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Jamilly Belladona busca inspiração nos amores da Segunda Guerra para o Pin-Up do Mês de Abril

26 de abril de 2024, por Mirella Fonzar
Lifestyle

Nossa Pin-Up do Mês de Abril é uma apaixonada pelo universo vintage em todas as suas facetas; colecionadora de itens antigos, empreendedora de moda retrô, entusiasta do universo Pin-Up e professora de dança do rock dos anos 1950, só pra citar alguns pontos. Mas, não é só a estética e a cultura 50’s que movimentam Jamilly Belladona a ter o retrô como estilo de vida. 

Cheia de referências de época e histórias para contar, essa paulistana que mora em Londrina, Paraná, carrega uma forte trajetória de superação, na qual ela compartilha conosco na entrevista a seguir, juntamente com as fotos de seu ensaio. Com participação de seu marido, Rodrigo Caldas, Jamilly buscou inspiração nos amores da época da Segunda Guerra Mundial para produzir o editorial clicado no Museu Histórico de Londrina. Confira!

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Universo Retrô – Como começou sua relação com a estética pin-up e o universo do rockabilly?

Jamilly Belladona – A minha relação começou por meio de uma superação pessoal. Sempre gostei da música, da dança e do visual, porém vivia sufocada no meu primeiro casamento. Foi a partir das mortes dos meus filhos, Sabrina e Augusto (frutos do meu segundo casamento) que tudo mudou. Na época, eu era namorada do meu atual marido, Rodrigo Caldas, e fiquei grávida, mas nossa filha Sabrina nasceu morta com quase 6 meses de gestação. Eu trabalhava, cursava Gastronomia, vivia com a minha filha mais velha, que na época tinha 9 anos. O Rodrigo tinha acabado de passar em um concurso público e foi morar bem longe, no Rio Grande do Sul. 

Naquela época, não conseguia suportar a morte da minha Sabrina, a depressão bateu forte e eu só pensava em me machucar. O pior de tudo era não conseguir dormir, porque quando eu dormia ouvia ela chorar. Sabrina nasceu morta de parto normal, nunca chorou. Era como viver um pesadelo, tinha muito medo de dormir e tudo isso já estava afetando meu trabalho, meus estudos e minha vida no geral.

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Sempre acreditei na minha religião e acredito que foi a minha Deusa que cuidou de mim. Magicamente encontrei a antiga casa de dança The Clock, onde só tocava rockabilly. Fui sozinha e passei aquela noite todinha dançando e feliz. E assim comecei a frequentar mais vezes, porque percebi que aquilo me fazia bem. O Rodrigo conseguiu voltar a morar em São Paulo, e assim conseguimos ficar mais perto. Ele ia às vezes comigo no The Clock, ficava tomando cerveja e me vendo dançar, porque não sabia dançar nada.

Passaram-se dois anos e eu fiquei grávida novamente. Nosso bebê Augusto nasceu de quase 7 meses, ficou praticamente uma semana na incubadora, onde teve seis paradas respiratórias e veio a óbito. Meu mundo desabou novamente. Eu só queria tocar no meu filho, pegar ele no colo, dar um cheiro, e só consegui fazer isso após a morte dele. 

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Mas, apesar de tudo, eu não queria embarcar em uma depressão novamente. Foi assim que o Rodrigo, meu atual marido, me pediu em casamento e disse que queria aprender a dançar, porque não queria ver a gente triste. Começamos a fazer aulas e nunca mais paramos de dançar. Nos casamos em São Paulo e mudamos para Londrina, Paraná, após dois anos tivemos a nossa pequena Alice.

Universo Retrô – Sentimos muito por suas perdas e admiramos a sua força, Jamilly. É muito legal ver você e seu marido dançando sempre juntos, principalmente depois de conhecer a história de vocês. O universo retrô e rockabilly é algo que faz parte também do dia a dia da família?

Jamilly Belladona – Sim, damos aulas de dança em casa. A minha casa é antiga e ela está uns 60%  vintage. Tenho alguns móveis e um cantinho especial que é meu cinema, que tem longarinas (cadeiras de cinema) doadas do antigo cinema da cidade e também tem um frigobar dos anos 1970. Aos poucos vamos modificando e deixando tudo com a nossa cara. Mas, além da decoração retrô e vintage, o Rockabilly aqui é representado pelos discos de vinil e a minha radiola Philips 1968.

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Universo Retrô – Carros, móveis, roupas, discos… quais elementos não podem faltar na sua vida? 

Jamilly Belladona – Ah! Eu amo meu carro, um Fusca 1968, apelidado de Cherry, porque realmente parece uma cereja e também é o nome da tinta do meu carro. Mas do fundo do coração o que não pode faltar é o amor da minha família.

