Com a explosão do rock ‘n’ roll na década de 1950, muitos lugares no mundo aderiram a essa “nova dança”, e aqui no Brasil não foi diferente. A “coqueluche” da juventude (termo comum na época), especialmente após a exibição do filme “Sementes de Violência” (Blackboard Jungle) na segunda metade da década, fez com que surgissem muitos conjuntos inspirados no gênero, eis um dos mais importantes e originais deles: The Angels.
O grupo, que depois ficou conhecido como The Youngsters, começou ser formado no final dos anos 50 no Rio de Janeiro. Além de seus próprios discos, gravaram com Roberto Carlos nos álbuns do cantor até 1965, com músicas que o levaram a estourar com Jovem Guarda. Entre eles, sucessos como, “Parei na Contramão”, “É Proibido Fumar”, “Calhambeque” e “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”.
Também gravaram discos de outros artistas, como, The Golden Boys, Wanderleia, Célia Villela, etc. Podemos perceber que o conjunto, além de ter material próprio, interpretou e gravou de forma única as músicas de outros artistas. Mas, não era uma mera “reprodução” próxima das originais, como era mais comum para muitos conjuntos da época.
Formada pelos irmãos, Carlos Becker (voz e guitarra base) e Sérgio Becker (sax tenor), Jonas Damasceno (baixo), Romir Andrade (Bateria) e Carlos Roberto (guitarra solo), lançaram pela lendária gravadora Copacabana três LPs compactos, depois já como The Youngsters, na CBS e ainda pela Polydor no fim dos anos 60.
Descobrindo The Angels
Por influência dos meus pais, no final dos anos 80, passei a me interessar pelos antigos LPs de Roberto Carlos, pois era bem acessível encontrar as reedições em lojas convencionais, então adquiri os álbuns: É Proibido Fumar (1964), Canta para Juventude (1964), e Jovem Guarda (1965), todos gravados com acompanhamento de The Angels, que também haviam gravado várias músicas do LP Splish Splash (1963). Então, aquele som ficou marcado para mim, especialmente a sonoridade “daquela banda” que acompanhava Roberto.
Em 2002, já como artista/músico, durante uma temporada de shows em São Paulo, aproveitei para conhecer as lojas de discos das “Grandes Galerias”, achei em uma das prateleiras o LP, “The Angels – Hully Gully“, sem muita certeza se era o mesmo pessoal dos discos de Roberto. Lembro bem como ouvi entusiasmado mais de uma vez esse LP, até hoje escuto bastante e com o mesmo entusiasmo, pois a sonoridade, os timbres de seus instrumentos, a ambiência do estúdio, a capa e estilo particular de executar cada instrumento chamam bastante atenção.
O contato com Romir, baterista da primeira fase dos The Angels
Como gosto muito de história, acho importante e inspirador buscar contato com quem tem um legado, o que pode servir de base para gerações futuras. Na busca por notícias e mais informações sobre The Angels e por onde andavam seus ex-integrantes, descobri Romir, o baterista da primeira fase e dos discos de Roberto, e pela internet soube que estava lançando um livro, Memórias de um Baterista Canhoto, que traz relatos sobre suas experiências musicais daqueles tempos mágicos.
Nos primeiros contatos, já tive a impressão de ser uma pessoa do bem, além de um dos meus heróis dos discos, sem dúvida algo marcante e histórico para mim, poder ouvir do próprio algumas das histórias relatadas no livro e outras mais. Desse contato surgiu algo mais, pois o convidei para uma participação em uma música que compus para homenagear seu antigo conjunto. E, felizmente ele aceitou! De bônus, trago ainda para os leitores do Universo Retrô uma entrevista com Romir Andrade, que vocês poder ler aqui.
Muito legal! Não os conhecia por nome.
Massa, caro Rodrigo, o brigado por comentar!
No começo da internet, o site “Senhor F”, junto a Marcelo Fróes e Ricardo Pugliali divulgaram em muitos lugares a versão de que nesses discos quem acompanha era Renato & seus BC. `Pugliali chegou a escrever que “era sempre Renato, mais The Fevers, não interessam as fotos na contracapa” (!!!???). Eles não se conformavam com a alta qualidade do som dos Angels/Youngsters, que foram os ÚNICOS que acompanharam RC como banda completa e arranjos. O Renato e seus BC jamais acompanhou como banda completa — como Fróes disse em encartes de reedições, porcamente pesquisados e pensados — , mas alguns membros, dois ou três, junto a membros do RC-7, conforme a faixa, banda de metais e cordas da CBS, e outros arranjadores da casa sempre sob a direção de Roberto (no início o Roberto não gostava do som do Renato, que depois cresceram e aprimoraram suas execuções gravando com ele e outros da gravadora). O Lafayette disse que muitas vezes os metais daquela época, dos discos de 67 em diante, eram de membros da banda dele. Aliás, faltou dizer que Lafa, que entrou no “Canta para a Juventude” foi fundamental na formatação da sonoridade desses discos iniciais, junto aos fabulosos The Angels. Com o tempo a verdade prevaleceu, eu mesmo corrigi a besteira em muitos lugares e agora todos podem saber quem foi aquela banda única que acompanhou RC. Bola preta e 7 a 1 para Marcelo Fróes, Fernando Rosa e P)ugliali (essas coisas, só no Brasil mesmo…). Os Angels originais foram únicos, pioneiros, e dos sons mais distintos e alto nível em discos do gênero, mesmo que as distorções ainda persistam, como aquelas opiniões no livro RC em Detalhes, de que o som dos Youngsters / Angels seria “ultrapassado para o momento” (coisa de imbecis mesmo)..
