Tatuadora Mirella Brizzi é a Pin-Up do Mês de Junho do Universo Retrô

Mirella Brizzi é o nome da Pin-Up do Mês de Junho do Universo Retrô. Tatuadora e proprietária do estúdio “Sítio”, localizado na Rua Augusta, coração de São Paulo, Brizzi é conhecida por seu estilo romântico, que mistura urbano e rural, vintage e contemporâneo, num mundo cor-de-rosa rodeado por plantinhas e gatinhos.

Foi estilista de uma antiga marca destinada à moda retrô na Galeria do Rock e apesar de uma velha conhecida da cena rockabilly e do universo retrô, foi em 2023 que resgatou sua paixão pelo mundo Pin-Up e se reencontrou na cena por meio de ensaios fotográficos. Confira nosso bate-papo com a bela a seguir.

Universo Retrô – 10 anos atrás, você era estilista e trabalhava para uma marca retrô da Galeria do Rock. O que te fez abandonar a carreira na moda e seguir para um mercado totalmente diferente, como o da tatuagem?

Mirella Brizzi – Sim, sou formada em moda e no começo me especializei em moda retrô, algo que era muito difícil de se achar aqui no Brasil na época, entretanto, por essa não ser uma profissão tão valorizada no nosso país, busquei outros meios de trabalhar com arte e ainda ter tempo, principalmente para ficar com minha filha. Sempre quis ter um trabalho no qual tivesse espaço para criar, e eu encontrei isso na tatuagem.

Universo Retrô – A propósito, você também é mãe de uma menina e um menino. Como equilibrar maternidade, carreira, estilo e tantas outras funções. Você já encontrou uma fórmula que funcione para você?

Mirella Brizzi – Eu acho que a primeira coisa a se entender é que não é possível ser a melhor em tudo, e conseguir fazer tudo ao mesmo tempo, então é preciso dividir a atenção quando necessário. Hoje, o meu trabalho me permite ter mais liberdade para ajustar minha agenda, então tento flexibilizar e ter tempo para ser mãe, profissional, pin-up, artista e tudo mais (risos). Quando eu preciso as crianças ficam na Sítio [estúdio] comigo e os clientes adoram conversar com eles, a Sofia já virou celebridade.

Inclusive, a Sofia foi minha companheira de Rockabilly desde o começo, com um ano ela já ia comigo no Shake Baby Bar, então tem muita gente que reconhece ela também, às vezes mais do que me reconhecem. Quanto ao estilo, a gente tem que fazer o que é possível com o tempo, às vezes tenho uma hora para me arrumar, às vezes tenho 20 minutos. Mas, eu gosto bastante de me arrumar e me sinto bem, então é algo que eu não consigo deixar de lado. Eu acredito que nossa imagem conta um pouco da nossa história, por isso estou todo dia aprimorando meu estilo.

Universo Retrô – Você construiu um estúdio de tatuagem na Rua Augusta, coração de São Paulo, que traduz super a sua personalidade. Conta pra gente um pouco dessa trajetória com a Sítio.

Mirella Brizzi – A Rua Augusta sempre foi um lugar especial para mim, passei boa parte da adolescência frequentando os bares, baladas e cafés, com o passar dos anos mais cafés do que baladas (risos). Acho que a Augusta foi e ainda é um local que acolhe a alternatividade, então como uma menina um pouco fora do comum, me sentia em casa. Na verdade, acho que a região do centro, no geral, tem um significado importante para mim, por isso sempre sonhei em ter meu estúdio por aqui.

A ideia da Sítio sempre foi ter um espaço acolhedor e acessível então nos mudamos algumas vezes. Mas, como nem tudo começa fácil, a primeiro Sítio começou em um quartinho lá de casa, na Zona Norte, e com o tempo foi crescendo até achar o espaço ideal como a que temos hoje. Já são quatro anos de Sítio e ela já passou por muitas transformações, principalmente no começo.

Se fizer as contas, pode perceber que comecei um pouco antes da pandemia, então, enfrentei muitos desafios logo cedo. Saindo do quartinho da minha casa, indo para um lugar maior e mais adequado com o medo de algo novo e totalmente incerto, e nos primeiros meses logo tivemos que fechar devido ao lockdown. Com o tempo, voltei a atender e a Sítio continuou a crescer, foi difícil, mas desde o começo sempre tive o apoio dos meus clientes maravilhosos, que hoje muitos se tornaram meus amigos.

Universo Retrô – Nas redes sociais podemos notar seu interesse por plantas e gatos. O nome Sítio vem daí? Conta um pouco sobre essas paixões.

O nome Sítio veio na verdade da ideia de como eu queria que as pessoas se sentissem no estúdio. Na minha infância morei em um Sítio em Caraguatatuba com os meus avós, foi um dos lugares onde me senti mais acolhida no mundo; adorava cuidar das plantas com meu avô e comia bolinhos na cozinha conversando com minha avó. Então, o espaço como uma casa de vó sempre foi minha ideia física e afetiva da Sítio.

As pessoas sempre param para perguntar o que é a Sítio porque não parece um estúdio de tatuagem da semiótica que a gente está acostumado, no qual tudo é muito padrão, escuro e masculino. Meus clientes reconhecem a Sítio e sua estética de longe, e eu sempre recebo comentários como: ‘’Queria morar aqui’’, ‘’Me sinto bem aqui’’, ‘’Muito bom para tomar um cafezinho”, pensando no processo da tatuagem, pode ser estressante para muitas pessoas, então o ambiente acolhedor faz toda diferença.

