Na vitrine, uma cadeira Koken da década de 1880. Na porta, um polo sinalizador de barbearia. No interior, uma mulher manuseia a navalha. Algo errado? Talvez a idade da cadeira que, por ser muito antiga, impossibilitou saber com precisão sua data de fabricação. Foi-se o tempo em que “dar um google” no termo “barbeira” trazia somente imagens de mulheres ao volante. Aqui, quem comanda a navalha é Florence Louise Gaby, uma profissional de mão (e agenda) cheia que conta um pouco da sua trajetória ao Universo Retrô.
Atuando como barbeira há quatro anos, Flor, como é conhecida, começou sem pretensão aos quinze como auxiliar de cabeleireiro. Estudou Moda e Estilo na Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS), mas foi no curso à distância de Hair Design pela Pivot Point Academy, dos Estados Unidos, que se especializou na famosa trinca barba, cabelo e bigode.
Decoração retrô da barbearia (Foto: Monique Angeli)
Mudou-se para a Caxias do Sul (RS), no início de 2016 e logo surgiu a oportunidade de trabalhar em um dos salões mais badalados da cidade, o Estúdio Jefferson Hoffmann, que há dois anos inaugurou a Barbearia JH. A instalação encontra-se no interior do estúdio e possui apenas dez metros quadrados, mas o tamanho é mero detalhe perante a belíssima decoração. Objetos retrôs dividem espaço com produtos de beleza sob um harmônico projeto de iluminação. O charmoso layout está alinhado com o conceito da barbearia, que mescla os estilos tradicional e moderno, criando uma atmosfera de bem-estar.
No Brasil, o boom das barbearias clássicas deu-se em 2013, mas elas continuam brotando nos quatro cantos do país, suprindo uma demanda cada vez maior de homens que adoram cuidar do visual, mas que preferem um ambiente masculino. No caso da Barbearia JH, os clientes que já frequentavam o salão somente migraram de um andar para outro, encontrando, assim, um espaço exclusivo, “Com um toque feminino”, pontua Flor, enquanto apara a barba de um cliente.
Decoração retrô da barbearia (Foto: Monique Angeli)
É inevitável perguntar sobre o preconceito, tanto por parte de colegas quanto de clientes, e a resposta vem tranquila, assim como a entrevistada: “A bandeira que eu levanto é estudar cada vez mais para atuar cada vez melhor. E fazer tudo com muito amor. É claro que enfrento alguns percalços, mas da mesma forma que qualquer profissional. Acredito que executar um excelente trabalho é a melhor atitude contra o machismo”.
Quando questionada sobre suas inspirações, cita prontamente a barbearia holandesa Schorem Haarsnijder & Barbier, referência no estilo e que, inclusive,estará em turnê pelo Brasil em novembro, passando pelas capitais Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Ela já garantiu vaga no evento da capital gaúcha, lógico.
Detalhes da decoração retrô da barbearia (Foto: Monique Angeli)
Flor também faz parte de um projeto nacional chamado Bastard Barbers, que consiste em uma turma de barbeiros que se uniu em prol da profissão, sendo a única representante da Serra Gaúcha. O grupo promove eventos e workshops em todo o país com o intuito de fortalecer a imagem do profissional e trocar experiências.É um projeto muito interessante, então vale a pena conferir.
A ideia inicial era escrever uma matéria com foco no empoderamento feminino e a presença da mulher em profissões ocupadas há anos por homens. Mas após alguns minutos de prosa, ficou claro que relatar sua trajetória profissional já era suficiente para dar o recado. Assim como os profissionais da Schorem, Flor afirma que “barbering is not a job, it’s a lifestyle”. É exatamente essa imagem que carregamos quando saímos de seu estúdio: uma pessoa que encontrou no estilo de vida uma vocação. Traduzindo: isso é girl power!
Visual vintage da barbeira Florence Gaby (Arquivo Pessoal)
SERVIÇO
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