A Hammond revolucionou o rock dos anos 60 inserindo o órgão em seus arranjos, mas foi a Vox Continental que reforçou a rebeldia deste gênero. Confira sua história:
A sofrência dos tecladistas no palco
A vida dos tecladistas rockeiros dos anos 60 para trás não era nada fácil. Até aquela década, as bandas que se destacavam com teclas nos arranjos ou usavam pianos acústicos, ou usavam órgãos Hammond. Seja piano ou órgão, o resultado das músicas era maravilhoso nos discos de estúdio, mas a história se complicava quando se tratava de shows.
Enquanto que o piano era pesado, desafinava sempre quando era transportado e era extremamente difícil de ser amplificado corretamente para serem ouvidos no meio de guitarras elétricas e baterias, o Hammond, em especial o modelo B-3, que era o mais usado no cenário do rock, não só tinha o mesmo peso que o instrumento anterior como também era vendido a um preço bem salgado. Sua fabricante até tentou consertar isso lançando o “semi-portátil” M-3 no início dos anos 60, mas, apesar de mais leve que o anterior, continuava monstruoso.
O motivo de um instrumento eletrônico ter o mesmo peso de um piano era que todos os modelos da Hammond, semi-portáteis ou não, usavam tonewheels como geradores de som. Essa tecnologia era um conjunto de rodas metálicas que giravam em frente à captadores eletromagnéticos, sendo que cada roda e captador era instalado em uma tecla. Além disso, havia um motor para fazer todas essas 96 duplas de peças funcionarem, imaginem a engenhoca por dentro de um simples órgão!
A chegada do transistor e o Vox Continental
Mas tudo isso mudou com a chegada do transistor, que não só revolucionou o mercado de órgãos como o eletrônico em geral. A partir daí, esses instrumentos se tornaram mais leves e, o que seria feito apenas para o entretenimento doméstico, acabou chamando a atenção de rockeiros. Os primeiros modelos transistorizados não estavam prontos para suportar a vida de rockstar e acabavam parecendo brinquedo de criança perto das guitarras e baterias da época, até que a Vox entrou em cena.
Sem fabricar órgãos há algum tempo, a empresa britânica JMI, que já fazia um tremendo sucesso com seus amplificadores Vox, voltou a produzir o instrumento. Porém, diferente de seus primeiros anos, onde ela fabricava modelos robustos de madeira apenas para uso doméstico e para igrejas, os mais novos eram pensados para as bandas e seus shows – todo transistorizado e com um design moderno e descolado em tons de vermelho alaranjado e preto. E, por razões óbvias, esse novo modelo (que depois virou linha) foi batizado de Vox Continental.
Para não confundir quem já trabalhava com os Hammonds, o novo instrumento tinha uma interface bastante semelhante, incluindo os drawbars e sets de vibrato. Ainda, ele era mais fácil de amplificar e podia ser parcialmente desmontado e embalado em seu próprio case para facilitar o transporte. Seu timbre diferenciado também era perfeito para solos rápidos e destacados, como os tocados pelo The Doors, The Who, The Animals…vixe, a lista é longa!
A Vox Super Continental e suas imitações
Com o sucesso do Vox Continental, a empresa lançou outra versão mais sofisticada, o Vox Super Continental. Enquanto o primeiro modelo possuía quatro oitavas, o segundo, que se tornou top de linha, era dual-manual, com teclas de cores invertidas e um acabamento pensado para ser exibido na recém-chegada televisão a cores. Logo, a agora linha Vox Continental ganhou imitações de outras fabricantes, como a Farfisa e a Yamaha, por exemplo, transformando o modelo original em um novo tipo de instrumento, o órgão combo.
No início dos anos 70, uma época psicodélica que exigia muitos efeitos especiais nas músicas, houve a introdução dos teclados e sintetizadores mais sofisticados igualmente portáteis e ainda mais acessíveis, como o Moog. Por conta disso, o Vox acabou se tornando obsoleto e caiu em desuso, sendo literalmente abandonado no fundo dos porões de vários estúdios, mas foi ressuscitado entre os anos 80 e 90 por grupos como Stereolab e The Fleshtones.
Hoje, o órgão Vox é considerado um instrumento cult e é sonho de consumo de alguns músicos e bandas alternativas. Além disso, sua característica cor da carcaça ainda é imitada em vários teclados atuais, como as da Nord.
Meu sonho esse órgão
Gente, o meu também haha! <3