Nada mais importante para o nosso Brasil relembrar os detalhes mais marcantes da ditadura militar que assombrou nosso país entre os anos de 1964 até 1985, principalmente os que marcaram o período entre 1968 e 1978, com a implementação do Ato Institucional nº5 (AI-5), que tornou a censura mais rígida e violenta, além de influenciar a cultura e os costumes da época.
Aqui, nesta matéria, vamos dar ênfase às prisões de Caetano Veloso e Gilberto Gil, que causou impacto com a história mundial, a do Brasil e a da música há 50 redondos anos atrás.
Em 1967 a Tropicália começava a tomar forma, os líderes do movimento eram nada mais e nada menos que Caetano e Gilberto, dois jovens amigos desde os tempos da faculdade que estavam começando suas carreiras no meio musical e protestando contra a ditadura por meio de suas canções nos festivais televisivos, em alta na época.
Alegria, alegria de Caetano e Domingo no Parque de Gilberto foram as canções que representaram a inauguração oficial do movimento, que será abordado em outra publicação do site.
O movimento e os protestos estavam fluindo tranquilamente até o mês de dezembro de 1968, quando o governo (do General Costa e Silva na época) reforçou de forma absurda a censura no país.
Se aquele que caminhava pela rua tarde da noite, seja sozinho ou em grupo, já era violentado e condenado à prisão, seria mais ainda se ele se manifestasse publicamente contra a ditadura, seja em forma de protesto, debate, boicotes e até mesmo de forma artística, o que era o caso de Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros músicos como Chico Buarque e Os Mutantes, além de cineastas, atores, atrizes e artistas plásticos.
Apenas 14 dias após o AI-5 entrar em vigor, em dezembro, Caetano e Gil foram levados de camburão de São Paulo até o Rio de Janeiro, viagem esta que levou 5 horas de estrada, sem nenhum aviso prévio. Os dois cantores passaram um longo mês em pequenas celas sem higiene nenhuma, com uma dieta resumida apenas de pão, raros momentos de banho de sol, com suas cabeças raspadas e ouvindo gritos agonizantes de tortura vindos de celas vizinhas.
No mês seguinte, em janeiro de 1969, Caetano e Gil foram levados para quartéis separados e finalmente foram interrogados, foi aí que eles souberam o motivo da prisão. Eles foram denunciados por um jornalista vinculado à polícia militar que estava presente em um show que eles fizeram em uma boate no Rio de Janeiro no mês de outubro, regado a músicas de protestos e várias confusões envolvendo a platéia, que se dividia entre manifestantes contra a ditadura e a população conservadora, o motivo da denúncia foi o desrespeito de dois símbolos nacionais.
Terminada as investigações, os policiais liberaram Caetano e Gil, porém na condição de prisão domiciliar e sem ter o direito de aparecer na mídia, participar de atos, fazerem shows e declarações públicas, até que foram obrigados ao exílio do país para Londres, que influenciou o fim da Tropicália. Para isso, precisaram realizar dois shows autorizados pelos militares nos dias 21 e 22 de julho de 1969 para arrecadar fundos para os custos da viagem, que foi no dia 27 do mesmo mês.
Junto com Caetano Veloso e Gilberto Gil, também foram para Londres o empresário da dupla e suas respectivas esposas. Mesmo exilados, os dois cantores continuaram suas carreiras fazendo shows pelas comunidades hippies de Londres. Enquanto Gil fazia contatos com vários músicos e outras figuras importantes do meio hippie britânico, além de aprender várias filosofias que influenciou o seu estilo de vida, Caetano tendia a ser mais introvertido por sentir falta de sua terra.
Em 1971, durante o exílio, Caetano lançou seu álbum London London, cuja as letras de suas músicas eram inspiradas na saudade que tinha das praias calmas, das palmeiras e tudo mais que remetia ao Brasil, segundo ele, esse álbum foi um “registro de depressão”. Para ser lançado aqui nas terras tupiniquins, Caetano gravou sua voz e violão e enviou a gravação ao compositor e maestro Rogério Duprat, que, em seguida, cuidou dos arranjos e do lançamento do disco.
Caetano Veloso e Gilberto Gil só voltaram a morar no Brasil em 1972, hoje, segundo um artigo em inglês publicado no The Guardian em 2010, os dois relembram do exílio com carinho. “Nunca quis viver fora do Brasil, mas Londres é uma das cidades mais interessantes do mundo, e tenho sorte de ter vivido lá.”, disse Gil. Já Caetano afirma: “Só agora posso dizer que gosto da música que gravei ali, as coisas que aprendemos no exílio nos tornaram músicos mais criativos. Também nos tornou pessoas mais fortes.”