Sempre fui ligada à natureza, minha primeira amiga na escola era uma árvore que eu passava horas conversando e contando sobre meu dia, então eu sempre tive uma ligação com a natureza e os animais, essa relação sempre me acalma por isso tento estar cercada por plantas. Sempre sonhei em ter bastante animais em casa, e como me identifico bastante com os gatos, tenho 5 deles. Além de ser vegetariana, adotar gatos resgatados foi minha forma de ajudar um pouco a causa animal.

Universo Retrô – Tanto no seu estilo pessoal, como na decoração do estúdio, vemos várias misturas de referências, como urbano e rural, vintage e contemporâneo, romântico e empoderado. Fala pra gente sobre essas misturas tão opostas.

Mirella Brizzi – Eu acho que a gente não é apenas uma coisa, então temos que nos permitir ser essa mistura. Hoje não me apego mais tanto à moda como antes, acabo usando tudo que gosto de uma forma que funcione. Como eu disse antes, sua roupa depende muito da história que você vai contar no dia, então a moda é uma maneira de fazer isso. Talvez por conta disso não consigo escolher uma roupa no dia anterior, tudo depende muito de como acordo.

Acabo sempre indo para o romântico, rosa, flores, plantas, porque são as coisas que mais gosto e representam melhor a minha personalidade, mas, por exemplo, posso ser uma moça romântica e delicada ao mesmo tempo forte e empoderada. Temos o costume de associar o feminino à fraqueza e eu gosto de mostrar o contrário, nós mulheres temos que ser muito fortes, principalmente, nós mães; pra mim feminilidade é sinal de força.

Universo Retrô – No primeiro calendário de Pin-Ups do Universo Retrô, em 2016, você foi uma das Pin-Ups cotadas para participar do projeto, pois era uma das poucas meninas que seguiam este estilo em São Paulo. Sua participação na época acabou não acontecendo e sentimos um certo afastamento seu da cena rockabilly e dos holofotes do universo Pin-Up, porém, este ano você tem voltado a fazer ensaios fotográficos. Nos conte um pouco sobre suas motivações, tanto para se afastar da cena como para voltar?

Mirella Brizzi – Comecei no Rockabilly em 2011, muito por influência da saudade do meu avô, encontrei um pedaço dele nas músicas e no estilo, isso sempre foi muito forte em mim. Acredito que a cena Rockabilly não era tão acolhedora quanto felizmente é hoje, acabei passando por muitas situações desconfortáveis e tive um relacionamento muito tóxico na mesma época, isso fez com que eu tirasse o foco das coisas boas que eu sentia na cena, por isso resolvi me afastar. Mas, quando a gente gosta de algo e se sente bem, acabamos voltando.

Esse ano fui na festa de 19 anos da Pin-Ups Party, que sempre foi minha preferida, e foi a primeira que tive contato em 2011, depois dessa festa decidi resignificar minha paixão pela cena, acho que hoje mais madura eu consigo focar nas coisas boas, mais leves e divertidas.

Universo Retrô – O seu ensaio foi produzido pelo projeto Classic Me Up, que costuma trabalhar com ensaios coletivos. Vimos que participou recentemente de algumas ações deles. O que tem achado desse tipo de modalidade?

Mirella Brizzi – Sempre que encontro a Sandra, a organizadora do Classic Me Up, eu digo quanto o trabalho dela é importante. A primeira vez que tive contato com ela foi em um Workshop de Beleza Vintage, no qual foi minha porta de reentrada ao universo Pin-Up. Vejo muitas pessoas fazendo um trabalho fotográfico lindo com modelos Pin-Ups e o projeto da Sandra por ser coletivo, torna acessível esse trabalho. No último encontro fiz amizades que foram muito importantes para mim, então, além das fotos é também sobre encontros e trocas.

Universo Retrô – Também te vimos produzindo um ensaio autoral recentemente com duas amigas. Podemos dizer que Mirella Brizzi Pin-Up voltou pra ficar?

Mirella Brizzi – Lendo essa pergunta, a primeira coisa que penso é que tenho que arranjar um nome de Pin-Up, acho que estou precisando de um batismo (risos). Eu acredito que sim, voltei para ficar, os ensaios Pin-Up me despertam a criatividade, um lugar que posso voltar a brincar com moda e produção, que são duas coisas que eu amo e acabei deixando de lado com o tempo. Eu sempre gostei de Pin-Ups por não ter um padrão para seguir, somos nós mesmas, só que mais produzidas, sendo assim me ajuda também na questão de autoestima e da auto imagem.

Universo Retrô – Se pudesse escolher um ícone de estilo que mais te inspira, quem seria?

Mirella Brizzi – Acho que vou ter que roubar nessa pergunta, por que escolher apenas uma é muito difícil, eu começo escolhendo as Pin-Ups do Gil Elvgren que são as mais clássicas e a Pin-Up Hilda que foi uma das primeiras modelos Pin-Up plus-size, mesmo que sendo apenas uma ilustração. E não posso terminar sem citar Bettie Page, que tenho tatuada na pele como a maior inspiração de beleza libertadora.

Estou sempre tentando também me inspirar nas mulheres reais e locais, valorizando a cultura brasileira e a brasilidade dentro do estilo Pin-Up, para construirmos juntas um cenário referência, tanto para novas modelos quanto para antigas. Volto a dizer que a troca e o acolhimento são muito necessários para essa construção.