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A história de Ricky Nelson: Mais que um ídolo adolescente, um grande rocker

18 de fevereiro de 2016, por Alex Valenzi
Música

Um dos artistas que mais vendeu discos em todos os tempos, Ricky Nelson ocupa o vigésimo lugar na lista geral da Billboard, e quinto no ranking dos anos 50, com 35 álbuns no top 40 entre 1957 e 1972. Em 1963, o cantor já havia vendido 35 milhões de discos – mais do que grandes lendas como Madonna, Beach Boys, Billy Joel, Ray Charles e até Frank Sinatra -, tornando-se um ídolo entre os adolescentes aos 16 anos. Porém, Ricky, que já atuava desde os 12 anos de idade, odiava este rótulo.

Ele ficou muito deprimido quando, nos anos 80, a revista Rolling Stone, ao fazer um apanhado dos principais artistas do século 20, o colocou na lista dos Teen Idols e não no ranking dos músicos de Rock & Roll, o que demonstrou uma tremenda falta de conhecimento dos críticos responsáveis pela matéria. Afinal, não é justo que a obra de Ricky Nelson fique restrita a uma determinada faixa etária.

Ricky Nelson

Ricky Nelson e suas fãs (Foto: Reprodução)

Nascido Eric Hilliard Nelson, em 8 de maio de 1940, em Teaneck, Nova Jersey, era o segundo filho de uma família do showbizz. Seu pai era Ozzie Nelson, famoso bandleader dos anos 30 e 40, e sua mãe, Harriet Hilliard, uma popular atriz da RKO Pictures e vocalista da orquestra de Ozzie. Ricky começou sua carreira em 1952 no filme Here comes the Nelsons, onde, ao lado do irmão mais velho David e dos pais, fazia o papel dele mesmo.

No mesmo ano, o longa deu origem à série The adventures of Ozzie & Harriet, que retratava, na telinha, uma versão fictícia da própria família Nelson, usando, inclusive, uma réplica da casa deles. O show foi um estrondoso sucesso, permanecendo no ar por 14 anos, e tinha entre seus telespectadores assíduos o jovem Elvis Presley, que, anos mais tarde, se tornaria grande amigo de Ricky, o influenciando, inclusive, na carreira de cantor, em 1957.

The adventures of Ozzie & Harriet

A família Nelson em The adventures of Ozzie & Harriet (Foto: Reprodução)

Aos 16 anos, Ricky era o adolescente favorito da América, porém, como ele mesmo diria mais tarde, sua vida só começou após tornar-se um cantor de Rock & Roll, no começo de 1957, quase que por acidente. O músico começou a ouvir R&B ainda bem jovem, no começo dos anos 50, e em 1954 descobriria o Rockabilly oriundo da gravadora Sun Records de Memphis, tornando-se grande fã de Elvis Presley, Johnny Cash e seu maior ídolo, Carl Perkins.

No entanto, o fato que realmente o fez decidir se tornar um cantor de Rockabilly foi uma situação muito inusitada e curiosa. Quando Ricky levava para casa a sua namorada na época, no rádio tocou uma canção de Elvis, e a garota, a se desmanchar pelo rei, o fez ficar enciumado e dizer gravaria um disco ele mesmo. A garota achou aquilo engraçado e não acreditou que seria possível. Ricky, então, deu a ideia a seu pai que tinha muita influência no mercado musical e disse que queria gravar apenas um disco para jogar na cara da menina. A escolha seria o R&B de Fats Domino, “I’m walkin’”.

Ricky Nelson

Ricky e as mulheres (Foto: Reprodução)

Assim, Ozzie conseguiu um contrato para lançar um single pela gravadora de Jazz Verve Records e gravaram esta e a balada original, “A teenager’s Romance”. O lançamento foi divulgado em um episódio da série, escrito especialmente para a ocasião e intitulado Ricky “The drummer”, no qual Ricky canta I’m Walkin’ e toca bateria (um de seus vários instrumentos, além de guitarra, piano e sax). Uma semana após ser lançado, o single vendeu 1 milhão de cópias, chegando ao quarto lugar e tornando Ricky o mais novo ídolo do Rockabilly.

No começo do verão de 1957, Ricky Nelson assinou com a gravadora Imperial Records um contrato de 5 anos, e seu primeiro single para o selo, “Be Bop Baby” foi lançado e alcançou o terceiro lugar. Logo em seguida, quando procurava canções para seu primeiro álbum, aconteceu uma grande coincidência. No caminho de volta para casa, um dia foi abordado por dois rapazes com um violão, que se identificaram como compositores de Rockabilly e tocaram uma música de nome “Waitin’ in School” para Ricky, que adorou a canção e a colocou em seu próximo e bem sucedido single.

