Apesar do rockabilly ser um gênero tipicamente americano, que nasceu nos anos 1950, com Elvis Presley e outras lendas da Sun Records, em Memphis – Tennessee, o estilo se viu muitas vezes influenciado pela latinidade, especialmente mexicana. E não estamos falando apenas do rock ‘n roll apimentado de Ritchie Valens, que fez a América “bailar La Bamba” em sua breve carreira.
Assim como Ritchie e sua família, muitos outros descendentes de mexicanos foram responsáveis por popular cidades como Los Angeles e San Diego, nos anos 1940 e 1950 – e essa realidade se estende até hoje. A explicação é basicamente geográfica, visto que a Califórnia faz fronteira direta com o México. Assim, é possível entender a influência latina na região da “West Coast” (Costa Oeste Americana), que também é considerada um dos berços do rock ‘n roll e da cultura custom.
Hoje, aproximadamente 10% da população dos Estados Unidos é latina, com mais de 30 milhões de pessoas de origem mexicana vivendo no país, sem contar imigrantes e descendentes de Porto Rico, Cuba, Brasil, e outras nacionalidades que também ocupam grande fatia na terra do Tio Sam. Assim, naturalmente os descendentes latinos estão fortemente ligados à cena atual de rockabilly, custom e 50’s nos EUA.
Viva La Rockabilly
Segundo o DJ Rockin Vic, que é descendente mexicano, cerca de 80% dos seguidores do rockabilly em Los Angeles são latinos. “Agora, quando você considera que aproximadamente 50% dos jovens de LA são latinos, então você pode ver como os latinos estão presentes ainda mais fortemente nesta subcultura”, explicou o DJ numa entrevista ao site PunkOutlaw.com.
Ele acrescenta que os latinos têm sido uma grande influência desde a primeira onda do rock ‘n’ roll. “Se você revisitar a história da música americana, há muitos heróis latinos não conhecidos das décadas de 1940 e 1950, que tocaram blues, doo-wop, rockabilly e rock ‘n roll e incorporaram elementos latinos à sua estrutura musical, como Lalo Guerrero, Don Tosti, Trini López, Freddie Fender, Tito Guizar, Danny Flores (aka Chuck Rio), Chan Romero e naturalmente Richie Valens”.
Assim, muitos latinos cresceram expostos a esses sons e, em paralelo, desfrutando do que era sucesso nos Estados Unidos na época, como o rhythm & blues dos anos 40 e o próprio rockabilly e rock ‘n roll dos anos 50. E ao passar do tempo, além dessas influências familiares, o revival do rockabilly nos anos 1980 (já numa roupagem mais punk) e a cultura dos carros customizados ajudaram, nessa atrativa mistura, a compor uma nova cultura retrô-rocker.
Los Wild Ones
Um exemplo disso atualmente é a gravadora Wild Records, de Los Angeles, que mesmo tendo a maioria de seus contratados cantando em inglês, muitos deles são de origem latina e trazem influências de suas etnias nas gravações. Chamados de “Los Wild Ones” por um documentário (trailer abaixo), fazem essa mistura de referências do que foi o rock ‘n roll e suas vertentes nos anos 50 com esse estilo mais selvagem dos latinos de fazer música.
Podemos destacar a primeira banda que assinou com a gravadora, Lil Luis y Los Wild Teens, de Luis Arriaga; o lendário Omar Romero, uma espécie de Elvis mexicano, que comanda a Omar & The Stringpoppers; e Marlene Perez, vocalista do Rhythm Shakers. Mas, a influência latina no rockabilly da Wild Records e de outras gravadoras famosas se estende ainda mais ao notarmos os nomes e origens das bandas em espanhol: The Desperados, Santos, Los Blancos e muitos outros.
Mas será que a influência latina no rockabilly e a participação massiva deles nessa subcultura é algo que está apenas conectado com a geografia do país e a imigração? Com certeza não. Ao longo do tempo, a subcultura do rockabilly ultrapassou fronteiras e gerações e construiu cenas fortes fora dos Estados Unidos também, em países que falam espanhol e, inclusive, português, como é o caso do Brasil.
