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Memórias da cena rocker paulista: seguidores relembram anos 80 e 90

17 de fevereiro de 2016, por Mirella Fonzar
Lifestyle

Se hoje temos uma agenda de eventos no Facebook para indicar a programação do final de semana, ou mesmo dicas e informações online sobre rockabilly e cultura vintage, vale lembrar que nem sempre foi assim. Houve uma época em que a cena rocker brasileira dependia da união e boa vontade dos seus seguidores para permanecer ativa, pois o acesso a informação não era algo simples como hoje.

Só para se ter uma ideia, nos anos 80 e 90, os produtores de eventos de São Paulo convidavam as pessoas para festas por meio de cartas. Encontrar material de sua banda preferida também não era uma tarefa fácil. No lugar do MP3 ou Youtube, a molecada colecionava e compartilhava discos e magazines raros, e, com as poucas referências que tinham, tentavam reproduzir o som cinquentista. Para relembrar os tempos aureus da cena, alguns de seus representantes compartilham conosco suas memórias daquela época. Vem conferir!

Luiz “Teddy” Moreira – Músico e filho do cantor Eddy Teddy, da lendária banda Coke Luxe

Luiz Teddy

Luiz Teddy (de jaqueta de couro) com sua banda, Os Cadillacs (Foto: Arquivo Pessoal)

“Não teria como escrever sobre minha vida na Cultura Rocker nacional sem mencionar o ilustre Eddy Teddy, um cara que vai além da figura paterna, um grande ídolo e minha maior influência. Uma história que me marcou muito foi na adolescência, quando tinha vontade de andar no visual 24 horas por dia e também de estar nas festas onde meu pai estava. Infelizmente nem todas as casas aceitavam menores. Em um show que rolou no Sesc Pompéia, no final dos anos 80, eu estava alucinado para estar lá, mas sabia que não poderia entrar a noite. Fui na passagem de som com o Eddy, segurando sua pasta e me sentindo, pela primeira vez, um roadie e com um visual fodido que já era o meu dia-a-dia.

Lembro que quando chegamos, meu pai comentou: É, filho, pelo menos vai ver a passagem de som. Quando olhei para o palco, que era alto e com algumas colunas, não pensei duas vezes, pedi para o meu pai para me deixar ficar escondido debaixo, assim, quando ele voltasse, estaria lá dentro primeiro que todos. O Eddy não negava nada e acabou curtindo a ideia, mesmo que pudesse dar algum problema para ele. Lá fui eu, me esconder debaixo do palco. Lembro de cada detalhe deste show. Fiquei parado na frente do meu pai e observando tudo, Seu olhar, seu jeito de cantar, de falar com as pessoas e de sentir a música e se entregar de corpo e alma. Este dia ficou cravado na minha memória. Pode até parecer estranho, mas muitas vezes quando estou cantando eu fecho os olhos e fico lembrando dele. São segundos que ficamos conectados, talvez de uma forma umbilical, conectados pela música!”

Wagnão – DJ 50’s, radialista e um dos primeiros integrantes do Ases do Rock ‘n Roll

cena rocker

Amigos da cena rocker; Wagnão é o segundo da primeira fileira (Foto: Arquivo pessoal)

“Quando íamos do ABC a Sampa, a maneira mais comum era irmos de trem. Isso acontecia por volta das 23h e esse período era conhecido como a “curva de rio” dos horários, pois tudo que não prestava estaria no trem nesta hora…. inclusive NÓS! Portas abertas, tensão no ar, sempre atentos a cada estação, pois a qualquer momento poderia acontecer uma briga. A época era tensa, várias tretas dentro dos trens, quase não havia fiscalização. Realmente era a lei do mais “esperto” que valia. Enfim, chegávamos à estação da Luz. Então, era descabelar pela noite e ver tudo o que a madrugada nos reservava. O brilho da cidade misturada com as suas mazelas nos encantava. A sensação de sermos “donos” daquilo tudo era inebriante. Madame, Royal… os locais das festas viviam mudando de endereço. Boas recordações!”

Gláucia “Bruxa ZN” – Promotora de eventos e integrante da turma Simple Dolls

Well e Glaúcia "Bruxa"

Well Leon e Glaúcia “Bruxa” (Foto: Diorandi Nagao / Reprodução)

“Sempre ouvi a música dos anos 50 e 60. Vivi muita coisa legal com a galera do Blues paulista, porém o que me fazia respirar e sentir a rebeldia na pele era a galera da motocicleta, que me abriu muita coisa antes mesmo de ser mais assídua nas festas 50’s. Para mim, sempre foi complicado viver de um lado só e até hoje é. Isso porque a Cultura 50’s e a Motocicleta, no Brasil, não andam completamente juntas. São poucos com esse lado mais rebelde!

