Conhecida canção nas vozes sertanejas para as novas gerações, a origem de Rancho Fundo está no samba-canção. A melodia foi inicialmente criada por Ary Barroso para uma música escrita por J. Carlos. Em 1931, época da parceria entre os dois, a cação chamava-se Na grota funda e os versos eram assim:
Na grota funda
na virada da montanha
só se conta uma façanha
do mulato da Raimunda
Matar a nega
c’um pedaço de canela
e depois sem mais aquela
foi juntá c’uma galega
A história dessa música começou a mudar quando Lamartine Babo a escutou e resolveu criar uma nova letra. Surgia, então, os versos que hoje são um dos mais conhecidos da música brasileira:
No rancho fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade
Contam coisas da cidade…
No rancho fundo
De olhar triste e profundo
Um moreno canta as “mágoas”
Tendo os olhos rasos d’água
J. Carlos não gostou de ter a letra reescrita, porém foi através dessa nova versão que a música contagiou todo o país. A primeira intérprete a gravar o fruto da parceria entre Lamartine Babo e Ary Barroso foi a cantora Elisa Coelho ainda em 1931 no ritmo de samba-canção.
As décadas de 1930 e 1940 foram importantes fases para a consagração tanto de Lamartine Babo quanto de Ary Barroso. O primeiro compôs marchinhas de carnaval como Linda Morena e Isto é lá com Santo Antônio. Já o segundo foi um dos responsáveis pela musicalização do filme de Walt Disney, Você já foi à Bahia?, estrelado por Aurora Miranda, irmã de Carmem Miranda.
Em 1971, o cantor Eduardo Araújo, integrante do programa Jovem Guarda, emprestou à canção todo o estilo rock and roll pertencente a ele. Com uma nova roupagem à melodia, o resultado é surpreendente:
Rancho Fundo ganhou uma versão instrumental voltada para o jazz através das mãos de César Camargo Mariano e Hélio Delmiro em 1981. Finalmente, em 1989, a canção foi lapidada por vozes sertanejas por meio da dupla Chitãozinho & Xororó que a regravou em 2011 ao lado da grande revelação da música brasileira contemporânea, Maria Gadú. Confira a versão que conta, também, com a participação do maestro João Carlos Martins.
Independentemente do estilo musical, uma linda canção é sempre capaz de sobreviver às décadas que se passam. É essa capacidade de tocar as almas de todas as épocas e vertentes que faz com que a música retrô nunca esteja ultrapassada.
As diversas versões são interessantes como a de Eduardo Araujo, mas nenhuma se compara à de Chitãozinho e Xororó, minha predileta! Parabéns pela matéria!