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Três acordes pelo mundo: O movimento punk no País Basco (Rock Radical Basco)

30 de maio de 2016, por Norberto Liberator Neto
Música

Com este texto, inicio uma série de artigos sobre o punk rock ao redor do mundo, principalmente em locais distantes dos grandes centros e dos holofotes, mas que, ao mesmo tempo, criaram cenários fortíssimos dentro do estilo. E começo com um lugar envolto em uma história cheia de guerras, lutas e mistérios: o País Basco. Esta região entre a Espanha e França produziu uma leva de bandas sensacionais, que uniam o punk ao ska, à música folclórica local e a letras engajadas. Era o RRB – Rock Radical Basco.

Considerada a principal banda punk da Espanha, o MCD (Me Cago en Dios, foto acima) é também a que possui vida mais longa do RRB. Os caras estão na ativa de 1979 até hoje, apenas com um hiato entre 2004 e 2011. O som é um punk bastante tradicional e cru, com influências como The Clash e Sex Pistols, e letras que falam de política, rebeldia e até futebol – uma de suas canções mais conhecidas é uma versão do hino do Athletic Bilbao, maior clube basco. A banda já lançou 11 discos e fez diversas turnês.

Junto ao MCD, o La Polla (inicialmente La Polla Records) é considerado um dos maiores expoentes do punk em língua espanhola da história. A banda existiu de 1979 a 2003 e também praticava um som bastante cru e pesado, flertando com o hardcore. Sua discografia tem 13 álbuns ao todo, sempre com letras fazendo duras críticas à monarquia espanhola, ao capitalismo, à religião, ao conservadorismo e ao autoritarismo. O nome da banda é devido à expressão “cagar en la polla”, que em português significa “cagar no pau”.

Sujo, pesado, cru e tradicional, o Eskorbuto forma, junto ao MCD e La Polla, a trinca de pioneiros do punk rock basco. Apesar de serem tachados como parte do chamado RRB, os caras nunca gostaram muito do rótulo, por se considerarem independentes musicalmente. Durou de 1980 a 1999, com dez álbuns de estúdio e uma história recheada de problemas com a polícia (todos os membros chegaram a ser presos devido a menções ao ETA, gerando uma onda de solidariedade que pressionou as autoridades a soltá­los) e com drogas, sendo que estas levaram à morte de dois membros da banda.

Outra banda extremamente importante deste nicho foi o Kortatu. Misturando ska, punk rock, música popular basca e letras radicais, eles se tornaram o maior expoente do RRB. As temáticas da banda sempre remetiam à luta do povo basco ou à dos oprimidos em geral, com letras em basco e em espanhol. Uma peculiaridade são os temas históricos, com canções sobre fatos ocorridos no País Basco e ao redor do mundo. O Kortatu durou apenas quatro anos, de 1984 a 1988, com dois álbuns lançados. Depois da dissolução, os irmãos Fermin e Iñigo formaram o Negu Gorriak, com influências de hip­hop.

O RIP fez um punk pesado, já influenciado pelo hardcore e d­beat do Discharge, com letras bradando a revolução e criticando o capitalismo, a polícia, os políticos e a religião. Eles também não gostavam muito do rótulo de RRB, já que se consideravam apátridas e rejeitavam a identificação de ‘bascos’. A banda possuía uma postura antinacionalista. Eles gravaram apenas dois álbuns de estúdio, tendo durado de 1984 a 1988 e depois retornando em 1994, parando em 2003.

Outro importante expoente foi o Cicatriz. Praticando um punk rock mais cru, com letras em espanhol. A banda foi formada em uma casa de recuperação para dependentes químicos, e um de seus diferenciais era ter um vocal masculino e um feminino: Natxo Etxebarrieta e sua namorada Poti. A história da banda é marcada por tragédias envolvendo acidentes, brigas e abuso de álcool e drogas, e todos os quatro membros originais morreram vítimas de AIDS ou overdose, mas nada disto diminui o talento e a genialidade desse pessoal. A banda durou de 1984 a 1994, com cinco álbuns lançados.

O Hertzainak, que começou fazendo versões em basco das canções do The Clash, também incorporou diversos elementos do folk local, como instrumentos de sopro e a trikitixa, uma espécie de sanfona basca. Suas letras, feitas no idioma nativo, falavam sobre a opressão sofrida pelos trabalhadores e pelo povo basco, sendo que seus membros eram militantes da esquerda abertzale, setor socialista separatista. Assim como os caras do Kortatu, o Hertzainak tinha boa relação com facções do grupo ETA, que na época não praticava ataques contra civis. A banda durou de 1981 a 1993, gravando seis álbuns.

O músico e escritor Xabier Montoia, que foi um dos fundadores do Herzainak (onde tocou guitarra nos primórdios), saiu do grupo e unindo­se ao guitarrista do Kortatu, Kaki Arkarazo, formou o M­ak, que praticava um punk tradicional e, claro, extremamente político. Com letras em basco, baixo pulsante e riffs ‘clashianos’, a banda lançou cinco álbuns e fez uma turnê junto ao Kortatu. O M­ak nunca foi a principal atividade de seus membros. O líder Montoia dedicava­se mais a livros de poesia e crônica social. A banda é considerada cult e durou de 1983 a 1991.

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