Home > Destaque > Big Mama Thornton e a polêmica por trás de Hound Dog, famosa na voz de Elvis

Big Mama Thornton e a polêmica por trás de Hound Dog, famosa na voz de Elvis

17 de agosto de 2022, por Leila Benedetti
Música
Big Mama Thornton

A questão do Elvis Presley ter “roubado” o rock’n roll dos negros é um tópico que foi levantado pelo público por várias vezes e, com seu filme biográfico que acabou de chegar às telonas, este assunto voltou à tona. Muitos nomes negros do blues da virada dos anos 40 para os 50 se sentiram injustiçados por verem suas músicas bombarem na voz do cantor sem levar nenhum reconhecimento por isso. Um dos casos que chamam muita atenção é o de Big Mama Thornton e a sua música Hound Dog

Não basta ser negra e ter sua música virando hit nas mãos de um outro cantor porque ele é branco e, por isso, acaba “vendendo mais”. A injustiçada também tem que ser uma das poucas mulheres da cena blues da época, ou seja, minoria da minoria. Isso lembra uma cena de Dreamgirls, que aborda este tema com outros personagens e outra música, mas traz uma boa reflexão. 

Para conhecer melhor Big Mama Thornton, a verdadeira dona do hit Hound Dog, confira a sua trajetória de vida e carreira:

Big Mama Thornton, a verdadeira dona do hit Hound Dog

Início

Willie Mae Thornton nasceu em 1926 no Alabama, EUA, e teve seu primeiro contato com a música ainda criança na Igreja Batista, onde seu pai era pastor e ela, junto com sua mãe e irmãos, cantavam durante os cultos. Mas ela só foi iniciar sua carreira mesmo em 1941, quando mudou de cidade após a morte de sua mãe. 

Com a ajuda da outra cantora negra Diamond Teeth Mary, ela entrou para a banda Sammy Green’s Hot Harlem Revue, onde ganhou reconhecimento e passou a ser considerada a “nova Bessie Smith”. Foi durante essa parceria com a banda, que, aliás, durou por sete anos, que ela desenvolveu sua identidade e experiência de palco. Já em 1948, ela se mudou para o Texas e, dois anos depois, se juntou a Little Esther e Mel Walker para se apresentar em shows organizados pelo empresário branco Johnny Otis, foi em uma desses shows que surgiu seu nome artístico Big Mama. 

Big Mama Thornton
(Big Mama Thornton em seu auge na primeira metade dos anos 50. | Foto: Reprodução)

Sucesso na carreira solo e o hit Hound Dog

No início dos anos 50, ela decidiu seguir carreira solo e assinou um contrato de cinco anos com a Peacock Records. Nessa sua então nova fase, ela passou a compor, tocar gaita e se apresentar em uma boate com o apoio da banda de Louis Jordan, além de fazer contato com nomes famosos na época como Junior Parker, Lightning Hopkins, entre outros, e aprender a tocar bateria.

Em 1952, ela gravou Hound Dog, que se tornou um hit dentro do cenário do R&B americano. Composta por Jerry Leiber e Mike Stoller, esta versão original era mais lenta, mas não menos dançante, e tinha improvisos por parte de sua intérprete durante os riffs. Esta música só ganhou uma versão mais rápida e com uma pegada rock’n roll em 1956 com o grupo branco Freddie Bell and The Bellboys, que, em poucos meses, foi copiada por Elvis. 

Logo depois de lançar a versão original, a cantora passou a fazer turnês ao lado de Junior Parker, Johnny Ace e, alguns anos depois, Gatemouth Brown. Nessas apresentações, ela tocou, além de Hound Dog, mais de seus sucessos como They Call Me Big Mama, Little Red Rooster, entre outros. 

O revival do blues raíz e a música gospel

Entre o final dos anos 50 e começo dos anos 60 sua carreira começou a decair. Big Mama se mudou para San Francisco e passou a cantar nos clubes locais e gravar discos para vários selos, com destaque para a Arhoolie Records. Ela chegou a  fazer algumas turnês pela Europa e gravar alguns álbuns em meados dos anos 60, mas já não estava tão no auge como na década anterior. 

Mas em 1967 o interesse do público pelo seu trabalho foi renovado quando Janis Joplin and Big Brother and the Holding Company tocou Ball ‘n’ Chain no Monterey Pop Festival, creditando Big Mama, que lançou a música alguns anos antes. Com isso, a cantora assinou contrato com a Mercury Records e lançou seu maior álbum de sucesso, Stronger Than Dirt

Um pouco mais tarde, ela assinou com a Pentagram Records e passou a incluir a música gospel em seu repertório, gravando o disco Saved, onde as faixas eram versões de músicas tradicionais do gênero como Oh Happy Day, por exemplo. Mesmo com o fim da breve onda pelo revival do blues raíz, Big Mama ainda fazia sucesso, tanto com o blues quanto com o gospel, e fazia turnês pela Europa, sucesso este que durou até meados dos anos 80.

Morte e homenagens

Apesar do sucesso na carreira, a saúde de Big Mama não era das melhores. Como se não bastasse o seu sobrepeso, ela passou maior parte dos anos 70 enfrentando problemas com o álcool e o tabaco. Em 1984, tudo isso deu à ela como consequência uma parada cardíaca e insuficiência hepática, que a levaram à morte, aos 57 anos, em Los Angeles. 

No mesmo ano de sua morte, a cantora teve seu nome inserido na lista de músicos que contribuíram significativamente para o blues no Blues Foundation’s Hall of Fame e, nos anos 2000, ela foi homenageada no espetáculo de dança Sweet Willie Mae, além de ser parte das exposições do Museu da Mulher, no Texas, onde a versão original de Hound Dog toca de forma contínua em uma sala dedicada às mulheres que fizeram história na música. 

Matérias Relacionadas
Calça Corsário
Calça Corsário, a queridinha da virada do milênio, volta a ser tendência em 2024
Feminismo Mod
Feminismo mod: 6 representantes femininas da subcultura que fizeram diferença
Tia Beth
Tia Beth: romance tem fatos históricos do séc. XX como cenário e muitas reviravoltas
Now and Then: música dos Beatles
Now and Then: música inédita dos Beatles gravada com IA é um arrancador de lágrimas

Deixe um comentário