Quem acha que o brasileiro só começou a atuar no cinema norte-americano entre os anos 30 e 50 é porque nunca conheceu Syn de Conde. O ator belenense fez fama por lá pouco antes de Hollywood entrar em sua era dourada, ou seja, antes mesmo de Carmen Miranda, na qual o senso comum acredita que ela é a pioneira. A Era de Ouro de Hollywood começou nos anos 20, enquanto que Syn começou sua carreira de ator nos Estados Unidos em 1918.
Synesio Mariano de Aguiar nasceu em Belém do Pará em 1894 e era filho de um empreendedor que fez fortuna no Ciclo da Borracha. O então jovem era um boêmio que foi mandado para a Europa por seu pai a fim de se tornar um diplomata, mas seus estudos na Suíça e, posteriormente, em Paris foram ofuscados pela vida noturna de ambos os locais.
Sua carreira cinematográfica
Até que, em 1916, ele migrou para Los Angeles escondido de seu pai. Para enganá-lo, ele enviava cartas para seus amigos de Paris, que as remetiam para o Brasil. Dois anos depois, ainda na cidade, ele flertou com uma moça no salão de um hotel. Ele marcou um encontro com ela e se apresentou como Syn de Conde. Este sobrenome era oriundo de uma marca de vinho francês, e a moça acabou pensando que ele era europeu.
O que ele não sabia era que o alvo de seu flerte era nada mais e nada menos que uma das atrizes mais famosas da época, a russa Alla Nazimova. O local do encontro era o set de gravação do drama mudo Revelation (1918), onde a atriz fazia parte do elenco. Durante uma cena, um ator dançava o então popular Apache, mas Syn percebeu que ele dançava de forma errada e decidiu ensiná-lo. Isso atraiu a atenção do diretor George D. Baker, que o chamou para entrar no elenco, e foi aí que sua carreira cinematográfica começou.
Com o sucesso de sua estreia, mal seu primeiro filme foi lançado ele já foi chamado para atuar no filme The Brass Check, também gravado nos estúdios da Metro (futura MGM). Em 1919, ele atuou em mais cinco filmes – Out of the Shadow, gravado na Paramount, The Girl Who Stayed at Home, dirigido pelo renomado D.W. Griffith, Mary Regan, Rose of the West e Flame of the Desert.
Fim da carreira, homenagens e morte
Embora tenha feito sucesso, sua carreira no cinema foi curta. Syn atuou em mais dois filmes nos anos 20, Rouge and Riches e Moongold, lançados em 1920 e 1921, respectivamente. O fim de seu trabalho como ator foi quando um amigo de seu pai viu o ator puxando um camelo enquanto assistia Flame of the Desert em um cinema de Belém e o dedurou. O artista foi forçado pelo seu pai a voltar para o Brasil e passou o resto de sua vida no Rio de Janeiro sem nunca mais atuar. Já em seu anonimato, ele passou a trabalhar como funcionário do Ministério da Agricultura, onde permaneceu por 44 anos, e como professor de inglês.
Mesmo com um fim de carreira triste, ele ainda é lembrado pelos entusiastas do cinema cult. Para se ter uma ideia, a Cinemateca do Rio de Janeiro o homenageou duas vezes – em 1974, com uma exposição que exibia fotos e correspondências do ator nos tempos de Hollywood, e em 1984, com uma mostra de alguns de seus filmes. Syn de Conde faleceu em 1990, aos 95 anos, e foi sepultado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.
Syn de Conde como fonte de inspiração
Logo após conquistar sua fama lá em 1918, Syn abriu portas para outros atores brasileiros fazerem sua fama no exterior. O primeiro a se inspirar nele foi Jack Wilford (na verdade, se chamava José dos Santos Viana e era nascido em Petrópolis), que passou a trabalhar no cinema inglês a partir de 1919. Além disso, no mesmo ano, apareceu no cinema norte-americano Antônio Rolando, nascido em Manaus. Quase dez anos mais tarde, mais especificamente em 1927, foi a vez de Lia Torá, que, além de atriz, era bailarina.
Mas ao contrário de Syn, todos estes voltaram ao Brasil, porém continuaram trabalhando no cinema daqui, e o motivo do fim de suas carreiras foi, naturalmente, por conta da chegada do cinema falado nos anos 30. Não se encontra quase nada de Jack e Antônio pela internet, mas Lia tem uma página na Wikipedia e um video sobre sua carreira, assista abaixo: