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Romantizar o passado: do lifestyle alternativo a idealização desenfreada

14 de junho de 2024, por Leila Benedetti
Cinema & TV
Romantizar o passado

De todas as gerações, a Z, nascida a partir de 1996, é a mais ligada ao passado, principalmente quando se trata dos anos 90 e 2000. As gerações X e Y também tiveram seus jovens de alma retrô, que focavam (e ainda focam) mais nos anos 50, 60, 70 e 80, mas estas eram mais atreladas à cena alternativa do que o mainstream, como está sendo agora. Independente da geração e da década que se identifica, ter a “alma retrô” é bacana, mas é preciso estar alerta para não romantizar o passado.

Essa romantização toda não é apenas um mal da geração Z. Todo mundo, independente da idade, acredita que o mundo era perfeito em sua época preferida. A própria redatora aqui, uma millennial, tinha esse pensamento equivocado durante a adolescência, até que seu pai, que viveu a juventude nos anos 60, apontou que a época também era difícil, até mais que os dias de hoje. 

Mas qual é a causa disso tudo? A resposta é simples – a mídia de antigamente e as histórias que alguns de nossos parentes mais velhos contam para nós. No passado, a televisão era como agora, tinha conteúdo tanto para entretenimento como jornalístico, com notícias boas e ruins. Entretanto, como o jornalismo é algo temporal, a mídia hoje só reprisa o que é voltado para entretenimento, como os filmes e as séries, que são fictícios e, logo, exibem um mundo ideal onde as necessidades básicas estão sempre em dia, os relacionamentos amorosos sempre são fáceis, felizes e saudáveis e o bem sempre vence o mal.  

The Brady Bunch
(Famílias “margarina”, céu sempre azul, pessoas ricas e felizes…yep, os filmes e as séries de antigamente não ajudam muito não. | Foto: Courtesy Everett Collection)

Quanto aos nossos parentes, estes contam apenas sobre os momentos bons de seus passados. Isso não é por mal, pois nossa memória é bem seletiva e, quando temos saudades de algo que vivemos, automaticamente só lembramos de coisas positivas. Fora isso, muitos deles contam sobre uma época em que eles eram crianças, ou seja, não tinham muita percepção da complexidade do mundo real ainda. 

O design, a moda, as músicas e parte da tecnologia de uma certa época merecem ser contempladas e aderidas hoje em dia? Sim! Mas as diferenças e pressões sociais, produtos de sucesso, porém nocivos à saúde, conflitos históricos e outros problemas que ainda podem ou não existir hoje também precisam de atenção, mas não devem ser contemplados, ok? 

O que antes era um costume alternativo e inocente virou um “escape” da realidade atual

A pandemia da covid-19 causou uma série de incertezas pelo mundo, não apenas em relação à sobrevivência da humanidade ao vírus, mas também quando se trata de economia e política. A tensão chegou para os adultos, mas chegou de forma mais intensa para os jovens da Geração Z, que mal começaram a moldar suas vidas.

Pessimistas com o “novo mundo real”, os jovens acabaram gerando uma nostalgia pela época de infância, onde eles não tinham sérias preocupações e nem uma visão realista de mundo, ou por um passado que nunca viveram, que é representado de forma romantizada por filmes e séries antigos reprisados no streaming

Relembrar suas memórias de infância e trazer algumas tendências de moda e música de volta para o mercado, por exemplo, não é problema algum, mas sim a forma obcecada que isso está acontecendo entre a nova geração. Essa obsessão acontece porque, o que era um comportamento de jovem alternativo, que visava fugir dos padrões, virou uma válvula de escape do mundo real. Para os jovens, o passado tem um desfecho cheio de certezas, ao contrário do presente, onde temos que encontrar a certeza em tempos difíceis, e também do futuro, que é mais incerto ainda e causa medo. 

Podem admirar os anos 90, 2000 ou qualquer outra época, inclusive ouvir músicas antigas em mídia física, aderir looks e usar alguma tecnologia do passado. Mas é preciso também criar memórias novas, para que um dia estas também virem nostalgia. Também repetindo o que já foi citado acima – cuidado com as idealizações, pois estas podem trazer grandes frustrações no futuro. 

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