Lançado no último dia 28 de outubro, o livro Tia Beth, de Leonardo de Moraes, teve o seu evento de lançamento divulgado aqui no UR. Após isso, confessamos, o interesse pela obra bateu, já que a trama é ambientada desde os anos 40 até os 90, lemos e decidimos publicar uma análise sobre.
Relembrando o enredo, Tia Beth conta a história de sua personagem-título, uma senhora que decide reunir suas memórias e dores do passado em um livro biográfico, no qual seu sobrinho-neto Leo foi convocado pela própria para escrevê-lo. Portanto, o jovem universitário vai em busca de mais informações que vão além do dito pela sua tia-avó, ele vasculha cartas, documentos, diários antigos da protagonista (sob a autorização dela, é claro!), depoimentos de pessoas envolvidas e até mesmo da espiritualidade.
Muito mais que apenas saber e escrever sobre a história de sua tia Beth, Leo também se vê no papel de um detetive, já que aquele passado em questão carrega segredos e o mistério do desaparecimento de seu filho, o cantor e poeta Tavinho, durante a Ditadura Militar, situação essa o ponto principal da obra. Ao mesmo tempo em que ele vai coletando informações para o livro, o garoto também vai desvendando tudo o que tem que desvendar e ajudando a resolver tudo o que está pendente por anos na vida da tia-avó.
É como ler um livro da coleção Vaga-Lume voltado para adultos
Não se sabe se foi intenção do autor, mas pelo estilo de narrativa e o fato de ter um garoto desvendando mistérios com a ajuda de parentes mais velhos (além da tia Beth, também havia o seu pai Bernardo), o livro faz lembrar os da clássica coleção Vaga-Lume, só que voltado para o público adulto.
Para quem não se lembra ou nunca chegou a ler, os livros desta coleção carregam uma narrativa de formato policial e, muitas vezes, em primeira pessoa, mas bem descontraída e com frequentes pitadas de humor leve. Além disso, seus protagonistas sempre são jovens, adolescentes ou até mesmo pré-adolescentes, desvendando mistérios com a ajuda de uma pessoa mais velha, como um tio, um professor ou qualquer outra de confiança, ao mesmo tempo em que resolvem os seus próprios dilemas típicos da idade.

O livro Tia Beth tem todas essas características citadas, com a diferença de que aborda assuntos mais complexos, entre eles o cigarro e a bebida usados como consolo, questões como sexo, aborto, saúde mental, tabus familiares e a vida após a morte, além de fatos históricos, mais precisamente a Segunda Guerra Mundial, os campos de concentração instalados no Brasil e a Ditadura Militar. Tudo isso sem mencionar as chocantes revelações que empolgam o leitor a cada virada de página.
Não basta ser ambientada em um pouco mais da metade do século XX e trazer altas referências dessa época, a trama tem que ter a cara (um tanto mais crescida, aliás) da coleção Vaga-Lume para atiçar ainda mais a nossa sede pela nostalgia.
Já que citamos a época ambientada e suas referências…
Para quem ama uma boa trama de época, este livro é todo carregado de referências de décadas passadas. Com ambientação principal nos anos 90, as memórias da tia Beth intercalam entre as décadas de 40, 60 e 80, sem ordem cronológica, mas sim de acordo com o que é revelado no decorrer do enredo.
Quanto às referências mostradas em cada década, estas misturam nostalgia com questões culturais e históricas. Enquanto que os anos 90 mostram seus avanços tecnológicos, como o telefone fixo com extensão e a chegada do Google, os anos 40 citam os clubes da alta sociedade, os colégios de freira e um pouco da era de ouro do cinema americano, assim como os anos 60, que aborda sobre os festivais e as manifestações. Não há nenhuma ilustração no livro, mas a imaginação de todo adepto da cultura retrô agradece!

Conclusão
Tia Beth é um livro que agrada a vários perfis, pois nele há questões importantes sendo abordadas, envolve revelações e reviravoltas dignas de novela, além da nostalgia e muitos mistérios. Publicada pela Insígnia Editorial, a obra está disponível na Amazon e no site da editora.