Home > Design > Piso de Caquinhos: das casas brasileiras dos anos 50 à arquitetura atual

Piso de Caquinhos: das casas brasileiras dos anos 50 à arquitetura atual

23 de janeiro de 2023, por Leila Benedetti
Design
Piso de Caquinhos

Foto de capa: Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

Não é nenhum espanto que muita coisa, tanto na arquitetura quanto no design de interiores, estão voltando a ser tendência. E, claro, o piso de caquinhos não fica de fora, afinal é um revestimento altamente clássico e tradicional de meados do século XX e que desperta fortemente a nostalgia de muitos, principalmente entre os paulistas daqui do Brasil

Assim como o filtro de barro, o revestimento é um daqueles itens vintage domésticos exaltados hoje em dia pelo seu preço acessível e por ser considerado ecológico. E, do jeito que está a situação econômica e ambiental aqui no país, o retorno desse tipo de piso veio a calhar. Aproveitando esta tendência, confira a história do piso de caquinhos. 

A história do piso de caquinhos

O crescimento frenético de São Paulo

O surgimento do piso de caquinhos foi meio que “uma fila de peças de dominó”. Começou entre os anos 40 e 50 com o desenvolvimento industrial na cidade de São Paulo, que acabou gerando um crescimento econômico que, consequentemente, fez a região passar por verticalizações, exigindo ainda mais do mercado arquitetônico, que, por sua vez, consolidou o polo cerâmico, uma das matérias-primas mais utilizadas para fazer pisos naquela época. 

A grande cidade crescia freneticamente, mas muitos de seus recursos vinham de suas cidades vizinhas que, na época, eram pequenas – as que hoje formam a região do Grande ABC. Essa informação é importante destacar, pois a indústria responsável pelo nascimento do clássico revestimento é a consolidada Cerâmica São Caetano, localizada na cidade de mesmo nome. Com cerca de três mil funcionários, a fábrica produzia pisos quadrados de cerâmica em três cores – vermelha, amarela e preta, sendo a primeira a mais popular e acessível.  

Cerâmica São Caetano
(Fachada da Cerâmica São Caetano entre os anos 40 e 50. | Foto: Reprodução)

Reaproveitando o que seria descartado

Mas, apesar do grande porte da fábrica, seu sistema ainda era mecânico e sua cadeia produtiva era precária, aumentando as chances das placas de cerâmica trincarem ou quebrarem durante a fabricação, levando-as ao descarte. Naquela época, os lares da classe operária eram predominantemente revestidos com piso cimentado. Seu aspecto monótono e cinzento fez com que um dos funcionários, que estava com a casa em reforma, pedisse permissão para usar as peças quebradas no piso de seu quintal, pedido este que a fábrica acabou concedendo. 

A partir daí, o descarte dos pisos quebrados foi substituído pelo chamado “processo de catação”, onde os funcionários eram permitidos pela diretoria da fábrica a recolher as peças para uso próprio. Com cada vez mais casas da classe baixa revestidas com esses cacos de cerâmica, esse estilo aleatório e único de cobrir o piso (e parcialmente as paredes e fachadas) acabou caindo no gosto da classe média paulistana, o que fez com que a fábrica quebrasse placas inteiras propositalmente para comercialização. 

Cerâmica São Caetano
(Anúncio do piso de caquinhos da Cerâmica São Caetano. | Arte: Divulgação/Cerâmica São Caetano)

De improviso nos lares da classe operária à tendência arquitetônica

De início, o piso de caquinhos era vendido em duas versões – uma com as peças todas vermelhas e outra, considerada “top de linha”, com peças vermelhas salpicadas com peças amarelas e pretas. Logo, outras empresas no ramo da cerâmica e em pisos no geral passaram a adotar o estilo e vender o revestimento tanto nas duas versões tradicionais como também em versões variadas, com peças de outras cores e tamanhos. Com essa variedade toda, o revestimento passou a ser usado para fazer desenhos nos pisos, transformando-os em “obras de arte”.

A tendência do piso de caquinhos também chegou a se expandir para o Rio de Janeiro, onde o revestimento aparece com menos frequência, mas mesmo assim marca presença. Porém, essa febre começou a diminuir nos anos 60 quando a classe média migrou para os recém-construídos condomínios de prédios, enquanto as classes mais baixas passaram a morar em lotes menores ou favelas. 

Piso de Caquinhos
(Conforme foram surgindo mais variações de caquinhos, o revestimento passou a transformar os pisos em obras de arte. | Foto: Reprodução)

O piso de caquinhos atualmente

Hoje ainda é possível ver algumas casas e salões comerciais antigos com esse tipo de piso nos arredores de onde era instalada a fábrica em São Caetano, assim como em bairros mais tradicionais de São Paulo. Entretanto, o piso de caquinhos original está ficando cada vez mais raro de se ver porque ele está sendo, aos poucos, substituído por outros materiais, devido a sua difícil manutenção e preservação. 

Mas um consolo para os nostálgicos e amantes do retrô e vintage é que o revestimento está voltando ao mercado com mais qualidade e tecnologia. A tendência agora é aplicar cacos de cores brancas ou neutras em casas contemporâneas, mas, claro, que podemos aproveitar esse retorno e personalizar essas novas peças para deixá-las com a cara dos anos 40 e 50. 

Retorno do piso de caquinhos
(O piso de caquinhos voltou a ser tendência, mas em cores brancas ou neutras. | Foto: Reprodução)

 

Matérias Relacionadas
Exposição Estrela: Cantareira Norte Shopping
Exposição Estrela: Cantareira Norte Shopping exibe brinquedos clássicos da marca
Portinari
Portinari lança revestimentos inspirados nos ritmos que fizeram a história da música
Design Kitsch
Design Kitsch: para uns é cafona, para outros uma tendência nostálgica
Autoramas
Autoramas completa 25 anos com nova formação e show no Sesc Belenzinho

Deixe um comentário