O agente secreto James Bond está de volta aos cinemas contra um de seus principais vilões, a organização criminosa SPECTRE. Embora o argumento do novo filme de 007 seja um reboot, na prática, o personagem está bastante diferente daquele que cativou o mundo nos anos 60 com Sean Connery.
Um primeiro exemplo óbvio você vê na imagem acima: podíamos ver constantemente o agente secreto com um cigarro na boca. Hoje isso é praticamente impensável, mas não foi só isso que mudou. Acompanhe abaixo outras mudanças daquele James Bond do passado, antes de assistir 007 Contra Spectre (trailer abaixo), com Daniel Craig.
De mulheres objeto a mulheres sujeito
Um dos aspectos que demonstram isso com bastante clareza é o aspecto histórico. A sociedade nos anos 60 era bastante diferente da atual. Um exemplo clássico: em Moscou Contra 007 (1963) você vê a Bond Girl, Tatiana, como uma donzela em perigo. Ela não tem uma função técnica na trama além de ser o interesse romântico de Bond (foto abaixo).
Isso já começa a mudar nos anos 1990. Em 007 contra Goldeneye (1995), a Bond girl Natalya Simonova (Izabella Scorupco) tem papel-chave em “salvar o mundo”, dado que ela tem habilidades com computador – extremamente necessárias para que o plano de lançar um raio eletromagnético em Londres seja frustrado. Também em Goldeneye, a figura da mulher-vilão aparece de maneira consolidada pela primeira vez desde May Day – é Xenia Onatopp, a “capo” do Janus e assassina profissional.
Guerra Fria e Guerra Contra Terroristas
O elemento central nas sinopses dos filmes de Bond nas décadas de 1970 e 1980 costumavam ser a “batalha” contra o Império Soviético na Guerra Fria. O MI6, serviço secreto britânico, era mais do que essencial como defesa da Rainha.
Subitamente, após o colapso da União Soviética ao final dos anos 1980, os filmes de 007 ficaram à deriva; os romances originais de Ian Fleming já não poderiam servir como inspiração, dado que todos já haviam sido utilizados como argumento para os enredos anteriores.
Era preciso uma adaptação feita aos poucos. Ela foi realizada com os três filmes da série nos anos 1990 (007 contra Goldeneye, O Amanhã Nunca Morre, O Mundo Não é o Bastante). Nos três começa a ser feita uma transição do inimigo “institucionalizado” para aquele que vive nas sombras – o terrorismo internacional, com efeito.
Essa transição já se opera de modo suave em 007 contra Goldeneye: um sindicato mafioso russo (Janus) torna-se poderoso justamente após a queda do Kremlin. Em Amanhã Nunca Morre, a imprensa – cada vez mais importante numa nova era de informação com a internet – acaba sendo a responsável por colocar o mundo em risco.
Elementos centrais da trama também mudaram
Outra coisa bastante interessante é que algumas coisas que faziam sentido na sociedade dos anos 50 (quando os livros de Fleming, os quais dão base aos filmes, foram lançados) é bastante diferente daquela que encontramos atualmente – não só na questão do aspecto e valor da mulher no mundo, mas de outras questões.
Uma delas mudou distintivamente do filme original Casino Royale (2006) – que, embora seja inspirado no romance de Fleming, não faça parte da série da EON – e do reboot realizado na década passada com Daniel Craig. No original, Bond ajudava a salvar o mundo… Vencendo uma partida de Baccarat. Hoje em dia isso não faria o menor sentido, convenhamos.
É exatamente por isso que o enredo original foi adaptado de maneira a ter lógica nos anos 2000. O contexto era diferente na medida em que o Poker se tornava um dos carteados mais jogados do mundo – sobretudo em sua versão online, numa época que sites como a PokerStars começavam a crescer vertiginosamente. Assim, na versão do século XXI, Bond duela com Le Chiffre num jogo de Texas Hold´em, não num de Baccarat.
Uma série com mais de 50 anos precisa se adaptar às mudanças da sociedade para se mostrar atual e não apenas nostálgica. A equipe da EON, detentora dos direitos cinematográficos de Bond, realizou isso com primor. Vejamos o que esperar nos próximos 50 anos.