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Entrevista com banda punk inspirada no som dos anos 70 “Subalternos”

8 de abril de 2016, por Eduardo Molinar
Música
Os Subalternos

Que o rock brasileiro entrou em um ostracismo e se tornou obsoleto não é novidade para ninguém. Além de tudo, perdeu espaço para outros gêneros “festivos” e que não abrem a cabeça das pessoas. Vindo do underground paulista, a banda Subalternos procura ir contra essa maré e levar atitude e questionamentos ao seu público. Deedy (vocal), Cesar (bateria), Juliano (baixo) e Junior (guitarra) resgatam o som clássico do punk rock de 1977 e adicionam letras voltadas à realidade brasileira, da mesma forma que grupos como Cólera e Inocentes fizeram.

Os Subalternos, uma resposta a altura contra a humilhação que os governantes brasileiros (seja eles de “direita” ou esquerda”) nos fazem passar todos os dias, concederam uma entrevista ao Universo Retrô. Na conversa eles falaram sobre política, seus shows e a sua sonoridade, que nos coloca em contato com a realidade atual brasileira com um pé em 1977.

Universo RetrôA banda Subalternos começou em grande estilo. Abrindo o show dos Garotos Podres no Hangar 110 e depois com um show impecável e cheio de energia no Espaço Som. Como foi a recepção do público nesses dois locais?

Subalternos – Abrir o show no Hangar 110 foi uma ótima oportunidade de mostrar nossa música pra um público que estava lá para assistir a banda do Mao. O retorno foi bem positivo. Durante o show, já conseguíamos notar algumas pessoas tentando cantar o refrão das músicas. Na saída do palco várias pessoas vieram nos parabenizar pela apresentação e algumas destacaram que a sonoridade da banda remete ao punk rock 77/80, pra nós foi um grande elogio.

Já no Espaço Som estávamos mais à vontade. O retorno foi ainda mais positivo do que no Hangar 110, o público veio nos parabenizar não só pelas músicas mas muito pelo conteúdo das letras, e isso pra Subalternos é fundamental.

Os Subalternos ao vivo no Espaço Som

Subalternos ao vivo no Espaço Som. (Foto por Leonardo Gepp)

Univereso Retrô – Seu som é uma mistura do punk rock original de 1977 com o punk feito aqui no Brasil pouco tempo depois. Ainda há espaço para bandas autorais, mesmo no meio punk? 

Subalternos – Em nossa opinião, sempre há espaço para bandas autorais. Ainda mais hoje em dia onde as bandas fazem um som muito parecido uma com as outras. Um som genérico. Quem ouve nossa música percebe rápido nossas influências e os mais antigos, ou os que simplesmente curtem um punk rock clássico, se identificam quando isso é combinado com boas letras o retorno é consequência.

Os Subalternos no estúdio

Subalternos no estúdio com a mesma energia que no palco. (Foto por Leonardo Gepp)

Universo Retrô – O que levou vocês quatro a se juntarem nesse projeto, que tem músicas com letras e melodias que batem de frente com o sistema?

Subalternos – O mesmo ideal. O punk rock sempre foi uma ótima ferramenta para se dizer verdades. A cena de São Paulo já não tem a mesma força de anos atrás, e nem precisamos voltar tanto no tempo, então resolvemos arriscar e enfrentar a missão de fazer músicas com qualidade e com mensagens que as pessoas se identifiquem, e até agora vem dando certo, afinal recebemos muitos elogios e apoio, tanto de músicos como do público em geral que frequenta os shows e ouve nossas músicas pela internet.

Universo Retrô – Na música “Aos Verdadeiros” há uma passagem dizendo “sempre lutar, nunca correr”. Vocês acham que, devido à confusão política que se instaurou no Brasil, as pessoas estão lutando pouco e correndo muito? Qual a visão da banda sobre o momento político e econômico que o país atravessa?

Subalternos – A música é quase um “hino da amizade”, tanto que sempre falamos sobre isso antes de tocá-la nos shows. Realmente as pessoas não vem assumindo um papel fundamental na sociedade que é enfrentar, e quando falamos em enfrentar não é no sentido violento, mas bater de frente, cobrar mais, ter mais atitude e não viver em um mundo paralelo do tal do “tranquilo e favorável”. Já está na hora das pessoas entenderem que sozinhos não podem fazer nada, mas que juntos podem muito! Temos casos isolados no país em que a população se rebelou e mudanças foram acatadas pelos governantes. Seja por medo, represálias ou qualquer outra coisa o fato é que houve mudanças com a união das pessoas pelos mesmos ideais.

O país vive um de seus piores momentos políticos da história e com ajuda da internet vemos todos os dias que o Brasil está um caos! Muitas pessoas sendo demitidas, o transporte é caro, as escolas sucateadas, e a saúde pública é um lixo! E em meio a tudo isso vemos o desespero das pessoas, mas ao mesmo tempo muita gente querendo se mobilizar, vale citar os professores do país e os bravos alunos que resolveram enfrentar esse sistema podre! Precisávamos fazer alguma coisa e acreditamos que a música é uma ótima maneira de mostrar toda nossa indignação, repúdio e ao mesmo tempo levar entretenimento e informação as pessoas.

Universo Retrô – “O silêncio do povo o poder conquistou” é uma das primeiras frases da música “Estado”. Na página oficial da banda no Facebook vocês declaram que “Em pleno século XXI o cabelo moicano, as roupas rasgadas, coturnos e jaqueta de couro não representam mais a rebeldia, indignação e liberdade que esse movimento já foi, tampouco afrontam as autoridades e criam pânico como outrora”. Na opinião da banda, o rock and roll teria perdido a sua função, que é de fazer as pessoas questionarem de modo geral?

Os Subalternos – Há muito tempo! Principalmente o rock mainstream, aquele que realmente mama em tetas do governo e se alimenta do “sucesso” nas grandes mídias. Salvo poucas exceções, como é o caso do Titãs que às vezes lança em seu repertório alguma música de protesto, mas a maioria das bandas de rock do país vivem em um “mundo de conto de fadas”. O pior de tudo é que muitas dessas bandas de sucesso beberam da fonte do punk rock e foram mudando sua sonoridade ao longo dos anos, inclusive o desejo de questionar. Se a gente for falar sobre outros gêneros musicais como axé, sertanejo ou funk, daí podemos dizer que o país vive em um carnaval eterno!

Talvez por isso ainda nos identificamos tanto com o punk! Independentemente de sua vertente, seja ele street, oi! ou hardcore, vemos a verdade sendo dita em suas letras e mesmo sem apoio algum, as bandas continuam insistindo no underground porque realmente acreditam naquilo que estão fazendo, assim como nós, da banda Subalternos.

Acompanhe a banda pela no Facebook (aqui) e também no YouTube (aqui).

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