Home > Destaque > Yé Yé europeu: o que se ouvia nos anos 60 de Portugal, Espanha e Itália?

Yé Yé europeu: o que se ouvia nos anos 60 de Portugal, Espanha e Itália?

6 de março de 2023, por Leila Benedetti
Música
Yé Yé europeu

Da invasão britânica, veio o Yé Yé Francês, e dessa nova variação do beat rock dos anos 60, vieram outras no mesmo continente, mais especificamente em Portugal, Espanha e Itália. Cada uma dessas variações são distintas, mas há quem as transforme em uma só e batize de Yé Yé europeu ao citar o cenário do pop e rock local daquela época. 

Contando um pouco da história do movimento, o Yé Yé europeu (incluindo o francês) surgiu a partir do programa Salut les Copains (“Olá, Amigos” em tradução livre), que foi ao ar na rádio francesa entre os anos de 1959 e 1969. Focado na juventude local da época, o programa apresentava os maiores hits semanais, que sempre eram de Françoise Hardy, Serge Gainsbourg, entre outras figuras. 

Em 1962, a emissora lançou um “anexo” do programa em forma de uma revista homônima (algo atualmente chamado de transmídia pelos profissionais de comunicação), que logo ganhou versões nos países já citados no começo desta matéria, mas, claro, destacando os artistas locais de cada país. O termo “yé yé” foi popularizado em 1963 em um artigo do jornal Le Monde, mas nasceu em 1962 com base na música La fille avec toi, de Françoise Hardy, que começa com “yeah, yeah, yeah”, ao contrário do que se pensa em que veio de She Loves You dos Beatles, lançada um ano depois. 

As músicas do Yé Yé europeu têm tanta qualidade quanto a britânica e americana, mas, apesar da repercussão mundial na época, hoje são pouco lembradas, ao contrário do que acontece com o rock da Inglaterra e Estados Unidos. Pelo menos aqui no Brasil, estes hits são considerados como raridade, ou “pepitas”, como chamam os colecionadores de discos mais afiados. Como já citamos os nomes do Yé Yé francês, segue uma lista com alguns nomes que marcaram o Yé Yé dos demais países da Europa. Confira:

Alguns dos nomes do Yé Yé português, espanhol e italiano

Na Itália

O Yé Yé na Itália era, geralmente, caracterizado por temas mais românticos, abordando, em sua maioria, os sonhos afetivos de adolescentes. Como a sociedade era mais sexista naquela época, esse tema era mais voltado para garotas, fazendo com que o movimento fosse predominado por cantoras femininas. Mas, apesar de toda a doçura atribuída, esses nomes aparentavam ter personalidade forte e possuíam vozes poderosas.

1 – Rita Pavone

Rita Pavone começou sua carreira em 1962 ao lançar o single La Partita di Pallone e teve sua fama mundial alcançada pouco tempo depois. De perfil “menina moleca” e aparência um pouco semelhante a da Twiggy, a cantora adolescente de pequena estatura, mas de potente voz e personalidade chegou a fazer turnês pela América Latina, incluindo o Brasil. Ela fez vários hits, mas o mais conhecido dela é Datemi un Martello, lançado em 1964. 

2 – Mina Mazzini 

Mina Mazzini começou sua carreira em 1958 como cantora de música country, mas um ano depois ela migrou para o rock’n roll. Em 1962 ela se envolveu em um escândalo ao ter um caso e engravidar de um ator casado, portanto, aproveitou para mudar a sua imagem de “típica adolescente”, como a que Rita Pavone tinha, para “bad girl”, lançando canções com letras sensualizadas e polêmicas. Seu hit mais conhecido atualmente é a versão original de Banho de Lua (Tintarella di Luna), lançado em 1960. 

3 – Caterina Caselli 

Diferente das anteriores, Caterina Caselli começou sua carreira bem na metade dos anos 60 tocando baixo nos clubes da cidade italiana de Sassuolo, onde cresceu. Mas sua fama veio mesmo em 1966 ao participar do Festival de Sanremo com a música Nessuno mi può giudicare. Além disso, ela também é bem conhecida por gravar versões de outros hits, sendo a mais famosa a de I’m Believer (Sono Bugiarda), dos Monkees. 

