A cidade histórica de Tiradentes, localizada a 220 km de Belo Horizonte, recebe até domingo (13), a 6ª edição do Foto em Pauta, um dos maiores festivais de estímulo e promoção da fotografia nacional. Com a colaboração do Instituto Moreira Sales (IMS), o evento abre ao público a mostra Marcel Gautherot: o Jubileu no Santuário, que apresenta um acervo de imagens capturadas pelo fotógrafo francês em Minas Gerais, nas décadas de 1940 e 1960.
Considerado o “mais artista” dos fotógrafos do século XX, Marcel Gautherot frequentou a escola de arquitetura na Paris dos anos 20, período em que flertou com o movimento Bauhaus e Le Corbusier, mas foi a literatura de Jorge Amado, especificamente “Jubiabá”, que despertou no jovem simpatizante comunista a paixão pelo Brasil. Gautherot veio a se fixar no país em 1941, como uma espécie de escape do pré-guerras, e se dedicou a documentar o povo brasileiro e suas diversas manifestações culturais, segundo afirma um dos curadores da exposição, Cristiano Mascaro.
Os primeiros registros das viagens de Gautherot pelo país foram concedidos ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) criado em 1937 por Getúlio Vargas. O fotógrafo também contribuiu para a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, primeiro órgão permanente dedicado a esse campo, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. O fotógrafo ainda colaborou com Roberto Burle Marx em inúmeros projetos paisagísticos e a convite de Oscar Niemeyer, que o tinha como fotógrafo predileto, realizou a documentação fotográfica da construção de Brasília. Marcel Gautherot ainda foi freelancer da revista O Cruzeiro e prestou serviços para o Itamaraty e os Correios.
Gautherot e a formação da identidade nacional
Durante a carreira, Marcel Gautherot desenvolveu um estilo próprio e marcante, por sua vez batizado de “jornalismo científico”, mas veio do escritor Carlos Drummond de Andrade o grande título de “mais notável documentador da vida nacional”. O jogo abstrato de luz e sombra, o contraste predominante do preto e branco e a amplitude dos temas fotografados fazem de Gautherot um artista de dimensões épicas.
Abaixo, estão algumas das mais importantes obras do fotógrafo:
A classe trabalhadora brasileira
Um dos muitos temas que marcaram sua obra foi o trabalho, seja o dos camponeses de São Paulo, o dos pescadores do Nordeste ou o dos operários da construção de Brasília.
Olhar de “folclorista” de Gautherot
De acordo com o Instituto Moreira Salles, no campo da cultura popular, Marcel Gautherot analisou diversas regiões do país com curiosidade única, certo de que testemunhava uma manifestação “mais natural e fadada à extinção” da alma brasileira.
Aspectos da religiosidade mineira
Entre as imagens do acervo de Gautherot, os curadores do Festival de Fotografia de Tiradentes, Cristiano Mascaro e Eugênio Sávio, encontraram registros fotográficos com foco nas artes sacras e no estilo barroco mineiro. Um dos grandes destaques do festival é a série de fotografias do Jubileu do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos que intitula a exposição e explora a relação das famílias mineiras com seus símbolos religiosos.
O nascimento de Brasília
Uma das coleções fotográficas mais grandiosas de Gautherot é a das 4 mil imagens que documentam a construção de Brasília, entre o período de 1955 e 1960, com uma amplitude temática que capturam desde as linhas futuristas de Niemeyer até a marginalizada cidade dos candangos. Os registros sobre o nascimento de Brasília garantem a Gautherot o título incontestável de “principal documentador e divulgador da arte moderna brasileira”, com imagens publicadas em revistas do mundo inteiro no período de 1950 e 1960.
Mesmo sendo responsável pela construção da autoimagem nacional, Marcel Gautherot sofreu com a desvalorização da arte fotográfica no cenário brasileiro do seu tempo. Foi somente em 1995 que o fotógrafo realizou, na Casa França-Brasil, sua primeira exposição individual, acompanhado do livro Bahia: rio São Francisco, Recôncavo e Salvador. Marcel morreu em 1996, sem concretizar o sonho de transferir seu arquivo para uma instituição que zelasse por sua memória artística. Três anos depois, o Instituto Moreira Salles adquiriu os 21 mil negativos em preto e branco, além de cerca de três mil negativos coloridos que compõem o seu legado.
O Festival Foto Em Pauta termina neste domingo (13), mas a mostra Marcel Gautherot: o Jubileu no Santuário ficará em cartaz até o dia 9 de abril no SESI – Centro Cultural Yves Alves em Tiradentes. Outras obras do artista estão abertas a visitação pública no Instituto Moreira Salles (IMS) no Rio de Janeiro.
Serviços:
Instituto Moreira Salles (IMS)
Local: Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea, Rio de Janeiro/RJ
Tel.: (21) 3284-7400
Horário de visitação: de terça a domingo e feriados (exceto segunda), das 11h às 20h.
SESI – Centro Cultural Yves Alves
Local: Rua Direita, 168 – Centro, Tiradentes – MG
Telefone(s): (32) 3355-1503 / 3355-1364 / 3355-1604