Foto: Jokers Pub / Reprodução
Mais uma edição de sucesso do Psycho Carnival aconteceu entre os dias 20 e 24 de fevereiro, e ainda estendeu sua programação à Ilha do Mel, nos dias 25 e 26. Ao todo já se somam 21 edições do festival realizadas na capital paranaense durante o Carnaval nessas mais de duas décadas. Mas, como um evento de cunho underground conseguiu tamanha longevidade e alcance?
O motivo talvez se explique pelo fato de seus organizadores não se contentarem em viver apenas de passado, como acontece em muitas subculturas que cultuam estilos musicais que tiveram seu auge em décadas anteriores. O fato é que a dupla Vladimir Urban e Neri – as cabeças por trás do Psycho Carnival – não param de olhar para frente.
Num momento em que pouco se valoriza e incentiva movimentos culturais e músicos no Brasil, um festival underground se manter durante 21 anos na ativa – ainda por cima durante a festa popular mais famosa do País – é um verdadeiro ato político e de resistência.
A cada ano o Psycho Carnival se torna mais democrático, aberto a outros estilos musicais, ideias e convidativo para novos frequentadores; sem contar que, além de trazer lendas do Psychobilly, é responsável por nos apresentar grandes novidades e novas tendências do underground de modo geral – uma boa maneira de manter a cena em movimento e atualizada.
Line-Up diversificado em 2020
É exatamente essa a atmosfera presente na edição de 2020, segundo muitos de seus frequentadores. O que mais ouvíamos por lá era: “como é bom ter esse line-up tão diverso”. Apesar de ser ainda denominado um festival de Psychobilly, o Psycho Carnival vai muito além deste título. Este ano, contou com atrações de várias partes do Brasil e do mundo dos mais diversos estilos musicais.
Além do Psychobilly, rolou shows de Rockabilly, Surf Music, Bluegrass, Punk Rock, Hillbilly, etc. E como há tempos não acontecia, o festival resolveu incluir também no line-up o Ska. O Marzela de São Paulo se apresentou no domingo (23) e trouxe um show pra lá de animado. O ponto alto da apresentação foi quando a banda chamou a cantora Mari Schultz, de São Paulo, para uma participação e o vocalista do Guana Batz, Pipi Hancox, subiu espontaneamente ao palco para cantar “Ever Fallen in Love”, do Buzzcocks. O público foi à loucura!
Outro grande destaque do festival e que talvez mais represente essa abertura do Carnival para outros estilos musicais é o The Free Born Brothers, banda polonesa que se autodenomina uma orquestra de Punk Rock, Bluegrass e música cigana. Numa pegada bem teatral, com direito a acordeon, metais e banjo, o grupo fez três apresentações durante o festival; sendo a primeira na sexta-feira (21), no Jokers, no domingo (23), num evento gratuito no Amarilo Craft Beer, e terça-feira (25) na Pousada Coração da Ilha, na Ilha do Mel.
Assim como eles, o festival trouxe outras atrações que oferecem ao público uma louca e mágica experiência, quase que ritualística. Esse é também o caso do Frenetic Trio, de Londrina, que apresentou no domingo (23) seu curioso Power-Psycho com vocal que remete a um demônio e invoca um lado mais sombrio do Psychobilly. Para quem assiste pela primeira vez, é uma experiência completamente imersiva – parece que você está dentro de um filme de terror. Alguém nos conta como que o vocalista consegue atingir aquele tom de voz macabro?
Lendas vivas que fazem a diferença
Ainda representando o Power-Psycho, tivemos as lendas Os Catalépticos (Curitiba), fechando a noite de sábado (22), e Cenobites (Holanda), no domingo (23). Ambas as bandas com destaque mundial há mais de duas décadas são a prova viva de que Psychobilly é um estilo extremamente diverso e nada quadrado. Mesmo quando há um rótulo específico e uma determinada fórmula, dificilmente vemos algo parecido; as bandas são realmente únicas.
Para completar o time das lendas vivas, novamente esta edição contou com show do Guana Batz (Inglaterra), que fechou o evento em Curitiba nesta segunda (24). Uma das maiores referências da história do Psychobilly mundial, essa foi a terceira vez que o grupo se apresentou no Brasil. O primeiro show aconteceu em 1989, em São Paulo, e depois em 2016, quando a banda tocou pela primeira vez no Psycho Carnival – relembre acessando a entrevista que fizemos com eles, aqui.
