Nem o frio de menos de 10 graus em Balneário Camboriú estragou o clima do Santa Catarina Custom Show no último final de semana. Depois de um hiato de 2 anos por conta das restrições sociais da pandemia de Coronavírus, um dos principais eventos da Kultura Kustom brasileira voltou com tudo para comemorar seus 10 anos de sucesso, nos dias 10, 11 e 12 de junho.
Foram centenas de veículos clássicos e customizados, vindos de diversas partes do Brasil, que se reuniram durante os três dias de evento, junto a mais de 180 expositores que puderam mostrar seu trabalho para cerca de 40 mil visitantes – entre oficinas de restauração e customização automotiva, mercado de pulgas e peças raras, vestuário, entre diversos produtos e serviços voltados para a cultura vintage e da customização.
Além da exposição de carros, o evento trouxe uma área para artistas que puderam mostrar seus trabalhos com pinstripe, entre outras técnicas de customização. Destaque para a presença de Mike “Mazooma”, desenhista oficial do Rat Fink, personagem ícone da Kultura Kustom, criado nos anos 1950 por Ed “Big Daddy” Roth.
O artista americano esteve presente fazendo customização, desenhos e vendendo cartazes e camisetas no stand da Gabriela Toys, além de ter sido um dos jurados do concurso de Pin-Ups, “algo inédito em sua carreira”, segundo ele, pois nos eventos que participa nos Estados Unidos sempre costuma ficar nos bastidores desenhando, como é o caso do Viva Las Vegas Rockabilly Weekend, onde acontece o maior concurso de Pin-Ups do mundo.
O novo espaço: Expo Centro Balneário Camboriú
O festival inaugurou o novíssimo Expo Centro de Balneário Camboriú, que se mostrou um local com espaço incrível e cheio de possibilidades, com plena estrutura de banheiros (com trocadores e acessibilidade), dois palcos, camarim, praça de alimentação, espaço kids, entre outras funcionalidades. No entanto, por ser um espaço novo, houveram falhas em relação ao acesso. Longas filas na entrada e falta de espaços para estacionar, já que o principal estacionamento do local reuniu uma infinidade de carros expostos a céu aberto e a praça de alimentação externa do evento.
Já a parte interna do evento abrigou os dois salões principais – Rodder e Car Show -, que contavam com ainda mais carros, outras opções de alimentação e os mais variados expositores. Cada um com seu próprio palco e programação, acontecendo simultaneamente em ambos os locais. Foram diversas apresentações ao longo dos três dias de evento, porém, que se repetiam em diferentes palcos.
Por exemplo, se você tivesse perdido um show no palco Rodder na sexta, poderia assistir a essa mesma atração outro dia, no palco Car Show. Ponto positivo para quem não quer perder nada durante o evento e ganha outra oportunidade, mas, negativo, para quem busca por atrações variadas num festival deste porte, o que acaba restringindo um pouco o line up.
As atrações musicais no Santa Catarina Custom Show
Ao todo foram 10 atrações musicais ao longo de 3 dias de evento: o rockabilly da Lennon Z. & The Sickboys Trio (Caixas do Sul/RS), o swing da Bourbon SweetHearts (Argentina), o hillbilly da Nash (Joinville/SC), o surf music da Strato Feelings (Joinville/SC), o country das bandas Blackhat (Itajaí/SC) e Bastardos (Brusque/SC), o blues do Dobrotones (Joinville/SC) e da The Headcutters (Itajaí/SC) com participação da cantora Frany (Curitiba/PR), além dos shows especiais de Elvis Celebration in Concert, da Filarmônica de Itajaí e um show com uma Pin-Up mirim dançando Candyman da Christina Aguilera.
Essa diversidade musical é algo bastante positivo para este tipo de evento, pois percebemos ao longo dos dias que o público do Custom Show é extremamente diversificado também. No mesmo espaço que convivem os apaixonados pelo passado, seja através do design dos carros, das raízes da customização e da cultura vintage, temos um público interessado em novas tecnologias, técnicas e ferramentas dessa indústria. Portanto, a trilha sonora diversa provavelmente não é uma escolha aleatória; ela casa muito bem com os diferentes públicos do evento.
Destaque para o trio de western swing / jazz vindo da Argentina, Bourbon SweetHearts, que realmente deixou todos boquiabertos com suas potentes vozes e dinâmica musical, algo um pouco diferente do que estamos acostumados a ouvir em eventos de cultura vintage / custom no Brasil. Sem contar que essa foi a única atração musical com integrantes mulheres e que foge do eixo Santa Catarina – Rio Grande do Sul, de onde vêm as outras bandas.
Burlescas e Pin-Ups no SC Custom Show
Apesar de ser um evento com público em sua maioria masculino (até por conta ainda de estereótipos de gênero que trazem os carros como preferência dos homens), é interessante notar que, além da banda headliner do festival ser composta por mulheres, a presença feminina nos palcos do SC Custom Show se fez presente nas apresentações burlescas e no concurso de Pin-Ups, pontos altos do evento e que trouxeram mulheres como protagonistas.
