Para quem preza pela elegância e, ao mesmo tempo, pelas memórias afetivas da casa de seus avós, as tendências de móveis e revestimentos dos anos 40 voltaram com tudo. Não é coisa de apenas uma fabricante ou alguma marca lançando uma linha especial e limitada, mas sim várias empresas do ramo preocupadas com a sustentabilidade estão, naturalmente, lançando seus produtos com a estética vintage. São cadeiras de palha indiana, cristaleiras e armários de marcenaria rebuscada, cores fortes e pisos de granilite que vemos por aí nos showrooms e vitrines de lojas.
Quem explica o porquê do retorno dessa tendência é a arquiteta e urbanista Julianne Campelo, da Criare Campinas. De acordo com ela, assim como na moda e em outras manifestações artísticas, as tendências da arquitetura e do design de interiores também são cíclicas. “Com o passar do tempo os contextos sociais vão mudando e nós, também. Depois do estilo minimalista, há procura por um design mais humanizado, que não busca a perfeição, ao contrário. Ela valoriza o imperfeito, porque ele resgata memórias afetivas”, completa.
E não são só as tendências dos anos 40 que voltam com tudo. A colega de profissão de Julianne, Rafaela Costa, também diz que muitos designers e arquitetos estão buscando referências de outras épocas, inclusive as seculares que vão até o Período Colonial. “A palha indiana, um material usado no Brasil desde antes do Império, é um clássico que voltou com muita força nos projetos que estamos desenvolvendo, não só nas tradicionais cadeiras, mas também na marcenaria e nos acessórios”, explica.
O Provençal aliado às cores fortes
E com essa mistura de décadas, claro que os anos 60 e 70 não podiam ficar de fora, principalmente as cores fortes que foram tendências na época. Não apenas os acessórios como também os móveis já estão ganhando cores vibrantes e com mais personalidade, principalmente na marcenaria. Isso não é algo muito recente, há mais ou menos um ano atrás, marcas populares como a Itatiaia, por exemplo, chegaram a lançar linhas do tipo, que, por sua vez, foram – e ainda estão sendo – muito bem recebidas pelo público.
Para deixar mais misturado ainda, a tendência da vez é aplicar as cores fortes na marcenaria de estilo Provençal, que é aquela cheia de acabamentos emoldurados e com design mais clássico. “Na marcenaria, o vintage se apresenta nos acabamentos emoldurados do estilo Provençal, no uso de lambris e de cores vibrantes, contrastando com as linhas retas e cores neutras do estilo minimalista”, contam as profissionais.
Acabamentos vintage
Saindo um pouco do tópico dos móveis e indo para os acabamentos, o granilite, que foi popularizado nos anos 40 por ser uma alternativa mais barata que o mármore, conquistou um belo espaço nesta era contemporânea não só revestindo pisos, como também bancadas e mesas. Mas, agora, ele vem sendo produzido com uma tecnologia mais moderna, permitindo ampliar sua aplicação, o que fez cair ainda mais no gosto do público.
E, claro, um item vintage icônico entre os brasileiros e que não podia faltar, são os azulejos coloridos, hidráulicos e com formas geométricas. Rafaela explica o motivo desse retorno: “Isso permite renovar um espaço reaproveitando o material que já está instalado e, como muitas marcas voltaram a produzir esse tipo de revestimento, é possível até ampliar esses ambientes sem perder a identidade. Isso impulsionou o uso desses elementos em muitos projetos contemporâneos”.
Tudo em nome da sustentabilidade e da memória afetiva
Assim como o que acontece na moda com os brechós e os re-commerces, o ramo da arquitetura e do design estão aproveitando esse retorno do vintage para reutilizar produtos originais, o que poupa a utilização de mais materiais, o uso de recursos naturais e o desperdício. Há também a fabricação de itens novos inspirados em tendências do passado, mas a produção seria maior se não fosse esse reaproveitamento de peças antigas.
Além disso, pessoas que moram em casas muito antigas e que, seja pela estética ou pelo valor sentimental-familiar, querem manter o estilo do lar levam vantagem. Quanto mais idade tem o imóvel, mais manutenção ele exige, e, para não perder nada de valioso em sua arquitetura e decoração, peças idênticas às originais, fabricadas atualmente ou não, podem substituir o que está danificado.