Para abrir a série ‘Pin-Up do Mês’ do Universo Retrô, o primeiro destaque de 2024 fica por conta de Miss Cherry Page. Residente de São José, Santa Catarina, nossa Pin-Up do Mês de Janeiro coleciona diversos títulos, tanto no universo Pin-Up, como em sua profissão de historiadora. Grazi, como é conhecida pelos mais chegados, é Miss Santa Catarina Custom Show 2023 e vice-campeã do Miss Pin-Up Rock This Town Festival 2023.
Já a professora Graziele Amorim é Pós-doutora em Antropologia Cultural pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Doutora em História pela Universidade Federal de Santa Catarina e pela Universidade da Califórnia. Pesquisadora sobre a História do HIV/aids no Brasil e nos Estados Unidos, ela também é fã da rainha das Pin-Ups, Bettie Page, em quem se inspira para compor seu estilo.
Para o editorial do Universo Retrô, a diva catarinense se inspirou na sua profissão como professora e na paixão pelo universo das Pin-Ups para produzir fotos com a fotógrafa Jahnny Coelho (The Red Ripper). Confira a seguir o ensaio completo e nosso bate-papo com a diva catarinense:
Universo Retrô – Você mora em Florianópolis, certo? Nos conte o que acha da cena local?
Miss Cherry Page – Eu moro em São José, que faz parte da grande Florianópolis. Nasci aqui e morei a maior parte da minha vida nesta cidade cheia de praias, conhecida pelas lendas das bruxas. Já morei em outros estados e um tempo nos Estados Unidos para fazer parte do meu doutorado em História.
A cena local é muito marcada por estilos musicais sazonais, pelo grande fluxo de pessoas de outros estados. Ainda sim, existem redutos de bares que permitem trazer um pouco do estilo Pin-up, com shows de rockabilly. Umas das bandas que costumo apreciar é Joe Love and The Red Wings, que traz interpretações de Elvis Presley e Johnny Cash.
Universo Retrô – Como você enxerga a aceitação do estilo Pin-Up na sua cidade?
Miss Cherry Page – Atualmente o estilo Pin-Up por aqui não é muito visível. Eu e poucas Pin-ups nos lançamos em bares e encontros de carros para ter visibilidade. A recepção das pessoas é sempre carinhosa, mas também de surpresa, pela indumentária bem marcante. Sonho em conseguir reunir essas Pin-ups de Santa Catarina para encontros, pois acredito que isso poderá construir uma cultura local. E não falo isso, como se estivesse “inventando a roda”, porque sei que em momentos passados outras mulheres se reuniam, seja em encontros de tatuagens ou em shows para a fazer a cena. Talvez, meu maior desejo seja esta retomada de um cenário Pin-Up.
Universo Retrô – Você é professora de história, certo? Nos conte um pouco sobre sua trajetória nesta área.
Miss Cherry Page – Fui professora universitária pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte em Natal por um ano, quando morei lá e também lecionei na Universidade Potiguar, de 2019 a 2020. Minha jornada em Natal me fez mergulhar e me apaixonar mais pelo estilo Pin-up. Quando cheguei em 2018 em Natal, logo já conheci a galera do Rockabilly e tive o privilégio de ver bandas locais, como Dasta & The Smokin’ Snakes, que tocavam em bares na cidade. Desse momento em diante, eu tive certeza que tinha me encontrado. Aprendi muito com eles e outros amigos sobre música. Aliás, Natal é uma cidade rica em estilos musicais. Com certeza, música e história estão sempre juntos na minha jornada, até porque nas minhas aulas eu sempre trago um pouco desse aprendizado.
Fora esse período como professora universitária, lecionei por mais de dez anos para Ensino Fundamental e Médio. Atualmente encontrei minha paixão em lecionar para cursos de Ciências Humanas para o EJA (Educação de Jovens e Adultos). Sou Pós-doutora em Antropologia Cultural pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e doutora em História pela Universidade Federal de Santa Catarina e tive um período sanduíche do doutorado na Universidade da Califórnia, pois pesquiso sobre a História do HIV/aids no Brasil e Estados Unidos.
Universo Retrô – A sua profissão surgiu antes ou depois de adotar o estilo Pin-Up?
Miss Cherry Page – Minha profissão surgiu muito antes do estilo Pin-up. Desde adolescente eu tinha certeza que meu sonho era seguir a carreira de historiadora. No entanto, eu acredito que sempre fui Pin-up, porque sempre gostei de moda da década de 1950 e meu estilo por algumas vezes foi motivo de estranheza pelos meus colegas da escola.
Universo Retrô – Conta pra gente como começou o seu interesse pelo universo das Pin-Ups e da cultura vintage?
Miss Cherry Page – Meu interesse começou por conta da minha profissão de historiadora. Sempre fui muito curiosa em conhecer a história dos fatos e das pessoas. Desde a graduação, eu pesquisava em acervos, revistas e jornais antigos. Muita coisa da década de 1950 aparecia, como as atrizes de Hollywood, as peças publicitárias da época, que usavam as mulheres como objeto de contemplação, e no Brasil a década de 1960, com as revistas, que traziam muito sobre moda e o conjunto de crenças da época, não muito favoráveis às mulheres.
