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Editora do Universo Retrô posa como Mulher Maravilha para o Dia da Mulher

6 de março de 2020, por Mirella Fonzar
Lifestyle

Neste Dia Internacional da Mulher, comemorado anualmente em 8 de março, resolvemos ilustrar a nossa reflexão com um ícone da cultura Pop que virou símbolo do movimento feminista e, desde a década de 1940, até hoje personifica a força e beleza inerentes ao sexo feminino.

Com inspiração nos quadrinhos da DC Comics, eu, Mirella Fonzar, editora do Universo Retrô, encarnei a Mulher Maravilha neste editorial idealizado pelo novo projeto fotográfico de Thais Trindade, o Rock a Dream. Com fotografia de Enne SLS, o ensaio contou com produção de Thais e Vivi Marques.

ensaio pinup mulher maravilha

Foto: Enne SLS / Rock a Dream

Numa versão mais minimalista da personagem Diana, misturada a elementos do universo das Pin-Ups, o figurino traz as cores da heroína americana. Com hot pant azul marinho e top tomara-que-caia vermelho da marca paulistana All Right Mama, o look é arrematado com cinto de fivela e bota cowboy, dois ícones da cultura western e que traz um quê de amazona.

A Mulher Maravilha dos Quadrinhos

Criada pelo psicólogo William Moulton Marston, a Mulher Maravilha foi a primeira heroína da editora DC Comics, tendo sua primeira aventura publicada na revista All Star Comics #8 em dezembro de 1941. Em 1942 ganhou a sua primeira revista inteiramente dedicada a sua história e até hoje, 79 anos depois, continua sendo publicada.

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Foto: Enne SLS / Rock a Dream

Embaixadora das amazonas da ilha paradisíaca Themysira, a princesa Diana é filha da rainha Hipólita. Defensora da verdade e da vida, ela vai para o mundo dos homens para propagar a paz e o amor. Para isso, adota a identidade secreta de Diana Prince, uma enfermeira da Força Aérea americana.

Com habilidades super-humanas e seu laço da verdade, ela integra a Liga da Justiça e faz parte da Trindade da DC (Superman, Batman e Mulher-Maravilha), representando o equilíbrio entre os extremos dos personagens masculinos mais famosos dos quadrinhos.

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Foto: Enne SLS / Rock a Dream

A heroína da Segunda Guerra Mundial

Antes de mais nada, é importante ressaltar o cenário no qual a Mulher Maravilha nasceu para entender a sua importância. Estados Unidos, meados da Segunda Guerra Mundial. Arte Pin-Up em voga e o ideal feminino sendo ilustrado como entretenimento para os homens em guerra – a imagem de mulheres com pouca roupa em poses sensuais executando tarefas cotidianas. Em contrapartida, mulheres reais tomando o mercado de trabalho nos anos 1940  enquanto os “provedores do lar” estavam nas batalhas. Era o cenário perfeito para o sucesso de uma nova heroína feminina.

Antes da Mulher-Maravilha, a primeira mulher a aparecer em histórias em quadrinhos foi a personagem Ma Hunkel, na pele de Red Tornado, em 1940. A diferença entre as duas é que, para combater o crime, Hunkel não podia revelar que era uma mulher, então, ela aparece disfarçada de homem. A figura do “herói-heroína” por si só já era bastante caricata e refletia o pensamento da sociedade da época, pois ela trajava um cobertor como capa e usava uma panela como capacete, ou seja, com aparatos de uma típica dona de casa.

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Foto: Enne SLS / Rock a Dream

Até o começo da guerra, a figura do homem como herói do lar ainda era algo muito forte na sociedade ocidental. Era inimaginável que uma mulher, frágil, sem estudos, que dependia do marido financeiramente e tinha como única função afazeres domésticos e cuidado com os filhos, tivesse forças para ser considerada uma heroína. Mas, com a realidade da guerra tudo mudou. Os “heróis” estavam muito distantes para cuidar dos seus lares e elas tiveram que assumir este papel e se tornar parte da força trabalhista.

Neste cenário, em 1941, pouco tempo depois de Red Tornado, surge a Mulher Maravilha como reflexo dessa força feminina que dominava os Estados Unidos, mesmo que ainda em silêncio. A protagonista aparece nos quadrinhos com poderes à altura dos personagens masculinos e ainda numa estética bastante feminina, porém nada frágil ou sexualizada como as Pin-Ups. Por ser inspirada nas amazonas (mulheres guerreiras da mitologia grega) e encontrar uma sociedade sustentada por mulheres, acredita-se que a história veio a incentivar o surgimento de ideais feministas.

