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Entrudo: conheça a antiga tradição carnavalesca que foi proibida no país

17 de fevereiro de 2023, por Leila Benedetti
Lifestyle
Entrudo

Quando se pensa nos primórdios do Carnaval daqui do Brasil, logo associamos com os desfiles de rua, as marchinhas e os bailes de máscaras. Essa imagem que ecoa na mente do senso comum, na verdade, remonta as festas do século XX e não a sua exata fase inicial, que era marcada pela tradição do Entrudo

Contando um pouco da história do Carnaval antes de explicar o que é esse tal de Entrudo, a festa se originou na Idade Média e tinha como base alguns elementos de celebrações mais antigas dos povos mesopotâmicos, gregos e romanos. A ideia da tradição medieval era “deixar o mundo temporariamente de cabeça para baixo”, onde, por alguns dias, a bebida alcoólica e outras “fornicações” eram altamente liberadas, e os eventos eram também marcados por brincadeiras, zombarias públicas, peças teatrais satíricas e fartura de alimento, inclusive de carne, que era inacessível para a maioria no resto do ano. 

Quando a Igreja Católica se consolidou naquela época, esta buscou controlar as festividades por considerar suas práticas pecaminosas. Para não acabar de vez com a alegria da população, o Carnaval foi mantido, mas criou o período da Quaresma, em que a população tinha que seguir umas regras rígidas e cheias de restrições por 40 dias, começando a contar pelo dia seguinte à da festa. 

A chegada do Carnaval no Brasil e o surgimento do Entrudo

Aqui no Brasil, as festas chegaram no período colonial pelos portugueses e, portanto, tinha muita influência da cultura europeia. Suas características já eram um pouco mais “inocentes” e já contavam com fantasias, máscaras e desfiles de rua como tradição, mas ainda sim havia uma pitada leve de violência e é aí que entra o Entrudo. 

A prática do Entrudo era uma tradição indispensável no carnaval brasileiro praticada sempre três dias antes da Quaresma. Seu objetivo era relembrar os “nostálgicos momentos da Idade Média”, portanto, os foliões promoviam “guerras” de tudo o que encontravam em casa, desde água, farinha e ovo até vassouras, limões de cheiro (bolas de cera com perfume dentro vendidas especialmente para a ocasião) e, pasmem, urina. 

O Entrudo era para todos. A população ia para as ruas da cidade ou nos campos da área rural para participar da tradição, a elite se dizia contra, alegando ser imoral, mas também praticava dentro de casa entre os membros da família. Moças preocupadas em comprometer suas reputações também aderiam à “brincadeira” da forma que podiam, jogando baldes de água sobre aqueles que passavam pelas suas janelas.

Entrudo
(O pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768 – 1848) retratou a tradição em uma pintura enquanto viajava pelo Brasil nas épocas de festejo. | Arte: Jean-Baptiste Debret)

A proibição

Entretanto, alguns aproveitavam a época do Entrudo para soltar todos os seus sentimentos negativos reprimidos durante o ano todo, ou até mesmo usavam a tradição como pretexto para poder se vingar bruscamente daqueles que os prejudicaram em algum momento do ano, tornando-a mais perigosa. Com isso, aliado à vontade de festejar o carnaval sem entrar em contato com a bagunça do Entrudo, a elite, principalmente a carioca, criou uma campanha pelo fim da tradição nos anos de 1840, chamando-a de “jogo bárbaro, pernicioso e imoral”.    

A campanha veiculada nos jornais brasileiros, sobretudo os do Rio de Janeiro, levou a proibição da prática em todo o país, porém os foliões ignoravam as ordens do governo e seguiam a tradição até o início do século XX sem nenhuma punição. Depois disso o carnaval foi ganhando novas formas de festejo e foi tomando a forma que conhecemos hoje, como o aparecimento dos bailes mascarados nos salões de clubes e teatros para a elite e os desfiles de rua para a classe mais baixa.

Entrudo
(O Entrudo era muitas vezes tema de charge nos jornais da época, geralmente em forma de crítica. | Arte: Reprodução)

Ficam-se os hábitos

O Entrudo pode ter sido extinto no Brasil, mas ele deixou um hábito entre os foliões durante as festas de carnaval que perdura até hoje – o de jogarem confetes e spray de espuma entre si. Há ainda aqueles que fazem isso de forma brusca, atirando o confete diretamente nas vias respiratórias do outro, por exemplo, mas nada como uma boa conscientização (e uma chamada de atenção em alguns casos) durante as festas. 

A água também é incluída na brincadeira algumas vezes, seja em forma de spray ou dentro de balões, afinal o carnaval no Brasil cai nas épocas de calor. Uma curiosidade é que o lança-perfume, sucessor dos limões de cheiro, também era munição para essas guerrinhas descontraídas e inofensivas, mas, conforme os anos foram passando, sua fórmula foi sendo cada vez mais alterada e se tornando mais nociva para a população, proibindo seu uso a partir de 1961. 

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