O México, como era de se esperar, traz um som com fortes influências de seu vizinho, mas muitas vezes com toques de gêneros locais, como os Mariachis. Isso pode ser visto em bandas atuais como Pachuco Jose y Los Diamantes, que mistura rhythm and blues e ritmos mexicanos; Los Juniors, com o – mais mexicano impossível – hit “Tequila con Limon”; e Hermanas Jimenez, com “El Acapulco Rock”.
No entanto, assim como outros países da América Latina, ao longo dos anos, também viu surgir muitas bandas que fizeram suas próprias versões de músicas americanas, como é o caso de “Summertime Blues” de Eddie Cochran, que virou “A Volar”, com Los Sleepers; “Hermanita” (Little Sister) com Los Loud Jets; e a versão dos Los Sinners para o clássico “Mona Lisa”. No Brasil, por exemplo, o mesmo aconteceu com “Everybody’s Movin”, que se transformou em “Roque do Azarado” com o Coke Luxe.
Se comparado ao número de méxico-americanos, a quantidade de rockabillies latinos de outras nacionalidades ainda é pequena, mas podemos citar a cena rocker brasileira e a argentina em ascensão e os próprios porto-riquenhos, que também têm espaço há bastante tempo no underground americano. Prova disso é que os greasers porto-riquenhos existem desde a época de Elvis Presley, como bem retratou a gang “Sharks” no musical West Side Story (1961), que se passa em Nova Iorque.
Universo Retrô no Spotify: Rockabilly Latino
Apesar do rockabilly ainda fazer parte do underground, uma boa notícia para os músicos latinos é que o primeiro lugar no ranking global das mais tocadas do Spotify é latino, Luisi Fonsi com “Despacito”. Além disso, o crescimento da receita de música na América Latina aponta para um cenário super promissor para todos os hermanos. A música latina atrai cada vez mais consumidores de streaming e está, pouco a pouco, dominando o mercado de massa.
Para entrar no clima e incentivar ainda mais a produção cultural de rockabilly latino, criamos uma playlist com o melhor do rockabilly e rock ‘n roll 50’s em espanhol – atual e clássico. A playlist conta com sucessos de Ritchie Vallens (EUA), Los Primitivos (Argentina), Dorados (México), entre outros. Estampando a capa, uma foto da Pin-Up brasileira Helô Rodrigues, uma grande representante da latinidade no Brasil, apaixonada pelo México e pela cultura vintage.
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A influência latina na Cultura Custom
Não dá pra falar de rockabilly latino sem citar a cultura custom. Os latinos também têm desempenhado um grande papel desde os anos 1940 e 1950 no que diz respeito à customização de carros antigos, um movimento que tem tudo a ver com a subcultura do rockabilly e que também foi passado de geração em geração.
Um exemplo disso são os irmãos Ayala (Gil e Al), dois gênios de origem mexicana que fizeram história em Los Angeles com customização de carros. Juntos, construíram alguns dos veículos mais incríveis do mundo, que qualquer amante do rockabilly sonharia em ter. Infelizmente, suas criações não são devidamente valorizadas nos EUA.
É interessante que sempre houve muitas semelhanças entre as culturas latina e afro-americana; ambas foram marginalizadas e, apesar de se destacarem no mundo das artes, dos carros, da música e afins, sempre estiveram de “fora” do mainstream. Porém, tanto o rock ‘n roll, como o rockabilly de modo geral, não teriam toda a dimensão que têm pelo mundo sem a contribuição de ambos, negros e latinos.
Ola :)
Curti muito a matéria, sou muito fã da cultura latina e estou amando conhecer o Rockabilly latino.
Gostaria de deixar a sugestão de uma matéria sobre Pin up´s latinas, com se vestem, a cultura retrô e vintage mexicana e etc…
Sou fã e seguidora da Helô eodrigues, ela me inspira muito, seria muito legal uma matéria relacionada a Ela e/ou ao seu estilo :)
bjoooosssss
Oi Bruna, adoramos a sugestão. Temos uma listinha aqui para falar sobre os diversos tipos de pin-up, mas enquanto não sai, acredito que você irá gostar dessa matéria que fala da PMM http://universoretro.com.br/conheca-o-coletivo-feminino-pink-mink-mafia-que-ressalta-a-cultura-rocker-latina-pela-mundo/