No Burlesco, três performers se revezaram para mostrar sua arte ao longo do final de semana. Lady Von Page (Santa Catarina), já conhecida na cena local e nacional, que trouxe diferentes figurinos e três coreografias distintas; Miss RichGood (Santa Catarina), Isadora Ricobom, que trouxe uma apresentação com referências do horror vintage, com uma versão do clássico “I Put a Speel on You”; e Howdy Sister (São Paulo), a Pin-Up Julie Van Wilpe, que fez a sua estreia no burlesco e surpreendeu a todos com sua performance western para lá de sensual.
Este ano, além das apresentações oficiais do evento, também fomos presenteados pelas candidatas do concurso de Miss Pin-Up a desfrutar de performances bastante inusitadas ao longo da competição. Destaque para Red Rose (Curitiba/PR) que levou um “chuveiro” para o palco e, ao invés de se despir, se arrumou na frente de todos; Jamilly Belladona (Londrina/PR), que dançou rockabilly com seu marido com figurino militar e pediu paz pela Ucrânia; e Srta La Rodriguez (São José dos Campos/SP), que trouxe o glamour da era de ouro de hollywood com referências do cinema noir.
Quebra de estereótipos em concurso de Miss Pin-Up
No entanto, a apresentação que realmente emocionou o público presente e foi definitiva para a escolha dos jurados na coroação foi a de Margot May (Tham Garcia), a Pin-Up confeiteira de Nova Santa Rita, Rio Grande do Sul. Numa crítica às pressões estéticas femininas e aos padrões de beleza atuais, Tham performou ao som de uma versão de Barbie Girl com ataduras no rosto e nos braços e, ao final, tirou tudo e jogou para cima um par de sutiãs adesivos do tipo push up, levando o público presente aos gritos.
Referenciando o look da primeira boneca Barbie, lançada em 1959 nos Estados Unidos, a Pin-Up Plus Size brasileira vestia um top listrado tomara que caia, feito sob medida pela marca All Right Mama, e uma saia godê preta, feita pela Tia Retrô. Para completar o figurino, o penteado estilo Poodle Hair por Mahara Alberttoni, um arranjo de margaridas nos cabelos – feito por ela (em referência à Pin-Up Hilda) e brincos de argola da Cocktail Crafts também referenciando o primeiro exemplar da boneca americana.
Diferente da maioria dos concursos, o Miss Pin-Up Santa Catarina Custom Show contou com cinco jurados e voto aberto, nos quais Tham levou quatro. “No momento que recebi o primeiro voto, o meu corpo ficou no palco e a cabeça foi longe. Eu só conseguia pensar no meu pai. Umas duas semanas antes do evento, eu tinha decidido que iria desistir, eu tava me cobrando demais. Na mesma noite eu sonhei com ele, no sonho ele dizia que iria pegar nossa Brasília, a minha mãe (que é acamada) e eles iriam ver eu desfilar. Meu pai já é falecido e ele foi a minha principal influência para eu gostar do meio retrô. Isso era a única coisa que se passava na minha cabeça, eu queria que ele estivesse vendo onde ele me ajudou a estar”, conta Margot May ao Universo Retrô.
União feminina em evento majoritariamente masculino
“Queria passar a mensagem e encontrar as minhas amigas que conheci na pandemia. Eu falava que o grupo ficou tão unido, tão lindo, que se qualquer uma levasse seria merecido. Nunca imaginei que conseguiria [o título]. O Glauber [namorado] me encorajava, mas eu não estava nem um pouco confiante. Ainda não acredito na imensidão que tomou”, explica a Miss.
“Maior sensação de felicidade chegar onde cheguei. Os feedbacks são incríveis. Eu fico tão emocionada por ter tocado tantas pessoas e encorajado elas. É um pequeno passo para coisas grandes. Por todas nós mulheres, pelas meninas que já haviam tentado antes de mim, pelas meninas que ainda estão no processo de se aceitar… Essa vitória é para todas nós!”, completa.
Outro espaço que trouxe essa atmosfera de união feminina foi o Raio Pinapizador e o Espaço Colab Universo Retrô, onde muitas mulheres retrô se reuniram para conversar sobre estilo, compartilhar experiências, tirar fotos e fazer suas comprinhas. Ainda durante os três dias foi possível realizar a produção completa de cabelo e maquiagem Pin-Up com a beauty artist de Curitiba, Mahara Alberttoni, e sua equipe durante o evento.
A hairstylist trouxe ainda uma aula show ao palco Rodder no sábado, que apresentou o passo a passo de dois penteados vintage ao público geral. Apesar de serem cabelos bem específicos, a audiência presente pareceu bastante interessada na apresentação.
Santa Catarina Custom Show 2022: Saldo positivo pós pandemia
Mesmo com a mudança de espaço, cidade e todas as dificuldades em trazer um evento ainda com resquícios da pandemia, pode-se dizer que o Santa Catarina Custom Show 2022 fechou com saldo positivo. Tanto pela alta adesão de veículos, expositores, como por suas atrações e organização de alta qualidade. A cultura custom e vintage do Brasil só ganha com a longevidade de um evento deste porte. Vida longa ao Custom Show.