Apesar de ainda ser visto como “aberração” ou como “poluição visual” para alguns, a vinda do modernismo é considerado um marco para a cultura brasileira. O movimento recebeu grande popularidade graças a um evento de três dias promovido por artistas que, hoje, são indispensáveis nos nossos livros de história, a Semana de 22. Também chamado de Semana de Arte Moderna, o acontecimento apresentou para nossas terras tupiniquins pinturas, esculturas, poesias, obras literárias e músicas do movimento.
A elaboração da Semana de 22
Há quem se engane que o modernismo começou a ser pensado por aqui exatamente em 1922, durante a icônica Semana. Entre o final da década de 1910 e começo da de 1920, a elite brasileira, que era totalmente influenciada pelas tendências estéticas da Europa, se via na necessidade de renovar a cultura no país, que tinha o formal e classudo Parnasianismo como principal escola artística já havia quase 40 anos.
Alguns dos mais famosos episódios que demonstravam isso era a pioneira Exposição de Arte Moderna, de Anita Malfatti, em 1917, e um manifesto feito por intelectuais, como Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia, durante a comemoração do centenário da Independência do Brasil, em 1921. Além disso, no mesmo ano do manifesto, esses três nomes se uniram com mais outros dois artistas, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade, para planejar a Semana de 22 em São Paulo. Essa união ficou conhecida popularmente como Grupo dos Cinco.
O então futuro evento foi inspirado na Semaine de Fêtes de Deauville, ocorrido na França, e recebeu patrocínio do mecenas Paulo Prado, assim como o apoio do romancista Graça Aranha, do advogado René Thiollier (que solicitou o patrocínio para trazer artistas do Rio de Janeiro) e, inclusive, do então governador estadual Washington Luís. Ele foi anunciado em janeiro e ocorreu entre os dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922 no Theatro Municipal de São Paulo.
As atrações do evento e as repercussões do público
A programação mudava a cada dia de evento. No primeiro dia, houve uma abertura oficial, na qual Graça Aranha abriu uma conferência chamada A Emoção Estética da Arte Moderna. A atração debatia sobre o conservadorismo, o “horror” pelo novo e a ideia de que a arte é pura estética, sem ligação nenhuma com qualquer tipo de crítica ou questionamento.
Encerrada a conferência, o evento abriu uma exposição ao público com cerca de 100 obras, tanto pinturas como esculturas, expostas no saguão do teatro. A reação das pessoas diante dessa atração mostrou que, ao ouvido delas, o discurso de Aranha e alguém falando uma língua de outro planeta eram a mesma coisa.
Já no dia 15, segundo dia de evento, a programação contou com um espetáculo musical de repertório clássico, que teve uma boa repercussão do público. Mas a atração principal, que era a palestra de Menotti sobre a arte estética, foi vaiada. E, por fim, o último dia, que foi o dia 17, a programação foi unicamente musical, com apresentações de Heitor Villa-Lobos e vários músicos convidados.
O público, mesmo reduzido, já se mostrava mais respeitoso até Heitor entrar com um sapato em um pé e chinelo no outro e ser vaiado. A atitude do músico foi julgada pela plateia como desrespeitosa e futurista, mas, um tempo depois, ele alegou que estava com um calo inflamado.
Repercussão da mídia e Legado
Como pode ser visto acima, a Semana de 22 não foi bem recebida de imediato. O público ainda se alimentava do conservadorismo originado do movimento parnasianista e a mídia também não ficava de fora. Boa parte dos veículos da época publicou sobre o evento alegando que os vanguardistas eram “subversores da arte”, “espíritos cretinos e débeis” e “futuristas endiabrados”. A única exceção foi o jornal Correio Paulistano, que fez apologia ao movimento.
Conforme foram passando as décadas, o evento e o Modernismo foram ganhando mais reconhecimento. Além da Semana de 22 e seus envolvidos serem sempre lembrados nas aulas de história da arte brasileira, o movimento revolucionou não só as artes como também a arquitetura, a moda e nossa forma de pensar. Inclusive, ele até abriu portas para o surgimento de outros movimentos décadas depois, como o Tropicalismo e a Bossa Nova.
Hoje, o centenário da Semana de 22 está sendo celebrado por São Paulo, onde tudo começou. Como estamos mais conscientes com a inclusão social, a cidade decidiu transformar essa celebração em uma quebra de barreiras entre o Modernismo, que antes era apenas alcançado pela elite, e as classes mais populares.