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Senhora das Águas: Folclore brasileiro é inspiração para o Pin-Up do Mês

16 de agosto de 2019, por Mirella Fonzar
Ensaios FotográficosModa
Pin-Up Sereia

Como forma de celebrar o aniversário do Universo Retrô, anualmente nós, editoras, protagonizamos o “Pin-Up do Mês” com produções fotográficas especiais. Indo pelo caminho oposto do ano passado, que foi totalmente americano, mostrando as diversas faces de Bettie Page; nos 4 anos do portal, a nossa ideia é trazer inspirações regionais que nosso país oferece.

Foto: Tainá Lossehelin

Sendo assim, depois do sucesso do editorial homenageando Maria Bonita e o cangaço brasileiro, estrelado pela Daise Alves, em julho, chegou a minha vez (Mirella Fonzar; Miss De-Lovely) de voltar às minhas raízes para produzir um ensaio pra lá de especial, inspirado em elementos da cultura popular brasileira, aproveitando também que 22 de agosto é o Dia do Folclore Nacional.

Foto: Tainá Lossehelin

Explico: A escolha de ambos ensaios teve a ver com as origens de nós duas – e fatos pouco conhecidos sobre nós. Enquanto a Daise homenageou suas raízes nordestinas (ela nasceu na Bahia e tem família no interior do estado), resolvi revisitar elementos de dois estados de extrema importância para a minha formação; ou seja, os lugares onde cresci: Amazonas e Bahia.

Foto: Tainá Lossehelin

Em Manaus, onde morei quando criança e iniciei a minha história com a escrita (poucas pessoas sabem, mas foi na capital amazonense que aprendi a ler e escrever), busquei referências do folclore nacional e inspiração na lenda da sereia Iara para compor a personagem deste ensaio.

Foto: Tainá Lossehelin

Já de Salvador, onde vivi parte da minha infância e toda a minha adolescência, trago – com todo o respeito necessário – elementos do candomblé e da umbanda, com a orixá Oxum. Coincidentemente, além de ter vivido nesses dois grandes estados brasileiros com forte influência indígena e afro-brasileira, ambas etnias também cruzam pontos da minha árvore genealógica.

Foto: Tainá Lossehelin

No figurino com ar vintage, eu e a Daise optamos por elementos que remetem à sereia brasileira, como a saia verde em modelagem ‘sereia’ com cauda em tule e a lingerie champagne com bordados em pérolas, flores e um broche de estrela do mar. Já os acessórios, como o espelho e a coroa, com conchas, búzios e jóias douradas, completam a referência à orixá rainha das águas doces. Na mistura desses elementos mostramos esse caldeirão cultural que é o Brasil.

Foto: Tainá Lossehelin

As foto foram feitas por Tainá Lossehelin e o local escolhido foi um pequeno rio com direito a queda d’água de mata fechada, localizado na região do Parque Estadual do Juquery, em Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo. A cachoeira Quarta Colônia fica há poucos minutos da capital e é um destino conhecido por poucos. Por muito tempo fez parte do complexo do Juquery, uma das mais antigas e maiores colônias psiquiátricas do Brasil, como fornecedora de energia para todo o povoado.

Foto: Tainá Lossehelin

AS SEREIAS E O UNIVERSO DAS PIN-UPS

A lenda das sereias é uma das mais fascinantes que existe. Nunca foram encontrados fósseis ou vestígios científicos concretos confirmando sua existência, no entanto, sabe-se que, desde antes de Cristo, há histórias que circulam sobre este curioso tema.

Foto: Tainá Lossehelin

Metade mulher, metade peixe, histórias envolvendo esse ser mitológico podem ser encontradas em diversos países, inclusive nos Estados Unidos, o berço da cultura Pin-Up. Por lá, a lenda das sereias serviu, e até hoje serve de inspiração para ilustrações, filmes, fotografias, tatuagens e até shows de horror (como falamos na matéria História da Sereia de Fiji).

