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Valentine’s Day: Editorial ‘Dream Lover’ reflete sobre o ideal de amor dos anos 1950 até os dias atuais

13 de fevereiro de 2020, por Mirella Fonzar
Lifestyle

Tradicionalmente o Dia dos Namorados no Brasil é celebrado em 12 de junho, dia de Santo Antônio, conhecido como o “Santo Casamenteiro”. No entanto, há também o Valentine’s Day (Dia de São Valentim) no dia 14 de fevereiro, data escolhida nos Estados Unidos e Europa para celebrar o amor. Conheça as diferenças no editorial que fizemos ano passado, aqui.

Aproveitando este período de celebrações, que começou a invadir também o calendário brasileiro nos últimos anos, dessa vez apresentamos o editorial “Dream Lover”, protagonizado por mim, Mirella Fonzar (Miss De-Lovely), e produzido pela Pin-Up Lady Orchid Royale. O nome remete à música de 1959 do cantor Bobby Darin e ilustra bem o clima desta época.

Num quarto antigo na Casa do Barão – um antiquário localizado em uma mansão no bairro do Pacaembu, em São Paulo -, encarno uma garota apaixonada da década de 1950, que sonha com o príncipe encantado em sua intimidade.

Ensaio Romântico Pin-Up Valentine's Day

Foto: Jhenny Photography

O clima de romantismo é garantido pela decoração vintage do local, composta por cortinas florais, dossel de voil branco e roupa de cama de seda salmão. Para compor o visual dessa jovem, um penhoar da década de 1950 sobreposto a um conjunto de lingerie retrô de renda em tons de rosa e branco. No cabelo, um lenço de organza arrematado com um laço.

Clicadas por Jhenny Photography, as fotos deste editorial são a forma que encontramos de ilustrar a reflexão a seguir sobre a construção do ideal de amor romântico, as mudanças nos relacionamentos ao longo dos anos e principalmente as influências da cultura pop na criação deste conceito.

Ensaio Romântico Pin-Up Valentine's Day

Foto: Jhenny Photography

O CONCEITO DO AMOR ROMÂNTICO

O conceito de amor romântico surgiu no final da Idade Média, mas foi se propagar definitivamente com o surgimento da cultura de massa na década de 1940. Em meio a uma efervescência de músicas, filmes e livros, que ilustravam uma nova maneira de se relacionar, a sociedade ocidental passou a acreditar em relacionamentos amorosos que culminassem em casamentos felizes e duradouros, no famoso “e viveram felizes para sempre”.

Apesar dessa idealização presente no inconsciente coletivo dos jovens dessa época, até o começo da década de 1960 enxergava-se o casamento como uma obrigação social e, no caso das mulheres, uma necessidade e um dos maiores objetivos da vida, já que precisariam encontrar um homem que sustentasse o lar, por não ser comum elas trabalharem.

Foto: Jhenny Photography

AMOR X CASAMENTO

Nessa época, por exemplo, uma garota com mais de 25 anos já era considerada “encalhada” perante a sociedade e uma grande preocupação para sua família. Portanto, a necessidade de encontrar um bom marido muitas vezes era maior do que encontrar um grande amor. Um solteiro de 30 anos, com estabilidade financeira, era a representação de um bom partido na década de 1950.

O problema é que, se encontrassem o candidato perfeito, as mulheres não poderiam tomar o primeiro passo. Os homens eram os responsáveis por tomar a iniciativa no “flerte”. Cabia a elas apenas se destacar socialmente de forma respeitosa; então, estrategicamente, a maioria procurava estar sempre bem vestida, de bom humor e aparentar doçura e feminilidade.

Ensaio Romântico Pin-Up Valentine's Day

Foto: Jhenny Photography

A espontaneidade feminina era algo extremamente condenado nos anos 1940 e 1950. As atitudes eram tomadas com o intuito de não “manchar a honra” da garota ou envergonhar sua família. Portanto, moças consideradas “de família” não abusavam do álcool e jamais poderiam avançar o sinal com um namorado. Apesar do rock ‘n roll estar em pleno auge, a perda da virgindade antes do casamento ainda era um enorme tabu para a sociedade da época.

