Nem o calor de 37 graus que fazia em Sorocaba, interior de São Paulo, no último domingo (13), conseguiu desanimar os veteranos do Batmobile. Os holandeses foram a penúltima banda a se apresentar no segundo dia do Lucky Friends Rodeo Motorcycle num show de tirar o fôlego, para a alegria dos saudosos fãs presentes.
Em atividade desde 1983, o trio não pisava no Brasil desde o Psycho Carnival de 2012. Eles chegaram a ser anunciados novamente no line-up de outra edição do carnaval curitibano, em 2018, mas o show acabou não acontecendo. Por isso, a apresentação em Sorocaba foi ainda mais significativa para os fãs do grupo, que esperaram todos esses anos para assistir a essas lendas do psychobilly novamente no Brasil.
Os veteranos Jeroen Haamers (voz e guitarra), Eric Haamers (baixo acústico) e Johnny Zuidhof (bateria) até tentaram manter o estilo durante o show e subiram no palco vestindo ternos e camisas (a la 50’s style), mas isso não durou muito tempo. A questão é que, como Jeroen mesmo brincou, “não imaginavam que estaria tão quente no Brasil”. Assim, enquanto as peças de roupa iam saindo de cena, a banda aquecia ainda mais o clima de sua performance.
Um show que começou tímido e terminou com gostinho de quero mais – aliás, queremos muito mais desses caras. Talvez seja essa a tradução do que foi a apresentação dos holandeses no quarto ano do festival Rodeo Motorcycle. Apesar dos mais de 35 anos de estrada, o Batmobile nos transmite a sensação de que poderemos vê-los ainda por muitos e muitos anos.
A energia e performance única de Jeroen com direito a caras, bocas e rebolados insanos, literalmente, levantaram poeira durante o show. A empolgação do público era tanta, que nem o chão de terra foi empecilho para o wrecking acontecer fervorosamente durante sucessos como “Rock ‘n Roll and Alcohol”, “Kiss Me Now”, “Mad At You” e “Transylvanian Express”.
Destaque ainda para as versões de “Frenzy”, de Screamin’ Jay Hawkins; “Ace of Spades”, do Motörhead, e “Hurt”, de Johnny Cash. Nós, que estávamos bem próximas ao palco, presenciamos a emoção de fãs cantando junto, dançando na maior empolgação e, pasmem, até chorando em determinados momentos do show.
A banda, que começou a carreira tocando apenas covers de rockabilly e rock ‘n roll, como Elvis Presley, Chuck Berry, Gene Vincent e Johnny Burnette, só que de maneira bem mais rápida que o convencional como forma de atrair a atenção das pessoas em bares, começou no psychobilly despretensiosamente.
Uma frase do vocalista Jeroen, que acabou ficando famosa, resume bem quem o psychobilly tradicional e despretensioso do Batmobile: “Nós não entramos no psychobilly, mas ele entrou em nós”. A banda não foi formada inicialmente para tocar esse estilo, mas acabou se distanciando do rockabilly caricato que estava em alta na Holanda nos anos 1980 e se aproximando mais do punk rock.
Eles foram a primeira banda de fora do Reino Unido a tocar no lendário Klub Foot, reduto inicial de psychobilly em Londres, em 1986, ao lado de Torment e Demented Are Go. Assim como essa última, seguem se apresentando em eventos e festivais voltados para o psychobilly e o rockabilly.
Onde estiver o baixo de zebra usado por Eric Haamers (e Jeroen, que também arrisca trocar instrumentos com o colega de vez em quando – vide foto acima) pode ter certeza que é garantia de música boa, muita energia e uma performance de dar gosto de assistir. Que venham mais longos anos de Batmobile pela frente. E que logo voltem para o Brasil pra matar nossa saudade.