Eu acho que muitas vezes eu relutei em assumir a minha pin-up, porque na academia nós discutimos muito sobre como as mulheres eram utilizadas como objeto de desejo nas propagandas do Brasil e no mundo e isso me fazia ter uma crítica sobre o meu modo de ser. Eu pensava: como posso ser uma pin-up que transmite uma imagem de contemplação e ao mesmo tempo ser crítica dessa objetificação? Com o passar do tempo, eu deixei estas amarras de lado e passei a focar na alegria que minha Pin-up transmite.
Universo Retrô – Há quanto tempo aderiu ao estilo e qual foi a sua maior motivação?
Miss Cherry Page – Meu despertar de que eu fazia parte de um estilo e uma historicidade da estética Pin-up ocorreu em 2013, quando comecei acompanhar os concursos de Pin-ups do Santa Catarina Custom Show. Ali, percebi que no meu estado existiam mulheres que se vestiam de acordo com o que eu via nas antigas revistas, como a que tinha muita circulação no Brasil, O Cruzeiro.
No entanto, quando conheci as imagens da modelo Bettie Page, eu simplesmente entrei em transe. Eu me perguntava: como não conhecia essa modelo que foi a precursora da franjinha curta marcada e com os cabelos escuros? De 2013 a 2014 eu passei nove meses na Califórnia e lá mergulhei na história de vida dela e conheci lojas que vendiam objetos de reverência a modelo. Foi sem dúvida, minha entrada para o universo pin-up.
Universo Retrô – Além das referências de Bettie Page, como você definiria seu estilo?
Miss Cherry Page – Eu transito por muitos estilos, até porque depende do dia e como me sinto. Aos 41 anos não gosto de amarras a uma identidade, ainda que eu tenha adotado um nome artístico. Têm dias que gosto de ficar bem cheesecake, outros mais old Hollywood, por morar próximo à praia e amar a atmosfera da natureza eu gosto muito do Tiki, mas o mais próximo do meu estilo é o Rockabilly, porque parece que ele consegue trazer minha rebeldia à tona. E claro, a franjinha Bettie Bangs só intensifica a minha Pin-up.
Universo Retrô – Bettie era burlesca, já pensou em fazer apresentações neste estilo?
Miss Cherry Page – A minha maior referência de estilo, sem dúvida, surgiu a partir das poses e performances da nossa rainha das pin-ups, Bettie Page. Elas me inspiram muito e despertam o desejo de mergulhar neste universo burlesco. Eu fiz muitos anos de dança do ventre e Tribal Fusion, o que me faz pensar em performances que unificam os estilos, até porque existem dançarinas que realizam performances mais Pin-ups, como Michelle Manx. Minha retomada hoje para a dança do ventre tem o objetivo de me fazer uma pin-up que realiza esta fusão.
Universo Retrô – O estilo é algo que você leva para o seu dia a dia ou só para ocasiões especiais?
Miss Cherry Page – Quem me conhece no meu dia-a-dia, sabe que a pinupice tá grudada em mim. Do levar minha filha Maya à escola até a sala de aula para lecionar eu vou no estilo pin-up. Claro, que, por bom senso, não uso roupas tão marcantes, mas seja na maquiagem ou alguma peça de roupa vintage sou conhecida por ser estilosa. Nos shows eu me liberto e me visto de forma mais intensa.
Universo Retrô – Você é Miss Santa Catarina Custom Show 2023 e foi a segunda colocada do Rock This Town 2023 também. Como foi isso?
Miss Cherry Page – Eu leio que sou Miss e às vezes não acredito!Mas falo isso porque o Santa Catarina Custom Show foi meu sonho desde 2013. Eu tentei a seleção pela primeira vez em 2014, depois 2019 e somente em 2022 fui selecionada para compor o time. Lembro que no dia que recebi o e-mail com meu nome eu gritava e chorava de alegria. Para mim, foi como passar no vestibular, só que das Pin-ups! Em 2023, eu já próximo dos meus 41 anos, pensei: será que existe chance para que eu consiga ser selecionada e ainda Miss? Eu me empenhei e consegui realizar aquele sonho desde 2013, que foi ser a Miss do maior evento de customização de carros da América Latina.
Para minha surpresa, fui selecionada também pela segunda vez no maior evento de rockabilly do Brasil, o Rock This Town Festival, que teve sua primeira edição em 2022 e que eu tive a honra de estar entre as 15 finalistas nos dois anos, conhecer mulheres incríveis e claro curtir muito rockabilly. Logo após ser Miss por aqui em Santa Catarina, eu me joguei para concorrer novamente ao título e, para minha felicidade, eu conquistei o segundo lugar do concurso. Eu me senti muito lisonjeada porque acompanhei o evento desde o início e aprendi muito sobre música também nas minhas andanças em São Paulo.
Univeso Retrô – E tem ainda algum título que você almeja conquistar ou vai se aposentar dos concursos?
Miss Cherry Page – Eu almejo conquistar algum dia na minha vida ainda o título também de Queen of The Car Show, no maior evento do mundo de rockabilly, que ocorre em Las Vegas todos os anos. Quem sabe um dia eu também consiga! Sonhar é o que me motiva a correr atrás.
Ficha Técnica
Fotografia: Jahnny Coelho (The Red Ripper)
Modelo: Miss Cherry Page
Figurino: Tia Retrô e Lolita Pimenta