Em Portugal

Entretanto em Portugal, o Yé Yé de lá foi mais predominado por bandas masculinas ao estilo dos Beatles. O curioso é que essas bandas são chamadas de conjuntos e algumas têm formações grandes, de cinco a seis membros. Mas esses detalhes não interferem na qualidade das músicas, que são ótimas para se ouvir nos bailinhos típicos da época.

4 – Conjunto Night Stars

Apesar do sucesso em Portugal, o Conjunto Night Stars é de Moçambique, surgiu entre os anos de 1962 e 1963 e teve sua formação inicial integrada por Mário Sousa (guitarra solo), Alex (teclado), Guita (baixo), Carlos Alberto (bateria) e Bob Woodcook (vocal), mais tarde, Guita e Carlos Alberto deram seus lugares para Noel Cardoso e Dino Antunes, respectivamente. Seu repertório é formado por músicas rock’n roll com pitadas da cultura africana e versões de hits famosos, sendo a mais famosa a de I’ll be Back (Eu Sei), dos Beatles.        

5 – Os Sheiks

Considerados os “Beatles portugueses”, Os Sheiks surgiram na Portugal de 1963 com a formação integrada por Carlos Mendes (voz, guitarra e baixo), Fernando Chaby (guitarra), Jorge Barreto (guitarra) e Paulo de Carvalho (bateria). Mais tarde, Carlos Mendes e Jorge Barreto foram substituídos por Fernando Tordo e Edmundo Silva, respectivamente. Inicialmente eles tocavam em festas escolares até lançarem seu primeiro EP em 1965, na qual inclui um cover de Summertime, de George Gershwin. 

6 – Conjunto Académico João Paulo

O Conjunto Académico João Paulo tem a palavra “Académico” no nome por ter sido formado por alunos de uma escola secundária no litoral português. Sua formação contava com seis membros – João Paulo (teclado), Rui Brazão (guitarra), Ângelo Moura (baixo), José Gualberto (bateria), Carlos Alberto (guitarra) e Sérgio Borges (voz). A fama veio em 1964 ao participar do programa TV Clube e se deslocarem para a Espanha para se apresentarem no Teatro Monumental. Ao longo de sua trajetória este conjunto lançou três EPs, cada um com 4 faixas. 

Na Espanha

Enquanto os outros países recebiam bem a chegada do Yé Yé, a Espanha lutava para aderir o movimento em plena era da ditadura franquista, que durou entre 1939 e 1975 e mantinha uma postura altamente autoritária, conservadora, catolicista e nacionalista. Mas, mesmo com o regime ainda em voga, o Yé Yé se manteve forte e lançou muitos nomes, principalmente femininos.  

7 – Massiel

Massiel teve a sua primeira apresentação em público na Madri de 1966 com a música Di que No. Logo depois, ela se aventurou nos festivais de música, tendo como sua principal vitória a Eurovision de 1968 com a música La, La, La. Além da música, a artista também teve uma carreira de atriz, atuando em muitos filmes, assim como peças teatrais de Brecht e Shakespeare na Espanha. 

8 – Lita Torelló

Lita Torelló começou sua carreira musical no final dos anos 50 ao gravar o single La Burrita Non. Dois anos depois, em 1961, ela assinou um contrato com a gravadora Vergara e participou do Festival da Canção do Mediterrâneo, alcançando o segundo lugar. Entre 1964 e 1966 a cantora lançou sozinha 14 EPs.

9 – Rosalía 

Rosalía passou de 1960 a 1963 gravando singles, como Amor y Rock’n Roll e Inquietud. Mas só alcançou a fama no último ano ao fazer sucesso no Festival de Benidorm com a música La Hora. A cantora também é muito lembrada por lançar covers de nomes como Brenda Lee e Bee Gees e seu hit mais conhecido até hoje é Chica Ye-yé, lançado em 1965.

Matérias Relacionadas
The Rutles, a paródia dos Beatles criada pelos mesmos integrantes de Monty Python
Beatles
Images of a Woman: quadro pintado pelos Beatles em 1966 foi leiloado
Tipo os Beatles
Tipo os Beatles: 3 alternativas “descaradas” dos fab-four que valem a pena escutar
Now and Then: música dos Beatles
Now and Then: música inédita dos Beatles gravada com IA é um arrancador de lágrimas

4 Responses

Deixe um comentário