Johnny Burnette e Ricky Nelson

Johnny Burnette e Ricky Nelson (Foto: Reprodução)

Começava ali uma longa parceria musical, na qual estes dois jovens, de nome Johnny e Dorsey Burnette, escreveriam vários hits de Rockabilly para Ricky, que logo lançou o primeiro LP de nome “Ricky” com o grande guitarrista de Country, Joe Maphis – notório no meio do Rockabilly por gravar também com Johnny e Dorsey Burnette, Wanda Jackson e Collins Kids. Porém, logo Ricky conheceria, por acidente, o guitarrista que ficaria marcado em sua vida e carreira, James Burton.

O músico ensaiava no prédio da Imperial, com Bob Luman. Foi lá que Ricky ouviu pela primeira vez aquele som único e, logo, James tornou-se seu grande amigo (indo inclusive morar com os Nelson) e o guitarrista de Ricky pelos próximos 10 anos, aterrorizando Hollywood com suas Harleys, como James sempre gosta de lembrar: “íamos eu e Ricky em uma moto, os loucos dos Burnette em outra (que eram campeões amadores de box e se não arranjassem ninguém para brigar, brigavam entre eles), Eddie Cochran e sua namorada – a compositora Sharon Shelley (que escreveria o primeiro numero um de Ricky “Poor Little Fool”) na outra, e Gene Vincent e seu guitarrista Johnny Meeks em outra”.

De 1957 a 1962, além de estrelar em uma série de bons filmes, entre eles o clássico western com John Wayne & Dean Martin, Rio Bravo (1959), Ricky, ao lado de James e o grupo vocal de Elvis, The Jordanaires, gravava um clássico de Rockabilly/Rock & Roll após o outro. Canções como “Believe what you say”, “Shirley Lee”, “My bucket’s got a hole in it”, “Good Rockin’ tonight”, “There goes my baby”, “I Got a Feeling”, “Just a Little too Much”, “Iit’s late”, “Mighty Good”, “One Minute Too Ne”, “You’ll Never Know What Your Missing”, “My One Desire”, e muitas outras que por si só já comprovam o valor do cantor como um grande músico e não um simples ídolo adolescente.

Em 1962, Ricky se transferiu para a gigante Decca Records, onde os sucessos continuaram até 1964 com um repertório mais Country, porém sempre pontuado com boas gravações de Rock, como “I Got a Woman” e “String Along”. Com a chegada da beatlemania, sua carreira musical, bem como de quase todos os outros rockers, ficou estacionada em termos de discos de sucesso até 1972, quando, ao se apresentar no primeiro grande show de revival de Rock & Roll, no Madison Square Garden, ao lado de Chuck Berry e outros, foi vaiado por tocar um som mais country rock, típico da época, e por estar com o cabelo bem comprido, quando todos esperavam um topetudo cantando Rockabilly.

Ricky Nelson

Ricky cabeludo, nos anos 70 (Foto: Reprodução)

Após este episódio, Ricky escreveu a música que seria sua volta ao sucesso de vendas, “Garden Party”, Inspirada no acontecido e que, ironicamente, chegaria ao sexto lugar e alavancaria sua nova carreira no country rock, com sua recém formada Stone Canyon Band. De 1972 a 1983 Ricky gravou e se apresentou ininterruptamente pelo país, além de Europa, Oceania e Ásia, e lançou mais um disco de sucesso pela gravadora Capitol Records, em 1981, alcançando o recorde único de ter discos de sucesso em quatro décadas seguidas.

Em 1983, ele fecharia o ciclo e voltaria com tudo à sua grande paixão, o Rockabilly, remontando a banda com baixo acústico e montando um show com seus velhos clássicos e covers de Carl Perkins, Buddy Holly e Elvis Presley. Em 1985, gravou um CD com os antigos hits e a excelente nova canção “You Know What i Mean”, chamado All my best, com excelentes vendas. Ainda em 1985 realizou um sonho ao ser convidado para participar da gravação da música e clip de “Big Train From Memphis” na Sun Records e, finalmente, conhecer seu ídolo Carl Perkins.

