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Mulheres na Semana de 22: 4 artistas que participaram do histórico evento

22 de fevereiro de 2022, por Leila Benedetti
Eventos
Mulheres na Semana de 22

A Semana de 22 foi revolucionária para a cultura do país e, nela, houve a presença de nomes ilustres, tanto homens como mulheres. Mas, como na época a figura masculina ainda predominava e muito, o time de artistas era formado em sua maioria por homens e, para variar, foram eles que levaram o total crédito sobre o acontecimento, deixando o pouco de mulheres que participaram caídas no esquecimento.

Curiosamente o único nome feminino a entrar para a história do evento foi o de Tarsila do Amaral, que, apesar de ter feito parte do Grupo dos Cinco, nem participou da ocasião, aliás, nem estava no país. Anita Malfatti também ficou conhecida, porém mais pela amizade misturada com rivalidade entre ela Tarsila, tornando-a “vilã da história”, do que pelo seu trabalho. Agora, vamos corrigir uma parte da história feminina e listar as mulheres que realmente marcaram a Semana de 22, confira:

Anita Malfatti

A artista plástica brasileira foi quem deu o pontapé inicial para que o Modernismo se instalasse no país. Formada em escolas e academias pelo exterior, como a Academia Real de Belas Artes, em Berlim, e a Arts Students League, em Nova York, Anita, que já havia nos apresentado para o Expressionismo em 1914, nos introduziu ao Modernismo com uma exposição realizada em 1917, que gerou um choque violento por parte da imprensa, principalmente de Monteiro Lobato, que, na época, era crítico de arte para O Estado de São Paulo e publicou a crítica Paranóia ou Mistificação?, abominando a Arte Moderna.  

Na Semana de 22: Nesta época, Anita estava em hiato por um ano com suas obras para estudar técnicas da natureza-morta. Ainda, neste mesmo período, ela conhece e faz amizade com Tarsila do Amaral, além de ser incentivada pelos amigos a participar do marcante evento e do Grupo dos Cinco, ao lado de Tarsila, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti de Picchia.

Pós Semana de 22: A pintora foi para Paris em 1923 e permaneceu por lá até 1928, realizando exposições na cidade-luz, Berlim e Nova York. Depois disso, ela voltou para São Paulo para lecionar desenho na Universidade Mackenzie até 1933. Já em 1942, ela foi nomeada presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. Anita Malfatti deixou uma carreira brilhante nas artes, além de várias obras expostas pelos principais museus brasileiros ao falecer em 1964. 

Anita Malfatti
(Anita Malfatti.| Foto: Reprodução)

Regina Graz

A pintora, decoradora e tapeceira passou entre os anos de 1913 e 1920 estudando na Escola de Belas Artes e de Artes Decorativas de Genebra, na Suíça, ao lado de seu irmão e de seu então futuro marido. Depois de formados, os três passam a trabalhar com pinturas e objetos decorativos em estilo art deco. 

Mesmo sendo pintora, seu foco maior era a decoração de interiores, em especial nos suportes têxteis, trabalhando com tapeçarias de veludo, panneaux e almofadas. As estampas que ela criava para as peças se aproximavam do abstrato geométrico, estilo esse vindo do cubismo. Outro destaque foi seu pioneirismo no interesse pela tradição indígena brasileira ao estudar a tecelagem do Alto do Amazonas para compor parte de sua obra. 

Regina Graz
(Retrato de Regina Graz. | Arte: Antônio Gomide/Sergio Roberto Guerini/MASP)

Na Semana de 22: Regina foi importante para a história do Modernismo brasileiro, pois foi quem empregou elementos abstratos e geométricos na Arte Moderna brasileira. Apesar de não ter muita informação sobre a participação dela no evento, suas tapeçarias foram expostas no saguão durante a Semana de Arte Moderna

Pós Semana de 22: As obras de Regina foram consagradas até os anos 40, porém, na maioria das vezes, quem levava o crédito principal por elas era seu marido, reduzindo a moça na história como “colaboradora” ou sendo citada apenas como “esposa” ou “irmã” de artistas. Hoje, a reparação histórica sobre seu legado artístico vem sendo debatido. 

Zina Aita

A artista passou dos 14 aos 18 anos estudando pintura, desenho e cerâmica na Itália. Quando voltou ao Brasil, em 1918, a jovem entrou em contato com o Modernismo, principalmente por meio de Anita Malfatti e Mário de Andrade. Em 1920 ela realiza sua primeira exposição em Belo Horizonte e se torna a pioneira do movimento em Minas Gerais. 

Na Semana de 22: Sob influência de seus amigos artistas, entre eles os mesmos que lhe abriram portas para ingressar no movimento, Zina participou do evento expondo oito de suas obras, que mostravam que a pintora tinha uma tendência decorativa, preferência pela figura humana e uma forte ligação com o Impressionismo. Segundo o historiador Yan de Almeida Prado, o trabalho dela foi o que mais agradou o público em relação às artes plásticas naquela Semana. 

Pós Semana de 22: Após realizar algumas exposições individuais, Zina voltou a morar na Itália e viveu por lá até sua morte, em 1967. Enquanto habitava o país, ela largou a pintura e se dedicou à cerâmica, dirigindo uma fábrica do ramo na cidade de Nápoles, além de estudar mais sobre a técnica.   

Zina Aita
(Zina Aita. | Foto: Domínio Público)

Guiomar Novaes  

A pianista começou sua carreira ainda criança, sendo sua primeira apresentação pública como artista feita aos oito anos de idade. Aos 15 anos, ela foi estudar no Conservatório de Paris, na França, com o auxílio do Governo do Estado de São Paulo e chegou a tocar para a Princesa Isabel, que, na época, estava exilada em Versalhes. A partir daí ela teve uma carreira internacional sólida, fazendo apresentações de peças já consagradas por toda a Europa. 

Na Semana de 22: Guiomar frequentemente voltava para o Brasil para se apresentar, sendo o seu primeiro concerto brasileiro após sua mudança para a Europa realizado em 1914 no Rio de Janeiro. Entre essas voltas para o país, está a sua participação na Semana de 22, em que ela tocou no terceiro dia do evento peças de Debussy e Heitor Villa-Lobos. Naquele dia, ela foi a única artista a ter uma plateia silenciosa e a receber aplausos calorosos do público.  

Pós Semana de 22: A artista voltou a realizar seus concertos bem-sucedidos pela Europa e se tornou cada vez mais ilustre, recebendo peças de compositores importantes e vários méritos não só de países europeus como também do Brasil. Guiomar Novaes permaneceu na ativa até 1973 e faleceu em 1979. 

Guiomar Novaes
(Guiomar Novaes. | Foto: Reprodução)

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