Universo Retrô – Nos conte mais como surgiu a oportunidade de ser professora de dança rockabilly na sua cidade.

Jamilly Belladona – Após a gente começar a dançar sempre nos eventos que a banda B Benders se apresentava, os integrantes da banda me convidaram para dar aulas em um estúdio de tatuagem e assim firmamos o primeiro grupo de dança. Sempre que a banda ia tocar o grupo ia junto. Hoje, a banda trocou de vocalista e se chama Mancats, mas ainda continuamos parceiros.

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Universo Retrô – A paixão pela dança surgiu antes ou depois do estilo retrô?

Jamilly Belladona – A dança, a música e o estilo estão nas minhas lembranças afetivas. Meu tio sempre dançava e vivia me arrastando e girando. Minha mãe tinha o vinil Jive Bunny e eu adorava levar escondido para as festinhas na escola. Adorava assistir a filmes antigos com meus avós e sempre ficava me  imaginando com os vestidos brilhantes das atrizes da Old Hollywood. Me imaginava dançando como Ginger Rogers e ter aquele batom vermelho da Marilyn Monroe. 

Universo Retrô – Falando em Ginger Rogers e Marilyn Monroe, quais são suas maiores inspirações atuais e do passado? 

Jamilly Belladona – A lista é grande. Grace Kelly, Marilyn Monroe, Ava Gardner, Rita Hayworth, Betty Grable, Doris Day, Lucille Ball, Joan Fontaine, Greta Garbo e outras. As atuais, gosto de acompanhar Miss Lady Lace, Miss Stella Starbrite, Dafna Barel e Rose Noraanna e as amigas brasileiras Miss Gennie, Aurora Divine, Srta Tata, Juliana Lourenço, Gordosofica e outras divas. 

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Universo Retrô – E quando resolveu apostar também na estética vintage? Foi a dança a maior impulsionadora?

Jamilly Belladona – A dança e o visual sempre andaram juntos, porém foi uma evolução. Fiz curso de História da Moda e hoje em dia me viro muito bem com penteados e make vintage. 

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Universo Retrô – Você tem uma loja de acessórios, a Madame Tiffany. Conte mais sobre ela pra gente.

Jamilly Belladona – Sim, tenho uma “tímida” loja virtual (risos). A madame Tiffany foi criada pela minha necessidade de conseguir acessórios retrô. Sempre tive vontade de ter um pillbox e acessórios de cabelo semelhantes aos das Divas do cinema, e eu nunca encontrava para comprar. Certa vez, me desafiei a fazer um pillbox. E foi com um pedaço de papel paraná doado pela amiga costureira Luciana Carbonieri que tudo começou. Sempre me inspirei nas roupas e acessórios da boneca Barbie, e assim fui criando chapéus, casquetes e pillboxes retrô.  

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Universo Retrô – Você já participou de vários concursos de Pin-Up. Como foram as experiências?

Jamilly Belladona – Um dos primeiros concursos que participei infelizmente me marcou de forma negativa. Foi o Big River, no Rio Grande do Sul. O evento em si foi sensacional, mas depois recebi mensagens de ódio nas redes sociais com frases do tipo: “porque saiu da cozinha? vá lavar pratos”. Fui chamada de velha, na época tinha 37 anos e tinha acabado de passar pelas mortes dos meus filhos. Eu só queria me sentir bonita. Mas, não desisti, continuei, participei de um concurso na minha atual cidade, Londrina, onde fiquei em segundo lugar, e assim criei o grupo Pin-Up Red Feet. 

Participei também de outros concursos, inclusive, alguns de forma virtual durante a pandemia para ocupar a mente. Conquistei  o primeiro lugar e fui eleita Miss Pin-up Rebel Day, o que foi bem significativo para mim; o concurso tinha o objetivo de ajudar músicos na pandemia. Na época, também criei um canal de culinária no Youtube chamado Divando na Cozinha. 

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

O Santa Catarina Custom Show, em 2022, foi minha amiga Cris – Lady Galaxie que me apresentou e insistiu para eu fazer a inscrição. O carinho desta amiga maravilhosa me contagiou e me joguei. Quando saiu o resultado, eu não acreditei. Até hoje a emoção de ser selecionada é como se fosse a sensação de ser vencedora do concurso. Amo este evento e tenho um carinho enorme por ele.

Participei ainda do Miss Rock This Town Festival, em 2022. Eu primeiramente me inscrevi para o concurso de dança, mas algumas amigas insistiram para eu participar do concurso Pin-Up. e fui. Neste ano, ganhei o 3o lugar no concurso de dança. Por último, participei do Curitiba Custom Day 2023 e foi bem significativo para mim, a minha filha Alice de 8 anos quis participar comigo.

