É isso mesmo o que está no título, os Beatles não apenas tinham talento para a música, como também pelas artes plásticas. Os fab-four pintaram juntos uma obra abstrata durante um momento tenso vivido na era da Beatlemania.
O ano era de 1966 e o local era Tóquio, no Japão. Assim como o resto do planeta, a cidade nipônica estava loucamente febril pelos fab-four, ainda mais naquele momento em que a banda estava lá para uma turnê, com direito a três shows na Arena Nippon Budokan, um espaço famoso por sediar várias competições de artes marciais na época.
Juntando com a tal febre, havia também o fato de que os Beatles eram constantemente ameaçados de morte, levando as autoridades locais pedirem para que eles fossem “confinados” na suíte presidencial do Tokyo Hilton por segurança. Segundo John, Paul, George e Ringo, eles se sentiam desanimados e entediados com a situação, portanto, resolveram compensar essas dores de forma inédita.
Além dos quatro membros, quem também estava no quarto do hotel no momento da pintura era o então empresário Brian Epstein, que cedeu os materiais para a obra, e o fotógrafo Robert Whitaker, que registrou o episódio. “Eles paravam [de pintar], iam e faziam o show. Daí era ‘Vamos voltar ao quadro!’ […] Nunca os vi mais calmos ou felizes do que daquela vez. Absolutamente o melhor período que já testemunhei entre os Beatles”, conta Robert para o site da Christie’s.
A obra
O empresário dos Beatles estendeu um papel em branco de 30 por 40 polegadas sobre a mesa e colocou uma luminária no centro dele. Quando terminaram a obra, eles retiraram a luminária, ficando um círculo em branco, e lá assinaram os seus nomes.
De acordo com os relatos do fotógrafo e o que foi feito na tela, pintar foi meio que uma terapia para eles. Como se não bastasse a tensão de estarem “aprisionados” no quarto de hotel, cada um dos garotos de Liverpool, inconscientemente, expressaram suas personalidades em um canto da tela.
Cada um tinha uma preferência por um tipo diferente de tinta, além de estilos um tanto distintos de pintura. Para se ter uma ideia, especialistas que analisaram o quadro posteriormente apontaram que a pintura de Ringo parecia pequena e caricatural, enquanto que a de George era mais sombria e expansiva, com pinceladas de “aparência mais radical”.
Os Beatles não deram um título inicial para a obra e, portanto, ficou um bom tempo sendo chamada pelo público de The Tokyo Painting. Foi só nos anos 80 que um jornalista japonês batizou a pintura como Images of a Woman, por acreditar ter visto uma vagina no desenho de Paul, apesar dos especialistas verem como uma obra abstrata.
O paradeiro
A obra foi um presente dos próprios Beatles para o seu fã-clube oficial no Japão e depois permaneceu no país por 46 anos até ser vendida por um colecionador particular em Nova York. Já neste ano de 2024 ela foi avaliada em entre 400 e 600 mil dólares e posta à leilão pela Christie’s americana, onde foi arrematada por 1,74 milhão de dólares por um comprador não identificado.
“É uma raridade tão grande ter um trabalho feito em papel fora do catálogo musical deles, que é uma relíquia física, esse objeto tangível com contribuições dos quatro Beatles. É memorabília, é uma obra de arte”, declara Casey Rogers, uma especialista da Christie’s para a CNN americana.