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Lygia Fagundes Telles, um dos maiores nomes femininos da literatura brasileira

4 de abril de 2022, por Leila Benedetti
Lifestyle
Lygia Fagundes Telles

Tal qual Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles é outro nome muito bem mencionado nas provas de vestibular quando o assunto é a literatura brasileira. A escritora, que se consagrou nos anos 50, morreu neste último domingo (3), aos 103 anos, de causas naturais. Como a redatora não publica nada aos domingos, vamos relembrar sua trajetória nesta segunda. 

Início

Nascida em São Paulo no ano de 1919, Lygia era a caçula de quatro filhos, frutos do casamento entre uma pianista e um advogado. Por conta da carreira de seu pai, sua infância foi marcada por mudanças para várias cidades do estado, entre elas Apiaí, Assis, Itatinga e Sertãozinho.   

Sua paixão por elaborar, escrever e contar histórias surgiu ainda na infância por conta de suas babás, que tinham um vasto repertório de lendas folclóricas. Ainda, essa paixão se intensificou ainda mais quando passou a ter aulas de literatura no ensino fundamental, além de ter recebido o incentivo dos amigos escritores Carlos Drummond de Andrade, Edgard Cavalheiro e Érico Veríssimo. Já aos 15 anos, Lygia escreveu seu primeiro livro de contos, Porão e Sobrado (1938), financiado pelo pai e bem recebido pela crítica da época. 

Aos 18 anos, ela começou a cursar Direito na USP e se descobriu uma moça à frente de seu tempo ao desafiar o machismo vivido em sala de aula, predominada por homens, e conseguir se formar em 1945. Um ano antes de conquistar o diploma, ela publicou seu segundo livro de contos, Praia Viva (1944). Três anos depois de se formar, foi publicado O Cacto Vermelho (1949), no qual recebeu o Prêmio Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras. 

Porão e Sobrado
(Primeira obra da escritora. | Foto: Wikimedia Commons)

Ciranda de Pedra e ascensão

Em 1952, já casada com Gofredo Teles Júnior, um de seus professores da faculdade e de onde veio seu famoso sobrenome, ela começou a escrever seu primeiro romance, Ciranda de Pedra, que só foi publicado dois anos depois.

Essa obra foi o qual tornou Lygia famosa nacionalmente, a ponto de ser considerada pelo crítico Antonio Cândido “um marco de sua maioridade como escritora”. Já a própria escritora, uma crítica severa de seus trabalhos anteriores, a considerou “sua estreia na carreira”. Houve também elogios por parte de outros nomes, como o próprio Carlos Drummond. Inclusive, foi adaptado para novela pela Rede Globo, além de virar questões de vestibular, décadas depois. 

Depois desse pontapé, ela publicou outros sucessos, como Histórias do Desencontro (1958), Verão no Aquário (1963) e o roteiro para cinema Capitu (1968), em parceria com seu segundo marido, o cineasta Paulo Emílio Sales Gomes, e baseado em Dom Casmurro, de Machado de Assis. Já nos anos 70, a escritora ganhou reconhecimento internacional, com suas obras traduzidas e publicadas em várias línguas e recebendo importantes prêmios ao redor do mundo, além de ser uma das autoras do Manifesto dos Intelectuais, que protestava contra a Ditadura Militar.  

Ciranda de Pedra
(O romance que consagrou a carreira de Lygia e virou novela décadas depois. | Foto: Reprodução)

Da época  em que entrou para a Academia Brasileira de Letras até hoje

Os anos 80 foi uma década marcada por títulos importantes. Em 1982, Lygia foi eleita para a cadeira 28 da Academia Paulista de Letras. Já em 1985, ela conquistou a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras, sendo a terceira mulher da história a entrar para a entidade. Mas, mesmo com esses títulos, ela continuou com suas obras, tanto em romances e contos como adaptações para cinema, televisão e teatro. Entre elas estão o romance As Horas Nuas (1989), Oito Contos de Amor (1996) e as adaptações para o cinema e teatro As Meninas (1995).

A escritora publicou obras até 2012, sendo a sua última Um Coração Ardente. Já nos anos seguintes até sua morte ela recebeu homenagens e participou de premiações, como uma indicação ao Prêmio Nobel de Literatura pela União Brasileira de Escritores em 2016. Lygia Fagundes Telles morreu em sua casa e seu corpo, que foi velado na Academia Paulista de Letras, será cremado no cemitério da Vila Alpina em uma cerimônia restrita para a família. Nesta próxima quinta-feira, a Academia Brasileira de Letras fará a homenagem Sessão da Saudade no Salão Nobre da sede. 

Lygia Fagundes Teles
(Lygia Fagundes Telles em seus últimos anos. | Foto: Mario Rodrigues/Veja SP)

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