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Rainha do Cangaço: Maria Bonita é inspiração para o Pin-Up do Mês

11 de julho de 2019, por Daise Alves
Ensaios FotográficosModa
Pin-Up Cangaceira

Sabemos que o termo pin-up tem grande influência nos Estados Unidos, pois foi lá, a região responsável pelo seu boom. Mas, como sabemos que esse é um tema bem abrangente e permite brincar com várias vertentes e nacionalidades, resolvemos trazer uma referência feminina brasileira para esse universo: Maria Bonita, a Rainha do Cangaço.

Como o Universo Retrô tem a missão de manter histórias vivas, sentimos que esse é um tema pouco explorado por aqui. Não só o tema do cangaço, como a próprio história do Brasil é deixada de lado e somos incentivados a nos aprofundar em temáticas mais internacionais, inclusive, na moda, onde estão as maiores referências da estética retrô.

Pin-Up Cangaceira

(Foto: Tainá Lossëhelin)

PIN-UP E CANGACEIRA. O QUE TEM A VER?

Os cangaceiros, que ficaram fortemente conhecidos na década de 1920 e 1930 no sertão do nordeste brasileiro com o bando de Lampião, estavam longe da estética pin-up. Inclusive, o termo ainda nem tinha explodido na época, o único contato com uma estética mais glamourosa era através do cinema, que ainda era escasso na região.

Mas, como referência feminina, Maria Gomes de Oliveira, ou Maria da Déa, que depois de sua morte ficou conhecida como Maria Bonita, a primeira mulher a participar do grupo e abrir as portas para novas integrantes, tem se tornado referência de força e resistência feminina no sertão brasileiro.

Rainha do Cangaço

(Tainá: Lossëhelin)

Como já vimos em As Mudanças do Universo das Pin-Ups ao Longo do Anos, sabemos que o termo nasceu como arte e vem se transformando em um movimento de lifestyle e moda composto por mulheres que cultuam a estética do passado e tentam resgatar e manter viva a memória de grandes personalidades femininas.

No caso do cangaço, é Maria Bonita a maior referência. Mulher de personalidade, transgressora para seu tempo, pioneira – tornou-se a primeira mulher cangaceira por escolha e não porque foi obrigada (uma das poucas, infelizmente) -, e virou a rainha do cangaço, em um espaço fortemente masculino.

Pin-Up do Cangaço

(Foto: Tainá Lossëhelin)

Apesar de não ter consciência nenhuma de classe, gênero ou política e nem ser um ambiente com muita união feminina entre as mulheres que faziam parte do grupo (parece que Dadá, companheira de Corisco, não era muito chegada na rainha), o fato de estarem onde estavam e como estavam, já era um ato de luta e resistência.

A ESTÉTICA DO CANGAÇO

Mesmo com alguns registros do cangaço feito por diversos fotógrafos, o sírio Benjamin Abrahão, foi o único a conseguir fazer registros em foto e vídeo do bando de Lampião, que deu sua permissão. Sem esses registros, a estética do grupo ficaria apenas no imaginário do povo brasileiro. Mas, graças aos seus cliques, mesmo que poucos (muito material foi perdido) e com pouca qualidade, devido à época, a estética do cangaço até hoje é inspiração para o mundo da moda.

Pin-Up Cangaceira

(Foto: Tainá Lossëhelin)

Suas roupas em tons marrom ou cáqui, tinham função de proteger do sol e dos espinhos e precisavam facilitar a locomoção. Cartucheiras, bordados, estrelas de couro, alpercatas, jóias, acessórios e, claro, o chapéu – maior ícone do “movimento” – compunham o dress code do cangaço, que virou um símbolo cultural do sertão e que inspirou não só a moda, mas diversas expressões artísticas como músicas, cordel, cinema e literatura.

No caso de Maria Bonita, ela estava sempre coberta de jóias, anéis em praticamente todos os dedos, muitas correntes em volta do pescoço e brincos de ouro, eram alguns dos acessórios que faziam parte de sua vestimenta.

