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Semana de 22: 100 anos de revolução cultural no Brasil

21 de fevereiro de 2022, por Leila Benedetti
Eventos
Semana de 22

Apesar de ainda ser visto como “aberração” ou como “poluição visual” para alguns, a vinda do modernismo é considerado um marco para a cultura brasileira. O movimento recebeu grande popularidade graças a um evento de três dias promovido por artistas que, hoje, são indispensáveis nos nossos livros de história, a Semana de 22. Também chamado de Semana de Arte Moderna, o acontecimento apresentou para nossas terras tupiniquins pinturas, esculturas, poesias, obras literárias e músicas do movimento. 

A elaboração da Semana de 22

Há quem se engane que o modernismo começou a ser pensado por aqui exatamente em 1922, durante a icônica Semana. Entre o final da década de 1910 e começo da de 1920, a elite brasileira, que era totalmente influenciada pelas tendências estéticas da Europa, se via na necessidade de renovar a cultura no país, que tinha o formal e classudo Parnasianismo como principal escola artística já havia quase 40 anos. 

Alguns dos mais famosos episódios que demonstravam isso era a pioneira Exposição de Arte Moderna, de Anita Malfatti, em 1917, e um manifesto feito por intelectuais, como Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia, durante a comemoração do centenário da Independência do Brasil, em 1921. Além disso, no mesmo ano do manifesto, esses três nomes se uniram com mais outros dois artistas, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade, para planejar a Semana de 22 em São Paulo. Essa união ficou conhecida popularmente como Grupo dos Cinco

O então futuro evento foi inspirado na Semaine de Fêtes de Deauville, ocorrido na França, e recebeu patrocínio do mecenas Paulo Prado, assim como o apoio do romancista Graça Aranha, do advogado René Thiollier (que solicitou o patrocínio para trazer artistas do Rio de Janeiro) e, inclusive, do então governador estadual Washington Luís. Ele foi anunciado em janeiro e ocorreu entre os dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922 no Theatro Municipal de São Paulo

Grupo dos Cinco
(Grupo dos Cinco da esquerda para a direita – Anita Malfatti, Mário de Andrade, Menotti del Pecchia, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. | Foto: Wikimedia Commons)

As atrações do evento e as repercussões do público

A programação mudava a cada dia de evento. No primeiro dia, houve uma abertura oficial, na qual Graça Aranha abriu uma conferência chamada A Emoção Estética da Arte Moderna. A atração debatia sobre o conservadorismo, o “horror” pelo novo e a ideia de que a arte é pura estética, sem ligação nenhuma com qualquer tipo de crítica ou questionamento. 

Encerrada a conferência, o evento abriu uma exposição ao público com cerca de 100 obras, tanto pinturas como esculturas, expostas no saguão do teatro. A reação das pessoas diante dessa atração mostrou que, ao ouvido delas, o discurso de Aranha e alguém falando uma língua de outro planeta eram a mesma coisa. 

Villa Lobos na Semana de 22
(Anúncio do terceiro dia da Semana de 22. | Foto: Reprodução)

Já no dia 15, segundo dia de evento, a programação contou com um espetáculo musical de repertório clássico, que teve uma boa repercussão do público. Mas a atração principal, que era a palestra de Menotti sobre a arte estética, foi vaiada. E, por fim, o último dia, que foi o dia 17, a programação foi unicamente musical, com apresentações de Heitor Villa-Lobos e vários músicos convidados. 

O público, mesmo reduzido, já se mostrava mais respeitoso até Heitor entrar com um sapato em um pé e chinelo no outro e ser vaiado. A atitude do músico foi julgada pela plateia como desrespeitosa e futurista, mas, um tempo depois, ele alegou que estava com um calo inflamado. 

Repercussão da mídia e Legado

Como pode ser visto acima, a Semana de 22 não foi bem recebida de imediato. O público ainda se alimentava do conservadorismo originado do movimento parnasianista e a mídia também não ficava de fora. Boa parte dos veículos da época publicou sobre o evento alegando que os vanguardistas eram “subversores da arte”, “espíritos cretinos e débeis” e “futuristas endiabrados”. A única exceção foi o jornal Correio Paulistano, que fez apologia ao movimento. 

Conforme foram passando as décadas, o evento e o Modernismo foram ganhando mais reconhecimento. Além da Semana de 22 e seus envolvidos serem sempre lembrados nas aulas de história da arte brasileira, o movimento revolucionou não só as artes como também a arquitetura, a moda e nossa forma de pensar. Inclusive, ele até abriu portas para o surgimento de outros movimentos décadas depois, como o Tropicalismo e a Bossa Nova

Hoje, o centenário da Semana de 22 está sendo celebrado por São Paulo, onde tudo começou. Como estamos mais conscientes com a inclusão social, a cidade decidiu transformar essa celebração em uma quebra de barreiras entre o Modernismo, que antes era apenas alcançado pela elite, e as classes mais populares. 

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