Home > Design > Festival mineiro destaca obra de fotógrafo que registrou o Brasil durante os anos 40 e 60

Festival mineiro destaca obra de fotógrafo que registrou o Brasil durante os anos 40 e 60

12 de março de 2016, por Paula Ibánez
Design
Gautherot

A cidade histórica de Tiradentes, localizada a 220 km de Belo Horizonte, recebe até domingo (13), a 6ª edição do Foto em Pauta, um dos maiores festivais de estímulo e promoção da fotografia nacional. Com a colaboração do Instituto Moreira Sales (IMS), o evento abre ao público a mostra Marcel Gautherot: o Jubileu no Santuário, que apresenta um acervo de imagens capturadas pelo fotógrafo francês em Minas Gerais, nas décadas de 1940 e 1960.

Considerado o “mais artista” dos fotógrafos do século XX, Marcel Gautherot frequentou a escola de arquitetura na Paris dos anos 20, período em que flertou com o movimento Bauhaus e Le Corbusier, mas foi a literatura de Jorge Amado, especificamente “Jubiabá”, que despertou no jovem simpatizante comunista a paixão pelo Brasil. Gautherot veio a se fixar no país em 1941, como uma espécie de escape do pré-guerras, e se dedicou a documentar o povo brasileiro e suas diversas manifestações culturais, segundo afirma um dos curadores da exposição, Cristiano Mascaro.

Os primeiros registros das viagens de Gautherot pelo país foram concedidos ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) criado em 1937 por Getúlio Vargas. O fotógrafo também contribuiu para a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, primeiro órgão permanente dedicado a esse campo, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. O fotógrafo ainda colaborou com Roberto Burle Marx em inúmeros projetos paisagísticos e a convite de Oscar Niemeyer, que o tinha como fotógrafo predileto, realizou a documentação fotográfica da construção de Brasília. Marcel Gautherot ainda foi freelancer da revista O Cruzeiro e prestou serviços para o Itamaraty e os Correios.

Gautherot e a formação da identidade nacional

Durante a carreira, Marcel Gautherot desenvolveu um estilo próprio e marcante, por sua vez batizado de “jornalismo científico”, mas veio do escritor Carlos Drummond de Andrade o grande título de “mais notável documentador da vida nacional”. O jogo abstrato de luz e sombra, o contraste predominante do preto e branco e a amplitude dos temas fotografados fazem de Gautherot um artista de dimensões épicas.

Abaixo, estão algumas das mais importantes obras do fotógrafo:

A classe trabalhadora brasileira

Um dos muitos temas que marcaram sua obra foi o trabalho, seja o dos camponeses de São Paulo, o dos pescadores do Nordeste ou o dos operários da construção de Brasília.

Gautherot Trabalhadores

Café, c. 1943, São Paulo/ Puxada de xaréu, c. 1940, Bahia/ Congresso Nacional, c. 1958, Brasília.
(Foto: Reprodução/ Instituto Moreira Salles – IMS)

Olhar de “folclorista” de Gautherot

De acordo com o Instituto Moreira Salles, no campo da cultura popular, Marcel Gautherot analisou diversas regiões do país com curiosidade única, certo de que testemunhava uma manifestação “mais natural e fadada à extinção” da alma brasileira.

Gautherot Folclore

Carnaval de rua, c. 1950, Rio de Janeiro/ Guerreiros (Folguedo), c. 1943, Alagoas/ Jogo de Capoeira, c. 1955, Salvador.
(Foto: Reprodução/Instituto Moreira Salles – IMS)

Aspectos da religiosidade mineira

Entre as imagens do acervo de Gautherot, os curadores do Festival de Fotografia de Tiradentes, Cristiano Mascaro e Eugênio Sávio, encontraram registros fotográficos com foco nas artes sacras e no estilo barroco mineiro. Um dos grandes destaques do festival é a série de fotografias do Jubileu do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos que intitula a exposição e explora a relação das famílias mineiras com seus símbolos religiosos.

Gautherot Religião

Romaria, c. 1947, Congonhas / Jubileu do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, c. 1950, Congonhas/ Romaria, c. 1950, Congonhas.
(Foto: Reprodução/ Instituto Moreira Salles – IMS)

O nascimento de Brasília

Uma das coleções fotográficas mais grandiosas de Gautherot é a das 4 mil imagens que documentam a construção de Brasília, entre o período de 1955 e 1960, com uma amplitude temática que capturam desde as linhas futuristas de Niemeyer até a marginalizada cidade dos candangos. Os registros sobre o nascimento de Brasília garantem a Gautherot o título incontestável de “principal documentador e divulgador da arte moderna brasileira”, com imagens publicadas em revistas do mundo inteiro no período de 1950 e 1960.

Gautherot Brasília

Cúpula do Senado Federal, c. 1958, Brasília/ Palácio do Planalto, c. 1958, Brasília/ Esplanada dos Ministérios, c. 1958, Brasília
(Foto: Reprodução/Instituto Moreira Salles – IMS)

Mesmo sendo responsável pela construção da autoimagem nacional, Marcel Gautherot sofreu com a desvalorização da arte fotográfica no cenário brasileiro do seu tempo. Foi somente em 1995 que o fotógrafo realizou, na Casa França-Brasil, sua primeira exposição individual, acompanhado do livro Bahia: rio São Francisco, Recôncavo e Salvador. Marcel morreu em 1996, sem concretizar o sonho de transferir seu arquivo para uma instituição que zelasse por sua memória artística. Três anos depois, o Instituto Moreira Salles adquiriu os 21 mil negativos em preto e branco, além de cerca de três mil negativos coloridos que compõem o seu legado.

O Festival Foto Em Pauta termina neste domingo (13), mas a mostra Marcel Gautherot: o Jubileu no Santuário ficará em cartaz até o dia 9 de abril no SESI – Centro Cultural Yves Alves em Tiradentes. Outras obras do artista estão abertas a visitação pública no Instituto Moreira Salles (IMS) no Rio de Janeiro.

Serviços:

Instituto Moreira Salles (IMS)
Local: Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea, Rio de Janeiro/RJ
Tel.: (21) 3284-7400
Horário de visitação: de terça a domingo e feriados (exceto segunda), das 11h às 20h.

SESI – Centro Cultural Yves Alves
Local: Rua Direita, 168 – Centro, Tiradentes – MG
Telefone(s): (32) 3355-1503 / 3355-1364 / 3355-1604

Matérias Relacionadas
Daniela Petrucci
Daniela Petrucci: fotógrafa especializada em pin-up promove exposição na Antiques&Art SP
Perry Henzell
Perry Henzell: cineasta jamaicano tem seus filmes exibidos nos cinemas do IMS
Nirvana
Samsung Rock Exhibition promove exposição icônica da banda Nirvana no Rio de Janeiro
Silvio Santos Jovem
Exposição ‘Silvio Santos vem aí!’ tem data prorrogada no MIS

Deixe um comentário