Poucos sabem a origem de um dos óculos mais icônicos do mundo, o Ray-Ban Aviator. Alguns imaginam que ele foi criado nos anos 60, com seu estilo popularizado por artistas como Elvis Presley ou Peter Fonda, do filme Easy Rider (No Brasil, intitulado como “Sem Destino”). No entanto, sua história é bem mais antiga e tem origem em uma necessidade de combate dos pilotos americanos.
Como surgiu o Ray-Ban
O Ray-Ban Aviator (Ray-Ban Aviador) foi apresentado ao mundo em 1937, pela empresa Bausch & Lomb. Com o grande avanço da indústria bélica e os novos aviões de caça P-47 Thunderbolt sendo recém fabricados, o Coronel John A. Macready apresentou esta demanda à Bausch & Lomb: o Tio Sam precisava de um óculos especialmente fabricado para pilotos de caça, que reduzisse o intenso reflexo causado pelos tons azul e branco do céu.
A Bausch & Lomb, uma fabricante de equipamentos médicos, criou a primeira versão do que seria conhecido como “Ray-Ban Aviador”. Era o “Anti-Glare” (antibrilho), criado em 1936. No ano de 1937 veio o nome patenteado tão famoso atualmente e, diga-se de passagem, pronunciado em alto e bom tom por todos os admiradores e usuários do Ray-Ban Aviator.
Logo em 1938, a Bausch & Lomb acrescentou as lentes resistentes ao impacto. Daí pra frente, e mal sabiam os seus criadores, esse óculos se tornaria símbolo não só de uma, mas de todas as próximas gerações.
Não foi apenas na Força Aérea Americana e na Aviação de Caça da Marinha dos EUA que o “Aviador” ganhou o coração dos jovens que lutaram na Segunda Guerra Mundial. Há um boato que os nazistas, já para o final da Guerra, durante as batalhas procuravam atirar apenas nos homens que usavam esse tipo de óculos. No Exército, pelo menos na década de 1940, e conforme conta a lenda, apenas oficiais (normalmente são os comandantes das tropas em terra) usavam Ray-Ban.
O Ray-Ban nos anos 80
Enfim, chegam os saudosos anos 80. Em meados da “década perdida” (realmente nunca entendi tal expressão tão ridícula e invejosa) os modelos Aviator não estavam mais em alta como na década passada. Então surge o diretor de cinema Jack Scott captando Tom Cruise e Val Kilmer (Kilmer usando um modelo evoluído do óculos original, o “Outdoorsman”) em ângulos que fizeram o mundo inteiro se apaixonar pela aviação de caça e, principalmente, criar um dos mitos mais verdadeiros do mundo: que todo piloto de caça usa (ou tem que usar!) Ray-Ban Aviator.
A influência do primeiro Top Gun (1986) é tanta que chegou ao Brasil e também se estendeu para fora das telas de cinema. Mais precisamente a moda ganhou força dentro da Força Aérea Brasileira.
“Usávamos o Ray-Ban primeiro por causa da proteção que ele nos proporcionava para trabalhar nas pistas de pouso e decolagem das Bases Aéreas” – conta Miguel Molinar, sargento da especialidade Material Bélico da FAB. “Quem tinha Ray-Ban era ‘o cara’, apesar de muitos de nós usarmos esse óculos. Quem usava os Ray-Ban de camelô, chamávamos de ‘óculos de romaria’”.
“Com o lançamento do filme Top Gun, o óculos ficou muito famoso. Assim como os pilotos do filme, você ter uma moto e um Ray-Ban era tudo o que se almejava. No entanto, ter um Ray-Ban para trabalhar na pista era como ter um EPI (Equipamento de Proteção Individual). Tinha um piloto no meu Esquadrão (Molinar serviu no 3º/10º, o Centauro, em Santa Maria no Rio Grande do Sul) que era muito parecido com o Tom Cruise: o tenente Naumann que assim como todos os pilotos da época, usava Ray-Ban”.
As equipes que trabalham na pista armando os aviões, assim como os pilotos de caça, enfrentam temperaturas muito altas e um reflexo muito forte por causa do sol batendo no asfalto, então o Ray-Ban Aviator continuou cumprindo seu papel de necessidade e glamour ao mesmo tempo.
“Não havia nada melhor em qualidade que o Ray-Ban. Para trabalhar na pista era o melhor. Entre os militares se tornou comum usar, apesar de ser um objeto caro. O Ray-Ban era como se fosse o celular hoje em dia, se você não tivesse um era mal visto. Praticamente, de forma não-oficial, o Ray-Ban era ‘parte do uniforme’, inclusive em dias cinzentos e nublados”.
Naquela época os óculos escuros não faziam parte do regulamento da Força Aérea. Segundo relatos de outros militares, houve uma certa dificuldade do Comando em proibir o uso dos Ray-Ban nas formaturas e paradas militares, pois não estava previsto usá-los quando a tropa estivesse em forma (agrupada e pronta para um desfile, por exemplo). No entanto, a grande maioria usava o modelo aviador. Hoje em dia o uso de óculos escuros é previsto no regulamento da FAB.
Molinar, do qual sou, com muito orgulho, seu filho, ainda tem o seu primeiro Ray Ban guardado em casa. Em uma das hastes há a sua data de fabricação: 07.88. Julho de 1988. Na época era comum as edições virem com as datas de fabricação impressas nas hastes.
Certas épocas que admiramos não pudemos vivê-las. No entanto, mesmo eu tendo ingressado na Força Aérea Brasileira e também ter o meu próprio Ray-Ban assim como meu pai, jamais abandono a ideia de que a melhor época da História é a que estou vivendo. O Ray-Ban marcou e continuará marcando todas as gerações que ele encontrar. Do Coronel John A. Macready e da Bausch & Lomb até a Força Aérea Brasileira e meu pai, mais de 70 anos foram unidos por uma marca ícone do passado, do presente e do futuro.
Parabéns pela excelente matéria sobre o óculos Ray Ban, Eduardo…
Posso dizer que achei emocionante, pois tive a oportunidade de ser possuidor deste tipo de óculos, acredito que também pela influência do momento, pois servi no ano de 1977 na BASM, onde era comum o uso deste acessório…
Parabéns por ter remexido em um passado não muito distante, trazendo a tona lembranças dos bons tempos…
Muito obrigado, tio João!
Realmente era uma matéria que eu queria escrever há tempos. Pena que temos poucos registros em fotografias dessa época.
Um grande abraço!
Sou fã deste óculos não posso viver sem usar desde meus 20 anos de idade.
Ray-Ban é pra vida toda, Antônio! É um estilo de vida!