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Sete de Ouros: O showman brasileiro que tem ganhado grande notoriedade na arte Boylesque

6 de janeiro de 2016, por Aurora D'Vine
Lifestyle
Boylesque

Marcelo D’Ávilla dá vida ao personagem 7 de Ouros, artista que tem ganhado grande notoriedade na arte Boylesque, aliando técnica e sensualidade

O Burlesco, após a década de 1980, ganhou novo formato e não estamos falando, apenas, sobre a indústria que surge em torno da arte, mas o fato de deixar de ser uma prática, exclusivamente, feminina. A participação masculina dentro deste contexto deu início aos Boylesques. Homens dos quatro cantos do mundo se dedicam a levar ao público uma arte diferenciada, que envolve sensualidade, técnica e beleza. Aqui no Brasil, um dos pioneiros é Marcelo D’Avilla, mais conhecido como Sete de Ouros, responsável por levar aos palcos diversos números, entre eles, “Kátia Flávia”, um de seus maiores sucessos.

O artista conta que já se interessava por figuras da Comédia Dell’art e pelos musicais da Broadway – participando de cursos na área. Mas foi em 2011 que Marcelo se autoproclamou uma figura Boylesque, já com vivência na área da dança e interpretação. “Eu estava dançando numa boate e o dono me percebeu. Perguntou se eu não queria fazer uma apresentação numa festa com temática cabaré. Topei e resolvi estudar para montar número que, a princípio, não era burlesco, mas estava no meio de todas as estéticas do tipo”, explicou. Se dedicando as pesquisas, Marcelo esbarrou no Boylesque e se apaixonou.

Sete de Ouros

Sete de Ouros durante apresentação no Café Uranos, na Feira das Vaidades (Foto: Divulgação)

Uma das grandes influências do artista é o dançarino britânico British Heart, responsável por inspirar Marcelo no início da carreira. Posteriormente, as referências foram do pop a arte contemporânea – parte importante do processo híbrido de criação – visto que, normalmente, há elementos de dança, teatro, improviso, mímica, comédia, entre outros contidos nos números criados por Sete de Ouros. “Em 2012 o British Heart, que eu já tinha no Facebook, fez um post sobre os boylesques e se deu conta de que, na América Latina, só existia o meu trabalho devidamente documentado e atuante. Foi um choque saber disso. Ele pediu mais coisas minhas, pois estava finalizando o PHD dele em Boylesque Culture”, disse.

SENTIR E CRIAR

As ideias para montagem de um número burlesco vêm a partir das diversas inspirações de Marcelo, números que fazem parte de um vasto setlist. Mas ele conta que, também, pode ser o contrário, ser convidado para criar algum tema dentro de uma proposta mais específica e, neste caso, o processo é outro. Busca alinhar o tema à estética, baseado na pesquisa da figura Boylesque.

No início do ano passado, Sete de Ouros foi um dos artistas burlescos a se apresentar no festival “Yes, Nós Temos Burlesco”, dirigido pelas dançarinas Isabel Chavarri e Giorgia Conceição, no Rio de Janeiro. Lá ele levou o número Kátia Flávia, que surpreendeu não só pela técnica, mas por sua agilidade em tirar 20 calcinhas no palco do teatro Cacilda Becker. “Descobri que 20 calcinhas eram demais para o tempo de ação do número, por isso optei por trabalhar com 15. Kátia Flávia fala sobre isso, sobre a desenvoltura que uma figura feminina pode ter, sobre o poder dela em entender seu corpo e seus desejos. Uma figura que tem certeza de tudo que pode fazer. A dona do morro”, ressaltou.

Boylesque

No palco do teatro Cacilda Becker, no Rio de Janeiro, Sete de Ouros tirou
20 calcinhas e a reação do público é essa estampada na fotografia (Foto: Fabiano Cafure)

CENA AINDA TÍMIDA
Na visão de Marcelo D’Ávilla, a cena burlesca é como qualquer outra, pois muitos são os que se influenciam a partir do movimento. Alguns permanecem e tornam a cultura ainda maior, já outros saem na mesma velocidade que entram. “O Burlesco no Brasil é novo demais, há muito ainda para se entender quando o assunto é arte erótica. O brasileiro tem um vício de política do corpo e uso do corpo que, ainda, é estranho culturalmente falando, mesmo sendo o País do Carnaval”, observou.

De acordo com a visão do artista, parece que, apenas, o Carnaval é aceitável pelo grande público, isso faz com que a cena burlesca cresça de maneira tímida e com pouca voz. “Há seis anos tivemos um crescimento bacana no mote e nos artistas da área, algo que, com o tempo, deve se sustentar e desenhar a cena em si”.

Cena de Anatomia do Fauno

Cena de “Anatomia do Fauno”, que Marcelo produz, dirige e atua (Foto: Divulgação)

O fato de à arte burlesca ter tido maior notoriedade nos Estados Unidos e Europa fez com que boa parte dos festivais e dos eventos se concentrasse fora do Brasil, questão abordada por Marcelo. Para ele, o País não é mercado em potencial para a arte, já que onde o burlesco é sedimentado, o público torna-se cativo e o reconhecimento uma consequência. “Em alguns países existem casas especializadas apenas com shows de Boylesques e inúmeros são os festivais em todo o mundo”, comentou.

Hoje Marcelo divide o tempo entre atividades de preparação corporal, cenografia e dança. Estreou, em 2015, o espetáculo “Anatomia do Fauno”, que produz, dirige e atua. O show reúne elenco de 20 artistas, sem falas, que aborda o homoerotismo na cidade. E, no que depender de Marcelo, 2016 virá cheio de novos projetos e de muito Boylesque.

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