma morte natural. É a terra da maioria dos mortos.
Com a conquista espanhola, se deu início um processo de fusão das duas culturas, onde os costumes locais foram misturados aos do catolicismo, originando assim o Dia dos Mortos modernos.
Referências na cultura pop
Toda a estética por trás do festejo do Dia de Los Muertos é uma grande referência da cultura pop. Basta fazermos uma busca no Google que seremos bombardeados por imagens de ilustrações de caveiras, catrinas e outros símbolos que remetem à data.
Ilustradores como Brian M. Viveros e Sylvia Ji viraram referência quando o assunto é Catrina. O trabalho destes dois artistas mescla a morbidez da tradicional personagem mexicana com a sensualidade de pin-ups, em traços realistas.
Seus elementos também estão presentes em outras comemorações como o Halloween, e até mesmo estampados em roupas e tatuagens; como uma forma de manter a cultura viva.
Pensando nisso, o coletivo feminino Pink Mink Mafia Brazil (São Paulo) realizou um ensaio fotográfico inspirado nas figuras das catrinas. Em parceria com o fotógrafo Marcelo Catacci, as integrantes do grupo foram clicadas caracterizadas como a personagem: maquiagem colorida, muitas flores na cabeça, véu, manta e crucifixo.
Dividido em duas partes, o ensaio externo aconteceu sob o Minhocão e na Santa Casa de Misericórdia Santa Cecília. Já as fotos internas foram feitas no estúdio do fotógrafo.
“Decidimos fazer este ensaio em comemoração ao dia de Los Muertos pelo fato da PMM abranger um âmbito latino. Ou seja, tem tudo a ver com a gente. Além do mais, também aproveitamos que a data de início da festa coincide com a do Halloween, e a partir deste dia, começamos a divulgar as fotos”, conta Barbara Wallery, atual presidente da Pink Mink Mafia Brazil.