Com a casa lotada, os britânicos provam que o tempo e a experiência só fizeram bem a eles. Com integrantes que já passaram dos 50 anos de idade, o quarteto não poupou energia do começo ao fim do show. Destaque para a presença de palco sempre incrível de Pip Hancox, que distribuía sorrisos e parecia estar muito confortável em se apresentar novamente no Brasil. Para se ter uma ideia, só o hit King Rat durou cerca de 10 minutos, tamanha era a empolgação da banda em repetir o refrão e ver o público ir à loucura.
37 bandas vindas de diversas partes do Brasil e do mundo
Além do Guana Batz (Inglaterra), The Freeborn Brothers (Polônia) e Cenobites (Holanda), o Psycho Carnival contou também com outras nomes de peso vindos da Europa, América do Sul e Norte: 13 Bats (Espanha), Ghost Bastards (Argentina), Los Ruido (México) e Cigaratz (Estados Unidos).
Bandas locais e que já se tornaram “must have” do festival também marcaram presença novamente nesta edição. É o caso dos curitibanos do Hillbilly Rawhide, que fecharam a noite de quinta (20), do Ovos Presley, que encerrou o line-up de sexta (21), e do trio de surf music de Piracicaba, The Mullet Monster Mafia, uma das atrações de segunda (24). Como disse um amigo, todas essas bandas são “jogo ganho”. Você já sabe que o show será incrível e realmente foram.
A lista de nomes nacionais e internacionais que participaram do Psycho Carnival é extensa. Ao todo foram 37 bandas que se apresentaram entre esses 7 dias de festival, entre Curitiba, Ilha do Mel, eventos pagos ou gratuitos. Para quem gosta de boa música com certeza essa edição do festival foi uma ótima maneira conhecer novas bandas, dar a oportunidade para quem está começando mostrar seu trabalho e para quem está na estrada faz tempo atualizar seu público das novidades.
Entre as apostas para as próximas edições, vale ficar atento às bandas Psycho Daime (Curitiba) e Voodoo Brothers (São Paulo), ambas acabam de lançar videoclipe; Spitifire Demons, que lançou EP, Davy e Os Jones (Americana), que promete também um novo vídeo para este ano, e Asteróides Trio (São Paulo), que lançou recentemente uma música sobre intolerância com transsexuais e vira e mexe lança novos materiais, entre tantas outras que se apresentaram no evento.
Um festival que fala a linguagem mundial
O Psycho Carnival é um festival que fala linguagem mundial. Não apenas por receber atrações e visitantes de várias partes do mundo, mas por enxergar a necessidade de expandir seus horizontes e diversificar suas atrações, já que o underground hoje em dia se fortalece muito mais se somar ao invés de dividir. E por ser um evento que preza pelo clima de respeito, união e diversidade, ainda sentimos falta de mais bandas formadas inteiramente por mulheres.
Nesta edição, tivemos um número maior de mulheres envolvidas no festival como um todo, o que é ótimo, porém ainda não tão expressivo como gostaríamos. As curitibanas das Cigarras e The Jorgettes tocaram num evento gratuito na Gibiteca de Curitiba, na sexta (21), enquanto no line-up oficial no Jokers Pub algumas bandas trouxeram integrantes mulheres. É o caso de Camila Lacerda, batera do Voodoo Brothers; a baixista e vocalista Taís da Rabo de Galo; a baixista Sara Delallo do Tiro Williams & the Wild Cowboys, além de duas participações especiais – Mari Schultz cantando com Marzela e Guana Batz, e a vocalista do Nausea Bomb, com o Mullet Monster Mafia.
Outro ponto interessante em relação à diversidade cultural é que este ano tivemos bandas vindas de regiões além sul-sudeste. É o caso da Jubarte Ataca, banda de surf music de Natal – Rio Grande do Norte, e Os Cabeluduro, punk de Brasília – Distrito Federal. A representatividade de bandas de outras regiões também é algo a ser levado em consideração. Percebemos que isso vem ganhando importância ao passar dos anos. Ponto positivo ao evento que só tem a crescer e amadurecer a cada ano.