Para se ter noção, até as revistas deste período classificavam as jovens como “moças de família” ou “casadouras” e “moças levianas”. As moças consideradas casadouras conseguiam mais facilmente um pretendente ao casamento. Já às levianas, não eram aceitas socialmente e dificilmente conseguiriam arranjar um namorado que as levasse ao altar.

Ensaio Romântico Pin-Up Valentine's Day

Foto: Jhenny Photography

Com a garantia que seria uma boa esposa e dona de casa, a namorada deveria mostrar-se uma mulher de respeito, atenciosa e prendada – bem no estilo “bela, recatada e do lar”. Os namoros nos anos 1950 eram uma espécie de preparação para o casamento. Apesar de todo o romantismo pregado pela cultura pop da época, a união deveria agradar as famílias e ser algo lucrativo para ambos os lados. O amor ainda era algo passivo e a mulher extremamente submissa ao homem, sem voz ativa no relacionamento.

FEMINISMO E AMOR LIVRE

Esse cenário começa a mudar consideravelmente a partir da década de 1960. A invenção da pílula anticoncepcional vem revolucionar a relação entre as mulheres e sua sexualidade. É nessa época que elas começam a questionar o sexo apenas para a procriação, como era pregado pela igreja, e evidenciar o próprio prazer. Este avanço científico somado à ascensão dos movimentos de contracultura garantiu à mulher o domínio da sua própria sexualidade.

Neste período, o Movimento Feminista começa a denunciar as desigualdades de gênero e questionar os papéis tradicionais de esposa, mãe e dona de casa. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, já não há mais motivos para manter um relacionamento apenas por motivos financeiros. Assim, o divórcio passa a não ser mais tabu e os dogmas religiosos começam a ser deixados de lado. É neste período que o amor começa a se libertar e não mais depender da aprovação familiar e social, já que o casamento passa a ser uma escolha, em tese, exclusivamente do casal.

Ensaio Romântico Pin-Up Valentine's Day

Foto: Jhenny Photography

O AMOR NOS DIAS DE HOJE

Seria ilusório dizer que a partir da década de 1960 foram cessadas todas as desigualdades entre os gêneros e o amor livre passou a ser vivido a torto e a direito. Apesar da independência feminina e ascensão dos encontros casuais, do poliamor e dos relacionamentos abertos, ainda hoje, a maior parte dos casais continua preso a certos conceitos do começo do século passado, como “encontrar o grande amor e viver feliz para sempre”.

Esses conceitos de contos de fadas estão enraizados no inconsciente coletivo e são responsáveis por muitas frustrações, já que as pessoas acabam idealizando uma perfeição que não existe em seus parceiros. De fato, a cultura pop é até hoje grande culpada por tudo isso. Uma Millennial da geração Y, como eu, por exemplo, que cresceu assistindo filmes da Disney – onde princesas são resgatadas por príncipes em seus cavalos – precisa trabalhar muito na desconstrução do significado de amor.

Ensaio Romântico Pin-Up Valentine's Day

Foto: Jhenny Photography

O amor não é perfeito. Ele não vem de cavalo branco. O amor talvez não esteja no príncipe encantado mais lindo do reino. Talvez esteja naquele cara meio desengonçado que faz você rir até doer a barriga. Naquela pessoa que te respeita e que permite que vocês caminhem juntos, lado a lado. Compartilhando nem sempre momentos de felicidade. O grande amor como o de cinema talvez nem exista de verdade. O que existem são seres humanos passíveis a erro e em constante evolução.

Que neste ou em outro Dia dos Namorados, a gente passe a reflitir um pouco mais sobre as expectativas e frustrações do amor.

PLAYLIST ESTÚPIDO CUPIDO

Fontes e sugestões de leitura:

Mito do Amor Romântico – Nexo Jornal

Relações amorosas ao longo das décadas: um estudo de cartas de amor

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