O mundo vive um fenômeno de culto ao passado, que avançou o universo da música e da moda e está entrando em outros segmentos da indústria cultural nos últimos anos. Podemos dizer que parte desse acontecimento é decorrente de um futuro imaginado que não deu certo; quanto mais os novos tempos chegam, mais as pessoas trabalham e menos se divertem. Dessa forma, o passado passou a parecer mais simples e reconfortante, apesar de também ter tido seus problemas.
Com o crescimento desse fenômeno, o mercado atingiu um novo público que tem uma relação afetiva com o passado, seja simpatizantes ou pessoas que buscam viver isso como estilo de vida, ambos se envolvem com essa cultura retrô muito mais pela emoção do que pela razão. Enquanto os mais velhos olham para o passado com saudosismo sobre a própria juventude, para os mais jovens é o resgate de algo que não tiveram contato, mas que pode ser curtido graças ao avanço da tecnologia.
O velho e o novo se misturam
Com a internet, o velho se mistura com o novo e é possível amar tanto uma nova banda indie, quanto um cantor que nem existe mais. Épocas e estilos diferentes passam a viver no mesmo espaço, carregando o mesmo valor. Essa imersão ao passado muitas vezes acaba sendo imperceptível, quando menos percebemos estamos fazendo um revival de algo que gostávamos muito quando éramos mais jovens ou de algo que gostaríamos de ter vivido.
As costumeiras frases “saudades do tempo que não vivi” e “eu nasci na época errada” fazem cada vez mais parte do vocabulário dos jovens, que enxergam no passado um romantismo idealizado de uma época que, teoricamente, foi melhor. Isso fez com que esses novos jovens passassem a cultuar música, filmes, roupas e objetos antigos como um resgate do passado que dá mais prazer ao presente. Presente esse que parece não nos trazer nada tão novo que possa ser apreciado como grande novidade.
O culto ao passado
Claro, não é de agora que o “culto ao passado” é algo presente na sociedade. No filme de Wood Allen Meia-Noite em Paris, por exemplo, lançado em 2011, vemos um escritor que é apaixonado pelos anos 20 e, ao “viajar no tempo”, para a sua década preferida, encontra com Salvador Dalí, Luís Buñuel e outras personalidades da época e acaba descobrindo que aqueles que viveram nos anos 20, na verdade, também gostariam de ter vivido em uma época anterior.
Entretanto, essa é a geração que mais venera seu passado recente, talvez pelo fato de que dos anos 60 para cá, o mundo tecnológico evoluiu e tudo aconteceu tão rápido que é preciso fazer um pastiche do passado para entender realmente tudo que se passou.
O revival na indústria da moda
Parte desse grande revival deve-se principalmente à indústria da moda. Sabemos que a moda é cíclica e que está sempre resgatando algo. Porém, há uma exigência no mercado em que é preciso produzir cada vez mais rápido, os criativos passam a não ter mais tanto tempo para ter grandes ideias, então é mais prático reutilizar algo que deu certo no passado e trazer repaginado, do que tentar algo novo.
Apesar de ainda se manter as Semanas da Moda nas grandes capitais, nas fast-fashion não existe mais moda Outono-Inverno e Primavera-Verão. Se você entrar em algumas dessas lojas com frequência, perceberá que toda semana sempre há algo novo. Os ciclos da moda se tornaram mais curtos e fica impossível inovar, portanto, resgatar o passado é praticamente uma questão de produção e estratégias empresariais.
O esgotamento criativo como precedente para o revival
Percebe-se que isso acabou refletindo em todos os ramos como no cinema, design, publicidade e até mesmo na música, há um esgotamento criativo. Nos anos 60, houve o ápice do futurismo, e desde então, parece que não houve mais algo tão revolucionário. Tudo que temos visto é uma releitura de algo que já aconteceu, praticamente é quase impossível dizer que temos algo com traços novos de forma genuína.
“Adorar o passado” está no fato de ser algo único, com histórias incríveis, que relembram épocas e nos transportam para um centro de memórias afetivas, na maioria das vezes de forma positiva, voltado para boas lembranças. A internet se tornou o principal meio para esse fenômeno. Através das redes sociais têm sido possível resgatar e reciclar o passado por meio dos sites, blogs e vídeos, no qual pessoas compartilham seus gostos, experiências e até marcam encontros.
A internet como ferramenta para reviver o passado
Independente de qual seja seu interesse pelo passado, aqueles que antes se sentiam isolados, passaram a se encontrar em um grupo que dividem as mesmas paixões. As fronteiras ficaram menores e o acesso à informação passou a ser facilmente disseminado, assim como encontrar pessoas que têm os mesmos interesses.
Podemos dizer que, diferente das outras décadas, quando havia uma única “tendência” a ser seguida, hoje vivemos simultaneamente com diferentes culturas e temos a possibilidade de escolha para viver com todas elas ao mesmo tempo, ou se dedicar exclusivamente a uma. E o que mais podemos afirmar é que, como diria Cazuza, vivemos em “um museu de grandes novidades”.
Eu nasci retrô! Sou de 1971, mas desde pequeno curti tudo relacionado aos anos 50, carros, música, roupas, etc.
Hoje além dos 50’s, curto os 80’s, época em que passei parte da infância e adolescência.
Felizmente temos a internet e muitos sites que nos permitem relembrar essas coisas bacanas.
Vivas os 50’s, os 80’s e espero em breve ter saudade dos 2010’s!
Que demais o seu depoimento Alê :)