O poder de algumas celebridades é tanto que, mesmo depois de mortas, continuam sendo formadoras de opinião e participando de comerciais de grandes marcas. Como isso é possível? Através da tecnologia e criatividade das mentes publicitárias. Vem conferir quem já foi ressuscitado em comerciais de TV.
Em 2013, Audrey Hepburn estrelou o comercial da marca de chocolates Galaxy, vinte anos após sua morte. A campanha veiculada no Reino Unido resgata digitalmente imagens da atriz no filme A Princesa e o Plebeu, de 1953, para contar a história de uma jovem (Hepburn) que aguarda dentro de um ônibus uma oportunidade para comer uma barra de chocolate. A ambientação na costa amalfitana, na Itália, ajuda ainda mais a recuperar todo o glamour technicolor dos anos dourados.
Tecnicamente o vídeo é muito bonito e bem-feito, mas provocou polêmica do ponto de vista ético quando vinculado. Afinal, até que ponto é aceitável se aproveitar da imagem de um falecido para promover um produto, perguntou o jornal britânico The Independent.
Em um episódio de Os Simposons, Homer – talvez o maior filósofo que a cultura pop já viu – comenta (em tradução livre): “Vocês celebridades precisam perceber que suas vidas pertencem ao público. E depois de mortos vocês todos dançarão com aspiradores de pó em comerciais”. Ele se referia à propaganda da Dirty Devil “protagonizada” por Fred Astaire, lançada em 1997.
A propaganda, que troca o cabideiro da célebre cena do filme Núpcias Reais pelo produto de limpeza foi autorizado pela viúva do ator, mas criticada publicamente pela filha, que lamentou o fato de seu pai ter sido “vendido para o Diabo depois de uma bela carreira”. É uma questão delicada que costuma variar de família para família. Os filhos de Audrey, por exemplo, autorizaram o uso da imagem da mãe sob o argumento de que ela ficaria orgulhosa do novo papel e sempre comentava sobre seu amor pelo chocolate e como o doce melhorava seu humor.
No entanto, essa não é a primeira vez que a eterna Bonequinha de Luxo participa de uma campanha póstuma. Em 2006 ela estrelou um comercial para a GAP onde ela fazia um de seus números em Funny Face (em que ela, curiosamente, contracena com Fred) ao som de Back to Black, do ACDC.
A propaganda dividiu opiniões. Enquanto alguns acharam a campanha uma homenagem muito bem bolada e executada artisticamente, outros defenderam que a atriz – conhecida pelo trabalho humanitário com crianças em situação de risco – jamais aceitaria ser o rosto de uma marca cujas roupas são produzidas em fábricas asiáticas que empregam trabalho infantil em suas linhas de produção.
Audrey e Fred não foram os primeiros nem os últimos astros a participar postumamente de campanhas publicitárias polêmicas. Em um dos casos mais famosos, Kurt Cobain foi escolhido como protagonista de um comercial do jogo Guitar Hero, gerando protestos públicos de seus antigos companheiros Dave Grohl e Krist Novaselic. Courtney Love chegou a iniciar uma campanha no Twitter dizendo que o marido nunca permitiria o uso de um avatar seu nesse tipo de jogo, mas a Activision, produtora do game, alegou ter o direito de uso da imagem do músico.
A polêmica em cima do avatar de Kurt em Guitar Hero nem se compara à da Doc Martens. A agência responsável pela marca publicou uma série de anúncios de revista com o antigo líder do Nirvana e outros roqueiros mortos como Sid Vicious, Joey Strummer e Joey Ramone no céu, cobertos em togas e sobre as nuvens e usando as famigeradas botas da marca.
A morbidez da campanha provocou uma reação tão negativa que seus criadores foram demitidos, mas não antes de argumentarem que na Inglaterra, onde a campanha seria veiculada, é permitido usar imagens de falecidos sem permissão.
Outras marcas famosas também ressuscitaram antigas estrelas com resultados diversos. Em 2011, a Dior colocou sua garota propaganda, Charlize Theron, para desfilar diante das divas de antigamente, Ava Gardner, Grace Kelly, Marlene Dietrich e Marilyn Monroe (esta última uma das celebridades que mais “participam” desse tipo de anúncio).
Onze anos atrás foi a vez de Gene Kelly “reprisar” a famosa cena de “Cantando na Chuva” para a Volkswagen, com “ligeiras” mudanças e alguns passos de break dance. ATENÇÃO: O apuro técnico do comercial é impressionante, mas pode assustar os fãs mais puristas.
E claro que não podíamos fechar esse texto sem um autêntico exemplo brazuca. A AlmapBBDO, uma das maiores agências de publicidade do país, trouxe o saudoso trapalhão Mussum direto dos mortos (ou voltou no tempo, dependendo da sua interpretação) para uma “participação especial” no popularíssimo comercial do Novo Fusca que, assim como a campanha da Galaxy com Audrey, deu o que falar na Internet em 2013. Cacildis!
E a lista não para por aí. De John Lennon a Elvis Presley, é difícil encontrar alguém que não tenha sido utilizado em algum reclame, e parece que essa tendência vai seguir por um bom tempo. Uma pesquisa da Forbes revelou que celebridades mortas rendem mais de 500 milhões de dólares em publicidade anualmente.
E o que você acha dessas campanhas? São belas homenagens ou apenas oportunismo por parte das grandes organizações? Deixe sua opinião nos comentários.