Mas, de uma coisa eu tenho certeza, tudo que sempre me moveu em relação a esse estilo de vida foi a música. Foi ela que me levou a amar tudo que envolve o estilo e a rebeldia que se aflorou naquela época. Não importa se você conheceu o estilo há 1, 5, 10 ou 20 anos, o importante é você amar e ouvir o som, que é a base de tudo. Trocar informações, conhecimentos musicais, se reunir com os amigos para se divertir, isso é o que vale! É só através da música que você entenderá a essência dessa história toda! Se o rock ‘n roll te escolher, você vai saber, porque tá na alma!”

Alexandre Yé – Promotor de eventos e um dos líderes da gang The Dogs

The Dogs

The Dogs – Yé ao centro da foto (Foto: Arquivo Pessoal)

“Uma boa lembrança que tenho é o campeonato de dança que me levou para os Estados Unidos, em 1993. A competição aconteceu na Pamplona, com três etapas eliminatórias. A minha parceira na época era a Lindinalva (Linda), somos amigos até hoje. Ela conduzia muito bem na dança. Fomos participar do campeonato sem treinos, dançávamos apenas aos finais de semana. Só tinha fera competindo, pessoas que eu realmente admirava, como o Paulo Preto da Rebels.

O mais louco é que perdemos as duas primeiras etapas, mas conseguimos chegar à final e ganhar a parada. Loucura total. A empresa de turismo que tava patrocinando o evento nos levou em um grupo de 10 pessoas para o Tennessee. Pisei na casa do homem (Casa de Elvis Presley em Graceland, Graceland), imagina a emoção? Conheci a Sun Records, fui também a Nashville. Fiquei 12 dias por lá. Assisti ao show do Carl Perkins, foi uma sorte danada. Muita gente dizia que era marmelada e não ia ter viagem nenhuma. Eu desafiei e provei que estavam errados.”

Sonny Rocker, baixista do Space Comets e fundador da banda Crazy Legs

Fabio McCoy, Johnny, Nal West e Sonny Rocker

Sonny Rocker, primeiro da direita para esquerda (Foto: Arquivo Pessoal)

“Quando me infiltrei na cena, eu era mesmo um moleque. Cabulava aula e ia pra Galeria do Rock com o avental do colégio, usando calça de tergal azul marinho e tênis kichute amarrado na canela. Tinha uma loja de um argentino chamado Rubão, ele tinha coisas raras que meu bolso não podia pagar. Lá, tive meu primeiro contato com um rocker de verdade, o Rato, da gang Ratz. Ele era DJ e uma espécie de intelectual dos vinis. Me mostrou coisas que me deixaram louco, já que eu nunca tinha tido nenhum acesso àquele material. Era tudo importado, imagina só, o Brasil vivia uma espécie de cortina de ferro.

A partir desse encontro, fiquei sabendo sobre a existência do The Rock´n´roll Club do Brasil, e que o clube tinha um presidente e toda uma leva de caras que, assim como eu, também amavam aquele tipo de música. Ele pegou meu endereço e começei a receber as cartas do Eric Von Zipper com convites de festas. Me lembro com saudade quando das domingueiras do Morcegovia, era um clima muito diferente, não tínhamos o mesmo contato de hoje, mas a presença Rocker era em peso, turmas dos quatro cantos da cidade, uma tsunami de topete devastando tudo! Hoje eu vejo a cena grande e de fácil acesso, mas, nossa, sinto muita falta daquela época! Sei que as coisas mudam com o passar dos anos, mas gostaria que o tempo parasse nos momentos inocentes e felizes que tínhamos.”

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4 Responses

  1. Lembro dessa época e outros rolês como o Madame Satã, o Retrô na Sta Cecilia, o Anny 44 e o Rouge Neon. eu era moleque tinha uns 15 anos e colava nesses lugares que falei.

    Rolava uma mistura de tudo, rockabilly, psycho billy, rock n roll, anos 80 de Eddie Cochram a The Cramps, The Meteors…uns hardcore uns eletronicos como Front 242, Coqueteau Twins e Cabaret Voltaire etc….

    O Rato mencionado talvez seja o Tony Rato que era barman e dj junto com o Vadão do Anny 44

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