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Universo Retrô – As competições são algo que continuam te brilhando os olhos? Você pretende concorrer em outros concursos?

Jamilly Belladona – Os concursos são como uma espécie de fuga das crises de ansiedade pra mim. Eles geralmente acontecem próximo a datas de morte e nascimento dos meus filhos Sabrina e Augusto. Assim prefiro estar com a mente ocupada para não ficar triste. Se vou participar de outros? Hoje estou bem tranquila (risos), porém nunca diga nunca. Recentemente participei do concurso de dança da festa Pin-Ups Party, e com muita alegria de estar entre amigos conquistei o primeiro lugar. E no mesmo dia tive a honra de ser jurada do concurso de Miss The Pin-up Project, que foi uma experiência nova pra mim.

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Universo Retrô – Você costuma frequentar muitos eventos fora da sua cidade. Qual evento você não perde de jeito nenhum, o seu preferido? 

Jamilly Belladona – O Santa Catarina Custom Show, em Balneário Camboriú, é o lugar onde encontro as amigas Pin-Ups e tenho a possibilidade de ver e fotografar muitos carros antigos e customizados. Neste evento tem tudo que gosto, a música, as Pin-ups, bandas, carros antigos, antiquários, brechós. Adoro dançar neste evento, ano passado dancei até ficar sem sola de sapato. 

Outro queridinho é o Rock This Town Festival, em São Paulo, outro queridinho  por ser um evento voltado para o Rockabilly e a dança. Sempre trazendo bandas sensacionais. Tive a oportunidade de conhecer o incrível Tim Polecat e  o maravilhoso Les Greene. Citei os dois, mas todas as outras bandas que se apresentaram foram incríveis. Sem contar os DJs com o som de vinil da época. Amo!

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Universo Retrô – E como você enxerga a cena na sua região? Existem outras adeptas ao estilo Pin-Up? E o rockabilly? E os eventos?

Jamilly Belladona – Aqui em Londrina somos poucas. As maravilhosas Ju Lourenço e a Gardênia, que, inclusive, já foram Pin-Up do Mês no Universo Retrô, e as participantes do grupo Pin-Up Red Feet, as amigas Luciana Carbonieri e Edila Emmendoerfer. O grupo foi formado logo quando mudei para Londrina e já passou por várias formações. Este ano completamos 10 anos.

Sobre o Rockabilly, existem poucas bandas, mas a que sempre é parceira nossa é a Man Cats. Os eventos são criados por amigos adeptos do rock ‘n roll ou grupos de colecionadores de carros antigos. Importante citar o Londrina Classic Show e o Motor Clube de Ibiporã, que sempre apoiam e respeitam as Pin-Ups.

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Universo Retrô – Você aproveitou o cenário dos pontos turísticos de Londrina para fazer o ensaio para o Universo Retrô. Nos conte mais sobre as fotos e suas inspirações.

Jamilly Belladona – A inspiração veio através de um estudo sobre a foto icônica do beijo entre um marinheiro e uma enfermeira na Times Square, em 1945. O retrato celebra o fim da Segunda Guerra Mundial e ficou famoso mundialmente. Descobri várias fotos de encontros e despedidas de casais desta mesma época. Como em qualquer lugar e em qualquer época, até em meio à guerra, há momentos de amor. Assim me inspirei para fazer algo semelhante.

O local escolhido foi o Museu Histórico de Londrina, um local lindo, rico em detalhes e objetos de época. Tem a estação do trem, o vagão e muitos outros cenários lindos. O fotógrafo amigo que topou fazer algo totalmente diferente do que está acostumado foi o profissional Marcus da Realizarte Fotografias. 

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Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Universo Retrô – Quer deixar algum outro recadinho por aqui?

Jamilly Belladona – Agradecimentos especiais ao site Universo Retrô pelo convite. Vocês são referência neste universo, me senti lisonjeada. Gratidão ao meu marido Rodrigo Caldas, parceiro que sempre topa minhas ideias, te amo. Gratidão à Edméia, diretora do Museu Histórico de Londrina, por me permitir usar os espaços do Museu. Gratidão ao amigo Marcus da Realizarte, por ter a sensibilidade de captar minhas ideias.

Foto: Marcus Vinícius | Realizarte Fotografias

Ficha Técnica

Modelos: Jamilly Belladona e Rodrigo Caldas
Fotografia: Marcus – Realizarte Fotografias
Vestido verde: Brechohorror.
Mala de época: Espaço Retrô Londrina

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