Alguns ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial, que voltaram para os Estados Unidos após 1945, começaram a se sentir deslocados perante à monótona vida. Tentando socializar-se novamente, a ânsia pelo agito e pela sensação de liberdade atormentava aqueles homens. Eles haviam lutado contra regimes ditatoriais na Europa e encontraram uma ditadura enrustida na sociedade americana, que os marginalizava por serem soldados e por quererem um estilo de vida diferente da hipocrisia que reinava entre muitos americanos.
Esses homens começaram a se reunir em gangues de motociclistas, e passaram a ser reconhecidos como bikers. Com a falta de dinheiro que os assolava, suas roupas eram o mais simples possível. Camisetas, calças jeans e jaqueta de couro. Atrás das jaquetas, imitando os pilotos da Segunda Guerra, que gravavam o nome dos seus aviões nelas, gravavam o nome das suas gangues. Vários desses nomes foram inspirados em nomes de aviões bombardeiros. Era o início de uma nova era.
Se há um “marco” para o início de toda a rebelião juvenil que explodiu nos anos 50, esse momento é o “incidente” em Hollister, no estado da Califórnia, em 1947. Hollister, uma cidadezinha pacata com cerca de 4 mil habitantes, sediava a partir da American Motorcyclist Association (Associação Americana de Motociclismo), um evento que reunia corrida de motos e muitas festas. Na edição que ocorreu entre 4 e 6 de julho de 1947 houve um “problema”: a chegada em massa de motoqueiros.
Gangues como Pissed Off Bastards of Bloomington, Boozefighters, Market Street Commandos e Gallo Goose Motorcycle Club compareceram. A cidade era pequena, os motoqueiros eram muitos e queriam farra. Segundo jornais da época houve bebedeira sem fim, brigas, rachas de moto, confusões em geral causadas pelos motoqueiros que estavam festa. A polícia teve que intervir e há relatos de prisões e uso de gás de efeito moral para “acalmar” os bikers.
Após o término do evento, o resultado foi ruas cheias de garrafas de cerveja, lojas destruídas e muitos motoqueiros presos. Mas o principal resultado seria que o episódio em Hollister inspirou o filme que mudaria para sempre o comportamento juvenil: The Wild One (O Selvagem), estrelando Marlon Brando em 1953.
Brando interpreta Johnny Stanbler, líder da gangue Black Rebel Motorcycle Club, que atrapalha uma corrida de motos e depois ruma para uma cidadezinha pequena e causa confusões com a polícia e com os moradores. Totalmente inspirado nos eventos de 1947.
Wild One foi um marco na história do cinema e na história da sociedade em geral. Tal filme serviu de referência para milhares de jovens que estavam querendo se rebelar contra os adultos e contra o governo mas não sabiam como.
A figura bad boy encarnada por Marlon Brando foi a resposta para esses garotos que, entre eles, estavam James Dean e Elvis Presley. Estava definida a imagem do rebelde dos anos 50, com jaqueta de couro, jeans e botas, e o mundo nunca mais seria o mesmo.
No livro Rockabilly Brasil haverá alguns capítulos sobre pessoas que adotaram o estilo biker como estilo de vida, da mesma forma que os americanos fizeram. Um desses rapazes ficaria conhecido como Brando, pois, além da incrível semelhança com o ator, ele agia da mesma forma que Johnny Stanbler, o motoqueiro encarnado por Marlon.
Outras pessoas em São Paulo encarnam o estilo biker americano, como Jeff Billy, que também estará presente no livro. “Os verdadeiros rebeldes foram os bikers. O rebelde dos anos 50 (conhecidos como greasers) surgiram por causa dos bikers”, disse Jeff em entrevista.
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