Estudo clínico realizado na Turquia com 1540 voluntários entre 18 e 65 anos demonstrou que hits dos anos 80 auxiliam na redução dos sintomas da ansiedade. Para os pesquisadores do estudo, a relação da nostalgia com a medicina parece fazer mais sentido do que imaginávamos.
Ao submeterem os pacientes ao consumo musical de playlists temáticas do Spotify com faixas de Jazz, R&B, techno pop, entre outros gêneros, o estudo realizado pela Vera Clinic identificou, por meio da avaliação dos batimentos cardíacos e aferição da pressão arterial dos pacientes, que sons nostálgicos diminuíram 36% da frequência cardíaca e cerca de 96% dos entrevistados registraram uma diminuição da pressão arterial.
Em entrevista ao portal Metal Sucks, Doctor Avlanm??, um dos líderes do estudo afirma que: “os hits pop dos anos 80 podem desempenhar uma nostalgia positiva para muitas pessoas, e os sons agitados e festivos podem induzir a liberação de endorfinas e serotonina no cérebro, aumentando a sensação de felicidade e calma”.
De fato, a nostalgia nunca esteve tão em alta. No ano de 2020, a música pop oportunizou a retomada de muitos gêneros musicais visto, na maioria das vezes, como desatualizado. Álbuns consagrados como Future Nostalgia (Dua Lipa), After Hours (The Weeknd) e Chromatica (Lady Gaga) reviveram muito desses gêneros musicais e o modo como o mundo absorveu essas produções em um período pandêmico tem muito a nos dizer sobre o modo como lidamos com o passado nos dias atuais.
Mario Bressan Júnior, doutor em Comunicação, avalia que tanto música quanto produções televisivas, possui muito mais que um efeito de rememoração. Estudos clínicos como esses realizados pela VeraClinic reforçam a tese defendida em 2019 pelo pesquisador em torno da Memória Afetiva.
A música evoca sensações, desperta sentimentos, logo, ela desencadeia uma série de fatores psicológicos que precisam ser analisadas e entendidas do ponto de vista da psicologia, da medicina, entre outras áreas.
Estudo busca entender a relação da música, telas e nostalgia
Nesse cenário, a perspectiva sugere que novas pesquisas em torno dessa relação da música e nostalgia sejam observadas de forma cautelosa. Valdemir Neto é mestrando em Ciências da Linguagem pela Universidade do Sul de Santa Catarina e, atualmente, desenvolve um projeto de dissertação intentando-se compreender essa relação da música com as telas e sua proximidade com a nostalgia.
Segundo ele: “o movimento nostálgico que vimos no último ano parece reverberar, de algum modo, nossas inseguranças sobre o futuro. A possibilidade de resgatar esses períodos históricos e torná-los atuais parece não resumir apenas em um esforço mercadológico”, ressalta Valdemir.
Hoje, com o auxílio dos novos meios de produção, os videoclipes também já mostraram possuir um efeito positivo nesse resgate do tempo passado. Em um estudo recentemente publicado, “Músicas, Telas e Nostalgia: uma experiência estética-afetiva”, Valdemir e Mário discutem a importância dessa instrumentalização do passado, como forma de gerar um sentimento nostálgico no sujeito.
Para os autores, nostalgia e telas transcendem a materialidade sonora, visto que o aspecto imagético possui um forte apelo estético e afetivo. De acordo com Valdemir, “o que produções de cantoras como Lana Del Rey, The Weeknd nos mostram é que se a materialidade sonora por si só nos apresenta uma nostalgia positiva, o seu desdobramento sob o viés das telas também nos direciona a uma percepção em torno da memória teleafetiva, ou seja, dos afetos que são evocados por meio dessas telas”.
E aí, tem alguma hit dos anos 80 que te remeta boas memórias? Ou tem alguma música surfando nessa vibe nostálgica que gere alguma sensação de afeto?