O que é ser punk? Ou melhor, muitos irão perguntar a você “o que é punk?” e “o que é punk rock? É aqueles caras que usam roupa preta e correntes?” (não, esses são qualquer coisa que imaginar menos punks). Há quinze anos, quando a internet estava engatinhando para a popularização e eu engatinhava a passos bem lentos para o meu ensino médio, comecei a ouvir e curtir Sex Pistols e seus ideais anárquicos (no sentido de bagunçar).
Ao mesmo tempo descobri que no Brasil algumas bandas também seguiam aquele tipo de som e de ideia: Cólera, Inocentes, Camisa de Vênus, Replicantes e outras mais. Fiquei empolgado, aquele movimento era música para meus ouvidos, era a independência que todo garoto (e garota!) busca quando está na adolescência. Queria conhecer mais daquilo.
Fui até a Exclusive, antiga loja de LP’s em Santa Maria (RS), e perguntei ao Betão, dono do lugar, que discos punks ele tinha ali. Betão arregalou os olhos e gritou: “Punk?! Quer saber o que é punk? Eu vou mostrar o que é punk!”. Ele correu pra dentro da loja e voltou afoito com um LP do MC5… colocou pra tocar a música Ramblin’ Rose. “Tá ouvindo? Isso é punk, guri. Não é só o cabelo espetadinho!”. Na época eu não entendi direito, mas aquele som de rock’n’roll do MC5, o que talvez meu avô chamaria de “bateção de lata”, soava bem punk pra mim.
Punk rock é música. É o retorno que o rock fez em meados da década de 1970 ao rock’n’roll dos primeiros anos, quando Elvis Presley e Little Richard traziam a sensualidade e a rebeldia de um novo som para plateias de adolescentes pela primeira vez. O próprio Chuck Berry, pai do rock and roll, quando ouviu God Save the Queen, dos Pistols, afirmou: “esses riffs (acordes de guitarra) e essa batida não tem nada de novo. Eu faço isso há mais de vinte anos”.
Realmente, o que os Ramones, Johnny Thunders and the Heartbreakers e os Sex Pistols estavam fazendo era trazer o bom e velho rock and roll às ruas e à rebeldia novamente. Então, o que diferenciava tanto o punk do rock? A política contida nas letras? As calças jeans rasgadas? Os jeans nos anos 1950 já eram considerados “roupa de delinquente” (vide os filmes de Marlon Brando e James Dean entre 1953 e 1955).
Se você assistir o filme Rebel Without a Cause (Juventude Transviada), estrelado pelo imortal James Dean, notará que antes dos adolescentes iniciarem uma briga utilizando canivetes (a primeira vez que isso aparecia no cinema mas que já ocorria nas ruas há certo tempo) o personagem de Dean afirma: “eu achava que apenas punks lutavam com facas!”.
A expressão punk significa marginal. Erroneamente é confundida com o sentido de “bandido”. O marginal é aquele que anda à margem, que não segue o fluxo, que olha e analisa o que acontece ao seu redor e escolhe seguir suas próprias ideias. Ele é visto como maluco, desajustado, a “ovelha negra da família”.
Novamente irão questionar: “mas pra ser punk não tem que usar moicano? Não tem que andar todo rasgado? Não tem que quebrar as coisas na rua?”. Não! Afirmo categoricamente que ser punk é muito mais que ouvir um som e utilizar um visual. Em muitos casos ser punk é você se posicionar contra o autoritarismo e quando chegar a sua vez você não repetir a atitude ruim que tiveram com você.
Ser punk pode ser você afirmar em seu trabalho ou até mesmo em sua casa: “esse é o caminho que eu vou seguir e vou dar o melhor de mim, mesmo que você não goste ou não faça isso”. Pare para refletir e verá que Muhammad Ali, o boxeador, tinha uma atitude punk quando confrontava a sociedade racista da sua época ao dizer “Sei aonde vou e sei o que é a verdade. E não tem por que ser o que você quer que seja. Sou livre para ser aquilo que quero ser!”.
O punk não está exclusivamente na música, na batida enérgica e acelerada, ou em ideias políticas. O punk está no comportamento. Não quero dizer que você deva ser comportado e aceitar o mundo como ele é, mas sim em ser fiel a si mesmo. O punk rock traz a sua mensagem por meio da música, seja de não aceitar as coisas ruins que o mundo tem a oferecer, seja de criticar o que está errado, seja de mostrar a todos que podemos ser melhores como pessoas.
Entretanto, ser punk é bem mais profundo que isso: é ouvir e entender a mensagem e aplicá-la em todos os aspectos de sua vida, utilizando ou não o visual punk. Ser punk é modificar seus ideais dentro de si e depois levar isso ao mundo, mostrando a todos que podemos ser livres, podemos ser justos e podemos ser aquilo que queremos ser, não importa a sua idade, a sua crença ou a sua profissão.
O som que me “capturou” há muitos anos com o MC5 me fez evoluir com o Clash (a banda mais eclética e politizada da História) e com os Sex Pistols. E o que me fez realmente compreender “o que é ser punk” são os versos simples, porém enérgicos e acelerados, dos Dead Kennedys, onde Jello Biafra afirma:
“Punk não é culto religioso, punk significa pensar por si mesmo. Você não é hardcore por espetar o cabelo quando um valentão ainda vive em sua cabeça!”. E tem mais: “Você ainda pensa que suásticas parecem legais, os verdadeiros nazistas comandam suas escolas. Eles são técnicos, empresários e policiais. Em um verdadeiro quarto reich vocês serão os primeiros a morrer!”. Jello Biafra afirmou, foi questionado pela sociedade e, ainda assim, vive sua própria afirmação. Isso, meus amigos, é ser um verdadeiro punk.
Ótimo texto. Bastante esclarecedor.
Presenciei tudo isso, ao vivo e a cores. Tudo começou com a música Promissed Land (Elvis Presley), no filme Homens de Preto. Depois disso, o Eduardo nunca mais foi o mesmo….nem “eu”… pois ouvi novamente músicas, até então escutadas por mim no rádio. Ele tornou-se eclético e pesquisou muito sobre vários estilos musicais, indo a campo, entrevistando pessoalmente, ouvindo opiniões diversas… country, rockabilly, punk rock, Raul Seixas e outros malucos beleza…Como todo pai “coruja” e admirador, parabeniza pela matéria. Conte com o apoio da família! Ketlyn e Allan devem estar orgulhoso de você! #Rockabilly Brasil