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Foto: Enne SLS / Rock a Dream

A personagem muitas vezes foi comparada a um cavalo de Troia por aparecer em várias histórias infiltrada em lares norte-americanos, ensinando crianças que o ideal de superioridade masculina é algo prejudicial para todos. Curiosamente, o discurso feminista ia de encontro com o estilo de vida do autor – algo totalmente oposto aos padrões da época. O psicólogo manteve uma relação poligâmica com a esposa e sua assistente, que dividiam a mesma casa – inclusive, a história virou filme em 2017, Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas. Ele acreditava que as mulheres dominariam o mundo.

Crise de identidade e ascensão

Com a morte de seu criador em 1947 e o início de uma onda de conservadorismo na sociedade americana do pós-guerra, que queria colocar as coisas de volta ao seus lugares, o protagonismo da heroína começou a enfraquecer. Com os homens já de volta para seus lares, as mulheres já não precisavam mais trabalhar, portanto, os ideais feministas, assim como a personagem, acabam sendo deixados de lado. Na década de 1950, já com outro roteirista, a Mulher Maravilha começa a aparecer como vítima para ser salva por outros heróis e acaba tendo seu visual mais sexualizado.

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Foto: Enne SLS / Rock a Dream

Desde então, a Mulher Maravilha mantém uma relação de altos e baixos com o feminismo. Na década de 1970, a atriz Lynda Carter é responsável por popularizar a figura de sex symbol da heroína em uma série de televisão que dura até 1979, porém, com a trama ainda bastante distante da personagem inicial.

Só em 2017 que a personagem parece retomar à sua essência inicial com o primeiro longa-metragem da franquia pela Warner Bros. Sucesso de bilheteria em todo o mundo, o longa é considerado o primeiro filme com uma mulher protagonista a atingir a marca. Um reflexo claro das mudanças sociais deste período.

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Foto: Enne SLS / Rock a Dream

Com previsão de lançamento para 4 de junho e um dos longas mais aguardados deste ano, o segundo filme da série da Mulher Maravilha – 1984 já promete grandes expectativas. Assim como o primeiro, é influenciado pela primavera feminista do século XXI e promete trazer pautas de relevância e empoderamento para as mulheres, algo muito mais próximo às origens da personagem lá da década de 1940.

Há quem acredite que a heroína hiper-sexualizada não passa de uma criação de um conceito irreal de mulher – com força sobre-humana, super sexy e ainda dependente de homens. Outros a consideram um símbolo de força e representatividade feminina. A questão é que, concordemos ou não, a protagonista abriu espaço para que personagens femininas deixassem de ser apenas princesas frágeis à espera da salvação e fossem transformadas em heroínas que fazem a diferença no mundo.

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Foto: Enne SLS / Rock a Dream

Personagens femininas fortes e com protagonismo em evidência na cultura Pop ajudam a empoderar as mulheres e quebrar estereótipos de gênero que têm sido ressaltados por tantos anos. Essa representatividade e projeção colabora com que muitas garotas acreditem em seu potencial. Com a ideia de que temos a força e podemos ser tão heroínas quanto eles, começamos a sonhar mais alto e buscar nosso espaço também em profissões e atividades antes ocupadas apenas pelo sexo masculino.

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Foto: Enne SLS / Rock a Dream

No fim das contas, mesmo sem armadura e poderes sobrenaturais, somos todas Mulheres Maravilhas em nossas singularidades. Prova disso é que quase metade dos lares brasileiros (e em muitos lugares do mundo) são sustentados por nós mulheres nos dias de hoje. Somos nós quem, na maioria das vezes, somos responsáveis pela criação dos filhos. Nos dedicamos quase o dobro do tempo dos homens às tarefas domésticas.

Somos as principais vítimas de violência doméstica e sofremos agressões, abusos, assédios e preconceitos a todo momento. E ainda somos cobradas o tempo todo em parecermos jovens, bonitas, calmas e padronizadas. Realmente é necessário uma força sobre-humana para enfrentar a vida no corpo de uma mulher. Somos todas heroínas da nossa própria história.

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Foto: Enne SLS / Rock a Dream

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