Johnny Cash, Ricky Nelson e Carl Perkins

Johnny Cash, Ricky Nelson e Carl Perkins (Foto: Reprodução)

Nesta época, Ricky adquiriu um velho e charmoso avião da época da segunda guerra mundial, um bi-motor Douglas DC3, que pertenceu ao seu amigo Jerry Lee Lewis. Um dia, quando os dois se apresentavam em Las Vegas, Ricky ofereceu uma carona para Jerry até Los Angeles e ele teria respondido que era louco, mas nem tanto de aceitar. Segundo Kenny Lovelace, guitarrista de Jerry, o estiloso avião vivia dando problemas e, por vezes, eles ficavam amedrontados pelo fato de os carros no solo irem mais rápidos que o avião.

No final de 1985, Ricky, que passava por problemas financeiros devido à altíssima pensão que pagava à sua ex mulher, Kristin, começaria a gravar aquele que seria seu novo disco de Rockabilly. O disco acabou ficando inacabado, faltando os vocais de Ricky em apenas 2 ou 3 canções, e até hoje não foi lançado por conta das brigas da família pelos direitos; no clip abaixo, é possível conferir uma versão não mixada que vazou da música “Rock & Roll Fool”, que traz uma amostra do que viria pela frente.

Em 26 de dezembro de 1985, Ricky e sua banda, a contra gosto (pois sua esposa cobrava a pensão atrasada, que depois se descobriu indevida), saíram para três shows. Depois de fazerem o que seria o último show em Guntersville, Alabama, e tocarem como última canção, “Rave On”, de Buddy Holly (também falecido em um acidente de avião), os músicos seguiam com destino a uma apresentação de ano novo em Dallas, Texas.

Junto com a banda formada por Pat Woodward (baixo acústico), Bobby Neal (guitarra), Andy Chapin (piano, que recentemente havia substituído o sortudo Gene Taylor dos Blasters que se salvaria do desastre), Ricky Intveld (irmão do astro de Rockabilly atual, James Intveld, na bateria), além do gerente Donald Russell e Helen Blair, noiva de Ricky, embarcaram no DC3 que, pouco após a decolagem, pegou fogo e teve que fazer uma aterrissagem forçada, matando todos à bordo exceto piloto e co-piloto, que se trancaram na cabine conseguindo saltar e sobreviveram com queimaduras generalizadas pelo corpo.

Ricky Nelson em frente ao seu avião

Ricky Nelson em frente ao seu avião DC3 (Foto: Reprodução)

Todos os corpos foram encontrados carbonizados e amontoados junto à porta da cabine, que, conforme ditam as normas, foi trancada após o incêndio começar. As causas nunca foram oficialmente descobertas, mas apareceram muitos boatos. Entre eles, o de que fumavam cocaína freebase e que foi logo rechaçado pelo órgão NTSB (National Transportation Safety Board).

Especialistas afirmam que o incêndio teria sido causado provavelmente por problemas no aquecedor do avião, já que, segundo o co-piloto, Ken Ferguson, após ele e o piloto Brad Rank saltarem, gritaram para os passageiros sem resposta e se afastaram temendo uma explosão. Também segundo Ferguson, Rank teria dito a ele “não diga nada a ninguém sobre o aquecedor”.

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Ricky (Foto: Reprodução)

Ricky foi enterrado no cemitério Forrest Law, em Los Angeles, em um velório cheio de estrelas e fãs. A família proibiu a entrada de sua ex-mulher, Kristin Harmon. Ricky deixou quatro filhos, os gêmeos Mathew e Gunnar, da banda Nelson dos anos 90; a atriz Tracy Nelson e o caçula Sam Nelson, além da mãe falecida em 1994 e do irmão David, morto em 2011 e que pode ser visto no filme Cry Baby (1990), como o pai do personagem de Tracy Lords.

O cantor foi introduzido de maneria póstuma no Rock & Roll Hall of Fame em 1986, como parte da segunda turma de eleitos. Para quem quiser ouvir este grande legado musical, a gravadora Bear Family, da Alemanha, lançou 3 caixas de CDs com toda sua obra (menos o último álbum lançado “All My Best”, disponível em CD, e o disco nunca lançado), são elas:

– The american dream, 6 CDs (fase Verve & Imperial)
– For you “The Decca Years” 6 CDs
– The Last Time Around (de 1970 à 1982)

Vale a pena também procurar pelos 7 álbuns originais da Imperial: “Ricky”, “Ricky Nelson”, “Ricky sings again”, “Songs by Ricky”, “More songs by Ricky”, “Ricky is 21” e o “Album Seven by Ricky”.

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