Editorial Pin-Up Cangaceira

(Foto: Tainá Lossëhelin)

PARA O EDITORIAL

Poucos sabem, mas, minha família é nordestina, e eu nasci na cidade de Campo Formoso, na Bahia, que fica a 450KM de Paulo Afonso, cidade em que Maria Bonita nasceu. O que já deu uma grande motivação para esse trabalho.

Esse ano, inclusive, completa 90 anos do ataque de Lampião em Campo Formoso, que também ocorreu no mês de julho. Coincidentemente, Maria Bonita foi morta no dia 28 de julho, aos 28 anos. Eu tenho 28 anos e nasci no dia 28 de agosto. Além disso, como de praxe, julho e agosto, meses de aniversário do site, da Miss De-Lovely e meu, respectivamente, separamos para ser o nosso momento de Pin-Up do Mês. Muitas amarras para esse editorial acontecer, não?

Editorial Cangaço

(Foto: Tainá Lossëhelin)

Aproveitamos então o mês de julho, em que ainda estamos celebrando as festas juninas e julinas, que fazem parte da cultura do Brasil e que são muito fortes no nordeste brasileiro, e que também é o mês do falecimento do “Rei e Rainha do Cangaço” (Bonnie & Clyde do nordeste Brasileiro), resolvemos aproveitar a data para trazer a temática para o site.

Pensamos então em um figurino mais simples com tecidos que lembram couro, mas ainda dentro da estética pin-up, como a saia lápis, e complementamos com alguns elementos que lembram a ostentação do cangaço com brilho, remetendo às jóias e ouro, mas ainda dentro da delicadeza retrô.

Pin-Up Cangaceira

(Foto: Tainá Lossëhelin)

O detalhe do chapéu em arame, feito pela marca Dracurella Headpieces, foi um elemento chave para dar um toque especial ao ensaio com mais cara de editorial de moda. As fotos foram feitas pela Tainá Lossëhelin, parceira já permanente aqui do site.

XAXADO, A MÚSICA DO CANGAÇO

Além do visual, a música também foi bem presente na história do cangaço. O xaxado foi uma dança muito disseminada pelos cangaceiros que a executava para celebrar suas vitórias. Como originou-se em um período que ainda não havia mulheres no cangaço, iniciou-se como uma dança masculina. Feita para dançar sozinho, a arma era a dama dos cangaceiros.

Aproveitamos a oportunidade, fizemos uma playlist especial com músicas clássicas de Luiz Gonzaga e Dominguinhos, representantes da música nordestina e que têm Lampião como grande inspiração, entre outros artistas. E mais alguns clássicos, em que Maria Bonita e Lampião foram inspiração.

Pin-Up Cangaceira Maria Bonita

(Foto: Tainá Lossëhelin)

CURIOSIDADES NA MÚSICA

A relação do cangaço com a música foi tão importante que o ex e mais jovem integrante do bando Volta Seca, ainda lançou, em 1957, o LP Cantigas de Lampião com as músicas do cangaço como Mulher Rendeira e Acorda Maria Bonita. Diz-se que, Lampião teria escrito a música Mulher Rendeira em homenagem a sua avó, que era rendeira.

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CANGACEIROS E DEVOTOS: O CANGAÇO RELIGIOSO

Para finalizar, apesar da imagem contraditória dos cangaceiros, muitos viam como Robin Hood do nordeste, enquanto outros enxergavam como bandidos sanguinários, além da estética e música, que representam bem o bando, os cangaceiros eram homens de fé, devotos do catolicismo, sendo Padre Cícero, um dos homens santo para Lampião.

A Fé do Cangaço

(Foto: Tainá Lossëhelin)

PIN-UP DO MÊS NO IGTV

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FICHA TÉCNICA
Editorial: Rainha do Cangaço
Modelo: Miss Daisy
Produção: Universo Retrô (Daise Alves e Mirella Fonzar)
Fotografia: Tainá Lossëhelin
Figurino: Acervo Pessoal
Casquete: Dracurella Headpieces

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