Se interessar, pesquisar e escrever algo relacionado ao rockabilly no Brasil, seus fãs e suas histórias ao longo de cerca de 30 anos de cena, e ainda conseguir agradar a gregos e troianos, não é uma tarefa fácil. Partindo do método de narração e documentação da história oral, o jornalista de Santa Maria – RS, Eduardo Mollinar, resolveu apostar nessa façanha para seu TCC, com um livro-reportagem sobre o gênero no Brasil.
Recentemente lançado em São Paulo, Rockabilly Brasil ultrapassou o meio acadêmico e acabou virando um projeto independente, que vem dando o que falar na cena. Sintetizando o começo do gênero, que mistura o hillbilly com o rock ‘n roll, e suas influências nos Estados Unidos logo após a Segunda Guerra Mundial, no decorrer da obra, o autor nos leva ao Brasil na década de 1980, contextualizando o cenário da época, com base em entrevistas de pessoas que vivenciaram o nascimento de turmas, festas e bandas.
Entre os entrevistados, as gangues Ratz, Rebels 50’s, Ases do Rock’n’Roll, General Boys e The Dogs 1954; e as compostas por mulheres, Simples Dolls e Betty Boops. Além de nomes como Rick N Roll, responsável por organizar o primeiro campeonato de topetes, e Alexandre Yê, que participou de um concurso de dança fora do país, entre outros nomes que marcaram a história da cena.
Podemos ver, nessa galera, uma geração de jovens que se impunham para dar ao que chamamos de “cena rocker”, em diversos locais do sul e sudeste do Brasil, um espaço ao sol para o movimento, já que, no fim dos anos 70 e início dos anos 80, já existiam em terras tupiniquins outras turmas em prol das demais vertentes do rock and roll, como punks, carecas, góticos, etc.
Influenciados por Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Johnny Cash, Chuck Berry e tantos outros músicos, os personagens (reais) do livro de Eduardo Molinar vibravam com esse resgate da música e do visual dos anos 50. Com suas calças jeans e jaquetas de couro, se uniam para reverenciar uma década que também não haviam vivido, desde as músicas e filmes da época, como os clássicos de Marlon Brando – O Selvagem (1953), e James Dean – Juventude Transviada (1955), e todo o restante que essa cultura agrega, como amor pelos hot hods, lanchonetes diner, carros clássicos, pin-ups e muitas outras coisas.
Na década de 1980, as informações vindas de fora eram bem difíceis. Descrevendo as turmas que existiam, as brigas, festas, pessoas, as bandas e os pontos de encontro de quando tudo começou, o livro nos proporciona, além de uma saudosa lembrança (para quem estava na época e quem, em sua maioria, foi entrevistado pelo autor), acesso ao conhecimento sobre o início da cena e a trajetória de figuras importantes para a divulgação e sustento do movimento, que teve seu auge naquela época, tanto em relação às turmas de rockers, quando à exposição na mídia, com a vinda dos Stray Cats ao Brasil.
Se hoje, com a globalização e a popularização da internet, a facilidade para conhecer e obter informações sobre festas, festivais, visual é fácil, temos que tirar o chapéu para esses jovens de outrora, que só tinham o boca a boca, cartas, zines, amizades e amor à cultura do rockabilly, para que hoje tenhamos conhecimento de tal estilo de vida.
Iniciante e complementar leitura para o livro de Roberto Muggiati “Rock-De Elvis à Beatlemania (1954-1966)”,o “Rockabilly Brasil”, de Eduardo Molinar, pode ser considerado um livro bom para se ler e guardar para a posteridade, já que não existia uma obra assim até o presente momento.