Fico feliz por comentar, caro Carlos Ribeiro!
De facto, acho que The Angels/Youngsters são um dos conjuntos brasileiros mais injustiçados da geração Pré-Jovem Guarda e Jovem Guarda.
Na minha opinião particular, em parte por não gravarem muito em português, especialmente na 1ª fase.
Mas talvez principalmente por tocarem mais pela paixão de tocar e gravar, não estavam lá muito por uma questão comercial e financeira, então no mundo do Show Business (falo por experiência própria) quem não é muito “ambicioso” e ama mais a arte que o “negócio”, acaba ficando “debaixo do tapete” como diz o ditado. Pelo menos essa é a minha impressão das conversas que tive com o próprio Romir (um gentleman), eles não pensavam que fariam o sucesso que tiverem naquele tempo.
Há informações que Renato e Seus B.C. (que também sou fã) gravaram, se não falha a memória, três canções que estão no álbum da capa “verde bebê”, de 1963, inclusive o baterista Romir Andrade, cita em seu livro “Memórias de um Baterista Canhoto” e que daí em diante até o LP Jovem Guarda (como supracitado as fotos deles na contracapa com Roberto no Estúdio) foram eles, e que eles mesmos faziam os arranjos tanto em versões quanto canções autorais, Roberto avaliava e dava uma sugestão ou outra e depois só gravava.
Não, essa informação não procede. O Renato participou do single, meses antes, e nesse disco de 63 foram os Angels, em três ou quatro faixas, conforme consta de ficha técnica lançada naquelas caixas de CD. O Renato evoluiu seu som e sua performance com o passar dos anos, mas no começo o Roberto não gostava do som deles, excessivamente “garagem” e dissonante, como se ouve no primeiro LP de 64. O Paulo César Araújo, do livro RC OUTRA VEZ, sempre falou umas besteiras sobre os Angels/Youngsters, que sax estava fora de moda etc… Tudo bobagem, pois os anos 60 se destacaram pela entrada de tudo quanto é tipo de instrumento nos arranjos e o som deles era super enxuto. A grande verdade é que aqui no Brasil tem toda uma enorme galera que jamais se conformou que foram os Youngsters que fizeram o som de discos como o Jovem Guarda (dizem que a banda não é boa — como o Marcelo Fróes — mas querem por que querem aquele som de crédito para o Renato. O site “Senhor F” chegou a produzir uma matéria forjada, com participação de Ricardo Puglialli, lá pelos anos 2000 e pouco, que dizia que “não importa quem esteja nas fotos”, o fato é que o Renato , diziam eles, teria gravado esse disco em úma única sessão na CBS no dia tal e tal. Isso não consta em nenhuma ficha técnica. Mesmo hoje em dia, não aceitam isso numa boa, muitos ficaram realmente nervosos, raivosos e doentes por causa disso, criam páginas falsas pra dizer que Roberto Carlos seria “plagiador” do Renato — na verdade RC e seus discos foram uma escola de aperfeiçoamento istrumental e de composição para esta e outras bandas e muita gente . Sim, eles são doentes, muitas vezes mau caráter, o aficcionado típico de bandinhas, solos de guitarra, etc., mas a verdade tem que ser dita e posta a limpo. Parabéns por não ser um deles.
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Maravilha demais…!
Ainda bem que existem pessoas como vc…para nos informar
dessa preciosidade????…!
Que maravilha saber que o The youngsters é que gravaram
com Roberto até 1965..!
Vc sabe me dizer se o album Roberto Carlos 1966…
que têm aquela capa à la With the Beatles…!
Se já é Renato e seus blue caps ? nas gravações?
Fico muito feliz e grato por seu comentário, caro Paulo Moleda!
Talvez não haja uma informação concreta sobre quem gravou o referido álbum de Roberto Carlos de 1966, mas o próprio Renato Barros em entrevista no site da colega Lucinha Zanetti, “WE LOVE THE BEATLES FOREVER”, cita que acredita ter sido aindo The Youngsters. Eu sempre acreditei que foi The Jet Blacls, com o Gato (José Provetti) na guitarra. Vou pesquisar mais a fundo depois. Super abraço!
Quanta saudade dos ensaios na casa dos irmãos Carlinhos e Sérgio, na rua Constante Ramos !
Carlos Roberto dos Santos, guitarrista , e Romir Pereira de Andrade, batera, eram meus amigos pessoais.
Muitas recordações!
Imagino quão fantásticos momentos vocês vivenciaram, caro Gustavo! Obrigado por comentar!