Foto: Tainá Lossehelin

Em 1948, o cinema trouxe dois filmes de destaque com sereias na trama; Mr. Peabody and The Mermaid, com a atriz Ann Blyth, e Miranda, com Glynis Johns. Na mesma época, os quadrinhos da Pin-Up Katy Keene vira a mexe traziam a protagonista vestida como uma sereia. Ainda no mundo das artes, o tema foi bastante utilizado também nas tatuagens old school, como mostram os desenhos do tatuador Sailor Jerry.

Foto: Tainá Lossehelin

Assim como as Pin-Ups, essa criatura mitológica é dotada de grande beleza, doçura e sensualidade. Seja em águas doces ou salgadas, em suas mãos traz sempre um espelho e um pente e costuma seduzir pescadores ou marinheiros, desviando-os de seu rumo e levando–os para armadilhas mortais.

Foto: Tainá Lossehelin

A LENDA DE IARA

Originalmente, os índios não traziam em sua cultura uma mulher metade humana e metade peixe. Alguns historiadores dizem que tratava-se apenas de uma mulher bonita que encantava os homens às margens dos rios. Com o passar do tempo e a popularização da imagem das sereias ao redor do mundo, Iara acabou por se transformar numa sereia.

Foto: Tainá Lossehelin

Segundo a lenda, que acabou tornando-se popular, Iara era uma índia guerreira, que costumava receber muitos elogios de seu pai, o cacique da tribo. Com inveja, seus irmãos tentaram matá-la, mas ela conseguiu se defender e os matou primeiro. Como punição pelas mortes, seu pai a jogou no rio. Então, para salvá-la, os peixes teriam a transformado em uma linda sereia, que carrega a maldição de seduzir homens e levá-los ao afogamento no fundo do rio.

Foto: Tainá Lossehelin

Também conhecida como “Mãe D’água”, a lenda diz que Iara costuma viver às margens dos rios Negro e Solimões, passando a maior parte do tempo admirando sua própria beleza e seu reflexo nas águas, penteando seus cabelos com um pente e brincando com os peixes. Segundo uma de suas muitas versões, quando está fora da água, transforma-se em uma linda mulher.

Foto: Tainá Lossehelin

MAMÃE OXUM DA CACHOEIRA

Embora não seja representada como uma sereia, Oxum é a orixá protetoras dos rios, dos lagos, das fontes e das cachoeiras e, coincidentemente, também traz um espelho em suas mãos. No entanto, no contexto das religiões de matriz africana, ela é mais do que um ser encantado; representa uma divindade.

Foto: Tainá Lossehelin

O arquétipo de Oxum é o de uma mulher graciosa e elegante, que tem predileção por joias, perfumes e roupas. Sua imagem é quase sempre associada à vaidade e a maternidade, sendo comum ser invocada com a expressão “Mamãe Oxum”. É muitas vezes relacionada como símbolo do poder feminino, do amor e da fecundação.

Foto: Tainá Lossehelin

Como bem citado no editorial anterior, ambos os ensaios comemorativos de Pin-Up do Mês estão cobertos de amarras. E a minha homenagem às Mães das Águas brasileiras tem tudo a ver também com o momento que estou vivendo em minha vida pessoal. Como mostrei aqui no portal no meu ensaio grávida para o Pin-Up do Mês do ano passado e com a Retrô Family, me tornei mãe há pouco mais de 1 ano e, nesta complexa trajetória, venho redescobrindo o significado de ser mulher.

Foto: Tainá Lossehelin

SENHORA DAS ÁGUAS NO SPOTIFY

Na playlist Senhora das Águas, no Spotify do Universo Retrô, você encontra clássicos do samba de raiz influenciados pelas religiões e ritmos vindos da África. De Clara Nunes, a verdadeira sereia da MPB, a Cartola e Vinícius de Moraes.

Ficha Técnica:

Produção: Daise Alves / Universo Retrô
Modelo: Mirella Fonzar (Miss De-Lovely)
Fotografia: Tainá Lossehelin
Assistente: Claudio Lima

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