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Entre roncos e motores: quando o carro antigo também é um estilo de vida

6 de abril de 2018, por Maria Gabriela Hessel
Lifestyle
Opala Coupé 1977

Você já parou para pensar o que faz as pessoas gostarem tanto de carros antigos? Velhos, nada modernos, com peças faltando e que muitas vezes precisam de uma restauração completa. Mas essa paixão é de muitos amantes do automobilismo, onde a experiência de sentir como é viver em outras décadas é muito maior do que qualquer obstáculo no caminho.

A explosão da fabricação dos carros surgiu após a segunda guerra mundial, na chamada Golden Age, onde os carros eram robustos, não economizavam nos metais e nos ornamentos. Justamente essas características que atraem seus admiradores.

“O carro antigo é duro, dá tranco, ronca alto e cheira a combustível, e isso é demais! A soma dessas características e de outras mais se traduz em uma experiência única e muito diferenciada”, assim disse Gustavo Andrade, 20 anos, fotógrafo e dono de um Opala Coupé 1977.

Restauração do Opala

Restauração do Opala (Foto: Divulgação)

Com a evolução das indústrias, o encurtamento do tempo e a massificação dos carros, tornou o ato de dirigir algo banal. Os designs são todos parecidos, com a mesma paleta clássica de corres: prata, preto e branco; os motores com potência por vezes limitada, visando a economia e alta tecnologia, onde o carro faz quase todas as funções por você. Tais modernizações tiraram das pessoas o encanto de sentar à frente de um carro e curtir a viagem.

Os amantes dos antigos pensam diferente. “Dirigir um carro antigo é completamente diferente de dirigir um carro moderno. Isso se deve ao fato de carros antigos serem 100% mecânicos sem nenhuma eletrônica, e isso se traduz em uma experiência muito mais visceral”, opina Gustavo.

Opala Restauração

Opala Restauração (Foto: Divulgação)

Sendo assim, se torna uma experiência completa, onde o caminho é tão prazeroso quanto a chegada e a vontade de se viver como antigamente é maior do que todas as outras emoções. Surge dessa maneira um caminho de volta ao passado, onde o saudosismo faz reinado e a vontade de se refazer todas as sensações de dirigir um carro na época sejam instauradas, nem que seja fazendo várias restaurações.

“O carro na verdade é um amontoado de coisas antigas. Então, quando se restaura um, você reúne, concerta e monta milhares de coisinhas antigas. Por exemplo, em um carro dos anos 70 você pode colocar lanternas Cibié, um toca-fitas TKR com um equalizador Tojo, um carburador italiano ou americano de época”, conta Gustavo sobre sua experiência com seu antigo.

Opala 77

Opala 77 em processo de restauração (Foto: Divulgação)

Dessa maneira, cria-se um laço forte com o passado, no qual o admirador alia a originalidade do carro com a década em que ele estava. “Meu carro possui um jogo de Scorro Cruz de Malta, rodas utilizadas nas primeiras corridas de Stock Car, lá na década de 70, logicamente não são originais do Opala, porém é uma modificação de época”, afirma Gustavo.

Vale-se relembrar também de toda a história de que um carro antigo trás, os seus donos, as viagens, as chuvas e os dias de sol. Todos os quilômetros rodados estão ali, eternizados e pronto para serem vividos pelos donos atuais.

“Comprar um carro antigo é comprar suas peculiaridades, sua pátina. Em 40 anos, um carro pode ter tido um monte de donos, e isso dá uma série de características a cada carro. Você, quando tem um antigo, leva a história com você, pois ele é literalmente uma máquina do tempo, dirigir ele te remete a tempos passados, seu cheiro, seu acabamento”, diz o fotografo.

Opala

Gustavo e seu pai, Marco Antonio, junto ao Opala em processo de restauração (Foto: Divulgação)

Gustavo lembra de um relato muito importante que marcou sua vida, fazendo seu carro tornar-se mais especial do que já era, reforçando sua ideia sobre a relação com as pessoas:

“Alguns anos atrás, logo que comprei meu Opala, ele furou o pneu, meu pai logo retirou a roda completa e levou ao borracheiro (…). Fiquei sentado olhando para o carro (…), eis que passa um casal de velhinhos de braços dados, subindo a rua, (…) ela para, olha para o carro e chama a atenção de seu marido ‘Olha João, olha, lembra dele?’ e o marido responde ‘Claro que lembro! Ah isso que era carro de verdade! Fui muito feliz com o meu’.

Nunca mais esqueci aquela situação, eles nem me viram, e foi coisa de segundos, mas eu vi no sorriso do senhor e no espanto da senhora como aquele carro significava para eles, teria João levado ela ao primeiro encontro em um Opala? Teriam eles buscado um novo na concessionária por causa do neném que acabara de chegar? Eu não sei, e provavelmente nunca vou saber, mas adoro imaginar as boas histórias as quais esses carros estariam envolvidos”.

Opala Coupé

Opala Coupé, vermelho, após o processo de restauração (Foto: Divulgação)

Muitas dessas histórias e experiências são passadas de geração em geração, com influência direta de pais e avós, que viveram tais décadas tão vangloriadas pelos admiradores de carro antigos. “Meu pai, uma pessoa incrível que, quando eu era criança, sempre me contava as histórias de juventude dele relacionadas a carros, talvez meu subconsciente tenha ligado a sensação boa que eu tinha ao ouvir as histórias aos carros antigos, especialmente aos dos anos 70, época da juventude de meu pai”, relembra Gustavo.

Dessa maneira, cria-se uma total conjuntura de fatores que fazem uma pessoa ser amante assídua de um carro antigos. Ela se torna parte do meio em que ela nunca viveu, com apenas um veículo. Muito mais do que ir a eventos, os amantes de automóveis antigos bebem as décadas passadas e respiram gasolina.

E o mais interessante dessas características são coisas que você não nota nos carros novos, mas nos antigos sim. O barulho das portas ao bater, o cheiro, as texturas, é uma experiência muito diferenciada. Parece quando você vai ao museu, sabe? Aquelas peças antigas e cheias de história lhe passam uma série de sensações únicas”, destaca Gustavo.

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