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Quando a banda punk Dead Kennedys esteve num festival pop nos anos 80

2 de março de 2016, por Norberto Liberator Neto
Música

Chamar punks para um evento destinado majoritariamente à música pop não deve ser lá grande ideia. Ainda mais quando se trata de uma banda que leva a contestação presente nas letras às últimas consequências. E foi exatamente o que aconteceu em 25 de março de 1980, quando o Dead Kennedys, a convite dos organizadores, se apresentou em um festival que servia mais ou menos como “show de calouros”.

Tudo se iniciou quando o movimento punk começou a tomar proporções cada vez maiores e, o que parecia uma moda passageira entre os jovens, acabou se consolidando como uma expressão artística muito forte. O estilo inglês se alastrava pelos Estados Unidos. Bandas começavam a tocar cada vez com mais velocidade. Era o início do Hardcore. E uma banda californiana sintetizava toda essa agitação: os jovens desordeiros do Dead Kennedys.

Claro que a mídia, em busca de pulverizar toda essa rebeldia em benefício próprio, quis se aproveitar disso e alavancar os caras. Era um mercado muito bom para ser conquistado. Foi assim que chamaram os DK para o festival Bay Area Music Awards, que funcionava como uma competição entre músicos emergentes, com a premiação de um contrato. Era a oportunidade para muitos se destacarem e entrarem no mundo mainstream. Mas os Kennedys eram uma banda que fazia músicas contra a polícia, contra as guerras, contra a própria mídia. Será que eles aceitariam? Pois é, aceitaram.

Dead Kennedys e fãs em cima do palco

Dead Kennedys e fãs em cima do palco (Foto: Reprodução)

Chegou o dia do evento. Já estava combinado: o DK tocaria a música “California Über Alles”. Pois bem, eles entraram no palco e começaram o riff da música. Porém, eis que em segundos, o vocalista Jello Biafra manda todos pararem: “espere! Temos de provar que somos adultos agora. Não somos uma banda punk, somos uma banda New Wave”. O compasso da música muda, com uma levada mais pop. E Biafra entra cantando uma série de alfinetadas: “estou cansado de respeito próprio, não posso nem comprar um carro, eu quero ser um astro pré-fabricado. Quero ser uma ferramenta, não preciso de uma alma, quero ganhar muita grana tocando Rock n’ Roll”.

O público, claro, mal sabia o que estava acontecendo. Enquanto isso, ele continua o papo: diz que vai tocar música lenta e chata, não tem ideias próprias e que quer só sexo, drogas e Rock n’ Roll. Isso seguido de uma pegajosa repetição: “babe, babe, babe, babe meu jabá”. E isso segue em frente. Sexo, drogas, Rock n’ Roll, grana e tudo mais. Detalhe para a vestimenta: toda a banda estava com camisas brancas com a estampa de um “S” e, sobre ela, uma gravata, formando… sim, um cifrão! Genialmente audaciosos.

Depois, uma pausa curta. Jello diz que tem apenas um problema, e explica o porquê com uma pergunta: “será que meu pau é grande o bastante, e meu cérebro pequeno o bastante, para que você me torne um astro? Dê-me uma farinha e te venderei minha alma, puxe minhas cordas e irei longe”. A plateia, perdida e sem reação, vibra e bate palmas. E ele repete o infame refrão. No final, diz que vai jogar golfe e usar umas drogas, seguido de um solo de guitarra.

Não é nem preciso dizer que eles não ganharam nada. Mas é claro que fizeram muito mais história do que qualquer vencedor. Até porque, não queriam ganhar mesmo. Só queriam fazer o que faziam de melhor: criticar tirando sarro, com rara inteligência. Pra quem quiser conferir a faixa, o vídeo abaixo, além de estar presente na compilação “Give me Convinience or Give me Death”.

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