Uma das grandes confusões feitas no mundo da música é ouvir ska e achar que está ouvindo reggae, ou vice-versa. Além das diferenças instrumentais e culturais, o reggae surgiu depois do ska, no final dos anos 60. Uma das primeiras figuras a dar forma a esse ritmo jamaicano foi o produtor Lee “Scratch” Perry, que por meio de trabalhos com grandes artistas e lançamentos independentes, levou o reggae da Jamaica para Londres e depois para o mundo.
Trabalhando com a venda de discos para estúdios no seu país natal desde os anos 50, Lee Perry começou a desenvolver sua habilidade em mixagens nos sistemas de sons. Em 1968, criou seu próprio selo, a Upsetter Records, e logo lançou seu maior single até então: “People Funny Boy” com o apoio da banda The Upsetters, sua banda de estúdio. Na canção são usados efeitos inovadores de um bebê chorando e uma batida compassada e rápida, que em pouco tempo seria identificada como reggae.
“People Funny Boy” vendeu 60.000 cópias apenas na Jamaica. Logo seu trabalho com os Upsetters chegou ao Reino Unido e foi atraindo a atenção de artistas ascendentes de reggae, ska e rocksteady como Bob Marley and the Wailers. Em 1970 ele produziu o single “Mr. Brown” dos Wailers e em 1973 abriu o estúdio Black Ark nos fundos da sua casa. Nessa altura sua fama já era grande e há uma lista distinta de notáveis artistas que ele trabalhou como Junior Byles, Junior Murvin, The Heptones, The Congos e Max Romeo.
Os lançamentos do seu selo se tornaram populares entre rude boys jamaicanos e ingleses. Na Inglaterra, a emergente subcultura skinhead e alguns punks passaram a acompanhar o trabalho de Perry com interesse. O som do Blac Ark Studio era criado a partir de um sistema básico de som, no entanto, esse mesmo som se tornou único e foi um dos grandes popularizadores do reggae.
Em 1977, a banda The Clash convidou Lee Perry para produzir o single “Complete Control”, o qual o jamaicano prontamente aceitou. Na parede do Blak Ark Studio, Perry havia fixado uma foto do Clash em meio a várias fotos de outros grupos jamaicanos. Nota: era o único branco que tinha uma foto no estúdio, pois Lee havia ouvido alguns trabalhos do Clash como “Police and Thieves” e “White Man in Hammersmith Palais”, que mixava pela primeira vez na história reggae e punk rock.
A carreira de Lee “Scratch” Perry continua ativa, produzindo novos e consagrados artistas pelo mundo todo. Seu trabalho foi essencial para a formação musical e cultural do reggae, principalmente na Inglaterra, utilizando sistemas de som básicos. A prova da sua influência foi que em 2003 ganhou o Grammy de melhor álbum de reggae com Jamaican ET. Em 2004, a Rolling Stone o colocou como o centésimo maior artista de todos os tempos, no ranking dos 100 maiores artistas de todos os tempos.